Crítica: Independence Day: O Ressurgimento | Roland Emmerich

Independence Day: O Ressurgimento (Independence Day: Resurgence, EUA, 2016)
Direção: Roland Emmerich
Roteiro: Roland Emmerich, Dean Devlin, Nicolas Wright
Elenco: Liam Hemsworth, Jeff Goldblum, Bill Pullman, Maika Monroe, Sela Ward, William Fichtner, Brent Spinner
Duração: 120 minutos
Classificação:

Sinopse: Assim como no tempo real, se passaram vinte anos desde os eventos cataclísmicos que quase provocaram a extinção em massa dos seres humanos. A humanidade colocou suas enormes diferenças internas de lado para se concentrar em proteção com ameaças vindas do espaço. Contando com a ajuda involuntária das tecnologias sucateadas dos aliens, houve um salto tecnológico expressivo. A Terra mais se parece com uma utopia, a conquista da lua já se tornou uma realidade assim como a viagem rápida, de pouco custo, para o espaço.


Porém, sobreviventes que tiveram contatos imediatos com os alienígenas durante a invasão profetizam sobre seu inevitável retorno – e como os homens perderão a guerra dessa vez. Nisso, novos heróis são apresentados assim como outros personagens queridos do filme passado marcam seu retorno expressivo. Felizmente, para nós espectadores, os profetas estavam certos, porém há uma diferença entre essa invasão se comparada com a do clássico: dessa vez, os alienígenas levaram a luta para o pessoal. Não se trata mais de dominação global, mas sim de extermínio cirúrgico e rápido. Cabe agora à nova brigada de proteção mundial dar cabo aos planos dos invasores mais uma vez.



Resenha

Um dos pontos mais altos da explosiva carreira do alemão Roland Emmerich se deu com Independence Day lançado em 1996. Mesmo considerado um filme medíocre na época, conseguiu angariar uma legião de fãs com sua temática que devolveu o destaque para as invasões alienígenas. O sucesso foi tremendo, porém, mesmo sendo muito requisitada, uma sequência não era ordenada pela Fox. Em 2014, finalmente foi anunciado o tão aguardado novo filme e agora, vinte anos depois da estreia do original, ele chega aos cinemas. E, surpreendentemente, trata-se de um bom filme, muito autoconsciente de suas próprias limitações narrativas.

Assim como tantos outros blockbusters, o novo Independence Day é escrito por um batalhão de roteiristas, porém dois nomes importantes do original retornam: o próprio diretor Roland Emmerich e Dean Devlin. Logo há certa ênfase no trabalho com os personagens já conhecidos como David Levinson, presidente Whitmore e Brakish Okun. Os melhores momentos do filme ainda permanecem com eles. Tudo melhora por conta das energéticas interpretações de Jeff Goldblum, Bill Pullman e Brant Spiner que claramente se divertem com o trabalho. Inevitável então, acabarmos nos divertindo as besteiradas apresentadas ao decorrer das ligeiras duas horas de projeção. Aliás, é impressionante a habilidade em reapresentar personagens já esquecidos para os espectadores que só viram ao primeiro filme apenas uma vez. Todas as introduções se explicam por meio da força das imagens e, em último recurso, com algum flashback. A ausência de Will Smith aqui não chega a ser sentida.

A dupla acertou em renovar o subgênero do disaster movie, já um tanto batido. Os núcleos clássicos centrados em paramédicos, bombeiros, policiais ou de outras profissões nem tão interessantes são rapidamente deixados de lado. Assim, nos concentramos nos arcos dos militares e dos cientistas que se convergem até se tornarem um só ao clímax. A verdade é que Emmerich trabalha muito melhor sua narrativa de diversos pontos de vista já abandonando, muito acertadamente, as manias de roteiristas em desenvolverem uma jornada de herói clássica.

Como havia dito, Emmerich aprendeu com 2012, um pretenso drama no fim do mundo. Aqui quem manda é a diversão e nisso ele acerta 100% das vezes. A história do longa é raquítica, o pouco do drama que existe sempre é diluído em atos de heroísmo através de planos militares que também são resolvidos com facilidade – isso não torna a jornada para a vitória mais rápida, claro.

