Filmes: A Casa dos Sonhos

Quando o nome de Jim Sheridan aparece pela primeira vez na projeção de “A Casa dos Sonhos”, muitos devem se perguntar: “é o cara que dirigiu ‘Meu Pé Esquerdo’ e ‘Em Nome do Pai’? Então, deve ser um bom filme com um enredo bem construído e picos dramáticos distribuídos de forma sensata”. No início dos créditos finais, quando seu nome surge pela segunda vez, a pergunta é outra:“será que é o mesmo diretor? Não é possível que esse filme tenha saído daquela cabeça”. E vamos para casa com a certeza de que até os grandes nomes cometem seus deslizes.
Aqui, Sheridan foi soterrado por um filme tão insosso, sem propósito e mal construído, que o próprio cineasta solicitou que seu nome fosse retirado dos créditos. A Associação dos Diretores Norte-Americanos não aceitou o pedido, nem com as explicações de que os produtores haviam reeditado o longa de modo que o enredo foi completamente distorcido, e suas credenciais continuaram lá, para sua vergonha e nossa desconfiança repentina. Talvez essa breve introdução já seja suficiente para que você, caro leitor, perceba o quanto esse filme não causou nenhuma boa impressão ao que vos escreve. Caso ainda queira explicações, vamos aos motivos.
A premissa da velha casa assombrada por espíritos deixados por antigos moradores que tiveram suas vidas violentamente encerradas, por mais manjada que possa parecer, continua funcionando e trazendo bons resultados. Passando por filmes como “O Bebê de Rosemary”, “O Iluminado” e “Os Outros”, não é difícil concluir que uma trama bem pensada, com situações que aos poucos revelem a origem do mistério aos protagonistas – de modo que nós já estejamos um ou dois passos à frente – são requisitos essenciais para um resultado positivo. Na medida em que os segredos são esclarecidos, são inseridos alguns sustos para manter alta a carga de adrenalina dos espectadores. Não é uma receita simples, mas nas mãos de alguém como Sheridan é possível imaginar que ela seria bem executada.
Mas não encontramos nada disso, embora a sinopse sugira uma história pelo menos curiosa: um editor bem-sucedido (Daniel Craig) larga o emprego para aproveitar melhor o tempo com a esposa (Rachel Weisz) e as duas filhas em uma cidadezinha de grandes casas de madeira e ruas tranquilas. Após a mudança, descobrem que o novo lar foi cenário de um crime que chocou a região, com a morte de uma mãe e seus filhos, e cujas suspeitas recaem sobre o marido desaparecido. Ao mesmo tempo, a família percebe que estranhas pessoas rodeiam a casa no meio da madrugada, e que até a polícia apresenta um comportamento estranho. Apesar de interessante, o mistério que envolve a narrativa é conduzido de forma infantil e apressada – o filme tem 90 minutos de duração – com revelações acontecendo sem que o fio condutor daquelas novas verdades seja apresentado.
E tudo acontece de forma tão acelerada que o filme ganha uma estrutura quase episódica, com fatos isolados, sem uma contextualização adequada, e que servem para dar prosseguimento ao relato, explicar os mistérios e conduzir até o desfecho. No meio de tantos segredos pouco explorados, nem o fabuloso elenco composto por Daniel Craig, Rachel Weisz e Naomi Watts consegue adicionar alguma consistência ao longa, e até mesmo o potencial desses nomes parece ofuscado pela inconsistência da história.
O resultado final de “A Casa dos Sonhos” não é pior pelo efeito de algumas surpresas que são apresentadas em seus últimos minutos. Após a grande revelação final, porém, a explanação dos motivos que levaram ao seu acontecimento é tão precária que volta a mergulhar o filme na mais profunda escuridão. E quando levamos em conta o roteiro apressado, a direção sem novidades, a exagerada penumbra dos cenários e o desempenho abaixo da média dos atores, percebemos que é essa escuridão é mais que merecida.


por: cassia rebeca

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