Resenha: Precisamos Falar Sobre o Kevin | Lionel Shriver



                                                          Título: Precisamos falar sobre o Kelvin
                                                          Autor: Lionel Shriver
                                                          Editora: Intrínseca
                                                          Classificação:
                                                          Número de páginas: 463



Sinopse:    
 

Para Falar de Kevin Khatchadourian, 16 anos - o autor de uma chacina que liquidou sete colegas, uma professora e um servente no ginásio de um bom colégio dos subúrbios de Nova York - Lionel Shriver não apresenta mais uma história de crime, castigo e pesadelos americanos. Arquitetou um romance epistolar onde Eva, a mãe do assassino, escreve cartas ao pai ausente. Nelas, ao procurar porquês, constrói uma meditação sobre a maldade e discute um tabu: a ambivalência de certas mulheres diante da maternidade e sua influência e responsabilidade na criação de um pequeno monstro.

   Com argúcia, a mãe relata lembranças de seu relacionamento com Franklin, um americano-padrão. Relembra sua decisão de abandonar suas funções de fundadora e principal executiva de uma bem-sucedida empresa de guias de turismo alternativo. Descendente de armênios e cidadã do mundo, Eva reexamina tudo: desde o medo de ter um filho ao parto do bebê indócil que assustava as baby-sitters. Mostra o garoto maquiavélico que dividia para conquistar. exibe o adolescente que deixava provas de péssima índole, centrado apenas em sua coleção de vírus de computadores e exercícios de arco-e-flecha, e também a felicidade de ter, depois do primogênito, uma filha desejada e amável. 

   Exilada em memórias ainda mais tenebrosas que textos de matérias e imagens de documentários, Eva Khatchadourian elenca detalhes sórdidos da trajetória familiar com uma escrita magnética. Não esquece o balanço honesto das perdas e ganhos ao ter uma criança, a confissão de seus próprios desvios de comportamento, os arquétipos paternos das famílias privilegiadas dos Estados Unidos, descendo ao inferno dos subúrbios afluentes.

   Ao sacudir o leitor entre culpa e empatia, retribuição e perdão, Precisamos falar sobre o Kevin discute casamento e carreira; maternidade e família; sinceridade e alienação. Denuncia o que há com culturas e sociedades contemporâneas que produzem assassinos mirins em série ou pitboys. Com isso, a autora nos carrega em um thriller psicanalítico onde não se indaga quem matou. Revela quem e o que morreu enquanto uma mãe moderna tenta encontrar respostas para o tradicional onde foi que eu errei? Ao discutir a culpa na criação de um monstro, a narradora desnuda assombrada uma outra interdição atávica: poderíamos odiar nossos filhos?

   Resenha: 

  O livro trata de uma chacina, bastante comum em escolas americanas de classe alta, produzindo assassinos-celebridades a partir dos anos 90. 
   Através de cartas endereçadas à seu marido, Eva descreve sua trajetória de vida desde o início de seu relacionamento, incluindo as dúvidas no momento de decidir ter um filho, reduzir os compromissos  numa carreira de muito sucesso, mudar para um local mais apropriado para criar um menino saudável, até o momento da adolescência deste filho que sempre se mostrou de difícil relacionamento.

   "'É de dar desespero!' Siobhan estava exasperada. 'Ele faz a mesma coisa quando está no cadeirão, com cereal, com mingau, com bolacha salgada... Com a comida toda dele, joga tudo no chão, não faço idéia de onde ele tira tanta energia!!'"

  Usando uma narrativa bastante sincera, a mãe escreve todas as cartas em forma de confissão, tornando a leitura muitas vezes desconcertante. E assim vários fatores vão sendo discutidos, como a superproteção, a culpa, a dificuldade de diálogo entre pais e filhos, além de impressões sobre atitudes más que nos levam a refletir quanto à presença e evolução da maldade na personalidade de um ser humano desde a infância.

   "De início, ele me pôs à prova de várias formas, como se estivesse treinando um urso de circo. Ele pedia algo elaborado para o almoço, como por exemplo pizza feita em casa, e depois de eu ter passado a manhã toda preparando a massa e cozinhando o molho, ele pegava duas rodelas de linguiça peperoni de suas fatias e amassava o restante numa bola glutinosa de beisebol para atirar na pia. Mas acabou se cansando da mãe, tão rápido quanto se cansava dos outros brinquedos, o que, imagino, foi sorte minha."
   O que chamou muito a minha atenção foi o fato de Eva sempre considerar sua relação com o filho um embate, uma guerra. Confesso que fiquei aliviada ao conferir que a história é ficctícia, pois ainda reluto muito em acreditar que os sinais de má índole são visíveis desde a primeira infância.
 
Impactante e surpreendente até o final, um livro que choca e prende até os últimos parágrafos.
   
   
                                                                       Onde comprar:  Livraria Saraiva | Livraria Cultura

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Um comentário:

  1. É bem o que você escreveu, surpreende até o FINAL.
    Perfeito esse livro!

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