Nessa nova abordagem dos alienígenas, o texto trata a história com muito mais urgência do que a vista no clássico. Tudo se passa em questão de poucas horas dentro do dia de 4 de julho. Os aliens estão muito mais agressivos, mas emboscando os humanos com planos um tanto engenhosos, pacientes, para um filme desse porte. Os novos personagens conseguem segurar as pontas também, mantendo o mínimo interesse do espectador – personagens clichês na verdade, mas sendo autoconsciente, Emmerich opta sempre por inserir um drama ou romance básico aliado a explosivas cenas de ação que com certeza te distraem dessa notória deficiência.

Os poucos problemas são já muito típicos ao gênero e aos filmes de Emmerich. Temos muitas conveniências de roteiro, algumas pontas soltas, exposição além da conta, auto explicação de situações em cena o desperdício de boas ideias e também na falha em explicar porque raios os alienígenas levaram vinte anos para vingar seus mortos quando se pode cruzar o espaço em um piscar de olhos. Aquela verdade universal dos blockbusters também se faz valer aqui: se acabar pensando demais sobre o que foi visto, nada fará sentido e o filme perderá seu brilho. Na hora, é uma história eficiente que se amarra de modo razoável. 

Para o filme realmente se carregar, muito se deve à direção de Roland Emmerich que parece ter entendido que seu estilo não é o melhor do mundo. Temos aqui o melhor trabalho dele em anos por conta de não ficar insistindo nas suas marcas autorais duvidosas, mas sim copiando o estilo de outros cineastas conceituados. A primeira parte do longa – a melhor, apresenta núcleos que remetem Indiana Jones com uma aventura no Congo e outras aventuras espaciais na base lunar.

O cineasta favorito para mimetizar tanto em decupagem como atmosfera é Steven Spielberg. É impossível negar a semelhança desse trabalho de câmera de Emmerich com os feitos que Spielberg fizera com Jurassic Park – muito disso é visto no clímax. A movimentação do aparato é muito bem definida, as composições fogem do visual sem graça que os blockbusters vem trazendo, a fotografia é diversa, saturada na medida certa e muito bem encorpada com distintos jogos de luzes e sombras – alguns parecidos até com Alien, o Oitavo Passageiro, além de contar com diversos planos de contemplação do olhar dos personagens para a catástrofe causada pelos invasores. Tudo isso é muito próprio ao querido cineasta Spielberg, mas ele não copia somente o estilo deste realizador em particular.

Referências que passeiam nas batalhas intergalácticas de George Lucas e J.J. Abrams, assim como já explora o estilo de destruição pós-cataclismo que Gareth Edwards exibiu com Godzilla de 2014, além de um que de Guillermo Del Toro com Pacific Rim. Na longa sequência de destruição global, então, sim, finalmente Emmerich mostra o que sabe fazer de melhor. Os efeitos visuais nunca foram tão eficientes e bem empregados em uma obra desse gênero. Fica explicito ali porque nunca entregaram a sequência antes – faltava a tecnologia necessária para emular efeitos tão complexos e majestosos. Até mesmo o efeito 3D, tão banal em diversas produções, é empregado com maestria. Uma pena que tenhamos tão poucas sequências de destruição em massa para este filme.

Nisso, também há o ótimo exercício de linguagem nas sequencias de ação. É fácil entender os confrontos aéreos entre os humanos e os aliens por mais ligeira e histérica que a montagem fique. Pelo fato de Emmerich não ser preguiçoso, temos o deleite de observar diversos pontos de vista que poderiam gerar uma grande confusão visual, mas que acabam se unindo muito bem pela montagem orgânica. Assim como seus atores, o diretor trabalha com muita paixão pelo que está construindo para nós. Portanto, carisma é o que não falta aqui. As únicas vezes que ele erra feio acontecem quando o diretor volta para os tempos de 2012 com piadas visuais que só conseguem arrancar risos de crianças que ainda estão nas fraldas.

Não lhe engano, caro leitor. Independence Day: O Ressurgimento com certeza não é um excelente filme, mas eu me diverti um bocado com a ação e a comédia deste longa tão autoconsciente. Cada vez mais vejo que obras despretensiosas caem no gosto do público e nesse caso, espero acertar de novo. Trata-se de entretenimento de muito boa qualidade mesmo que figure uma história nada fantástica, mas que, por competência, não cai nas tradicionais armadilhas do gênero. Se procura um bom filme de ação, repleto de efeitos visuais da mais alta qualidade, não há obra melhor para se conferir nos cinemas nesse fim de semana. Os fãs do original nada tem a temer com essa nova obra.

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