Resenha: Cidades afundam em dias normais | Aline Valek

Título: Cidades afundam em dias normais

Autor: Aline Valek

Editora: Rocco

Sinopse: Cidades não reaparecem do fundo de lagos todos os dias. Quando a seca do Cerrado revelou Alto do Oeste, cidade que ficou submersa no início do milênio, Kênia Lopes soube que precisava fotografar as ruínas, como se em busca da resposta para uma questão jamais respondida: o que faziam os moradores enquanto aquele pequeno apocalipse se aproximava?

Esta exposição reúne os relatos e rostos que Kênia captou em uma investigação que mudou dramaticamente o foco de seu trabalho, justamente por ter sido um projeto tão pessoal: Kênia crescera em Alto do Oeste. Conhecia todas as pessoas que retratou.

Uma professora de História obstinada em preservar memórias. A jornada artística de um grafiteiro. Um padre náufrago. Um argentino tentando entender um idioma cheio de ruídos e feridas. Uma jovem escrevendo o fim do mundo enquanto ele acontecia. Em cada história, a tragédia do povo alto-oestino apresenta-se como um espelho que reflete as tragédias que se infiltram em nosso cotidiano, nos buracos abertos pelo abandono e pela violência.

As fotografias de Kênia, como se fossem pinturas encontradas em uma caverna, parecem exigir a participação do nosso olhar para buscar as respostas. Se a verdade desaparece no instante em que é registrada, como podemos determinar o que realmente aconteceu? As galerias a seguir nos provocam com um lembrete: se uma cidade inteira pode afundar, talvez a memória seja o único lugar onde podemos permanecer.

Resenha


"Cidades afundam em dias normais" é um livro bem intrigante. Com um título que causa reflexão, o livro retrata a redescoberta de uma pequena cidade que acabou submersa durante quase 20 anos, e que agora, ao ressurgir, atrai velhos moradores e turistas, para um ambiente ainda em reconstrução, cheio de curiosidades e histórias.


Kênia é uma fotografa que decide ir à cidade, com um colega, e registrar o local. Mas ela carrega uma questão pessoal com Alto do Oeste, já que morou na cidade até pouco tempo antes de ela sumir por completo.


Entrevistando antigos moradores, e conhecidos, ela busca mostrar o processo de submersão da cidade, mas a memória é algo complicado, e muitas vezes determinados fatos ficam perdidos em meio a outras situações bem mais impactantes para cada um.
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Como comentei no início, esse foi um livro que me deixou bem curiosa. A ideia de uma cidade acabar submersa aos poucos, e anos depois aparecer novamente, levanta várias perguntas e faz a nossa imaginação voar longe. Mas se você acha que o foco do livro é mostrar como isso aconteceu, vai se surpreender aqui. Esse fato é apenas um ponto secundário, porque o principal desse livro é mostrar as relações humanas. Temos vários personagens entrevistados, e cada um deles tem um relato sobre sua vida durante a época.


Há personagens que precisam lidar com o abandono dos pais, dos amigos, e da sociedade.
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Problemas estruturais da época, são retratados aqui, principalmente através de jovens, que agora são adultos, e que por algum motivo, decidiram voltar a uma cidade que parece não ter nada a oferecer no momento. Mas porque então eles voltaram? Para uma cidade sem energia, com locais ainda alagados ou submersos, sem escola, banco ou qualquer ambiente comum a uma cidade? É aí que entra a questão da memória. E como somos moldados por aquilo que vivenciamos ou que lembramos de uma forma nem sempre real.
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É um livro mais devagar, que não carrega uma história única e linear, mas que traz uma mensagem bem legal, e que mostra a nossa realidade, e o que não faz sofrer ou crescer.

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