Caça-Fantasmas
(Ghostbusters,
EUA, 2016)
Direção: Paul Feig
Roteiro: Paul Feig e Katie Dippold
Elenco: Melissa McCarthy, Kristen Wiig, Leslie James, Chris Hemsworth, Kate McKinnon, Andy Garcia
Duração: 116 minutos
Classificação:
Direção: Paul Feig
Roteiro: Paul Feig e Katie Dippold
Elenco: Melissa McCarthy, Kristen Wiig, Leslie James, Chris Hemsworth, Kate McKinnon, Andy Garcia
Duração: 116 minutos
Classificação:

Sinopse: A história tem início com a
demissão de Erin Gilbert, uma renomada cientista candidata à cátedra da
universidade, após uma sucessão de eventos que levam sua reputação como teórica
ao lixo. Tudo por conta das atrapalhadas aventuras empreendedoras de sua amiga
de infância, Abby, que abriu um negócio nada convencional: uma empresa que
pretende capturar e exterminar fantasmas.
Sem uma oportunidade melhor de
trabalho, Erin parte com Abby e sua assistente maluca, Jillian, para a aventura
desse jogo de negócios nada convencional. Para a sorte do grupo, uma suspeita
infestação de espíritos malignos assola a cidade de Manhattan. Ao sinal do
perigo surreal, elas atendem ao chamado.
Resenha
Um dos últimos casos de histeria
coletiva que acometeu o mundo pop aconteceu com o novo Caça-Fantasmas. O reboot conseguiu
angariar o ódio generalizado de muitos ditos “fãs” da franquia original de
1984. Nas sucessivas ondas de desprezo, o primeiro trailer do longa conseguiu a
marca recorde de ser o vídeo mais negativado da história do YouTube. Já com a
polêmica, o longa se tornou histórico.
Agora, trinta e dois anos depois
que o mundo conheceu os Caça-Fantasmas originais, temos uma nova geração de
caçadoras chegando aos cinemas. Mas será que se trata de uma obra tão péssimo
como tantos acreditam? Não, na verdade é uma excelente comédia.
Qualquer um que tenha o longa de
1984 fresco na cabeça, conseguirá notar alguma semelhança com essa breve
sinopse. E de fato, o roteiro de Paul Feig e Kattie Dipold possui uma estrutura
narrativa muito similar ao clássico. Apesar de se comportar muito como uma
versão vinda diretamente do universo paralelo graças as trocas de sexo nos
papéis principais: a equipe de caça-fantasmas e o novo recepcionista, o hilário
Kevin, os roteiristas escolhem caminhos bastante seguros enquanto encaixam
toneladas de referências e homenagens ao filme original e outros longas
clássicos dos anos 1970 e 80.
Portanto, a história é bastante
telegrafada e previsível, mas agrada em seu formato graças a semelhança
nostálgica. Na verdade, após dois filmes com mesma estrutura, a vinda de um
terceiro que conta a mesma história com elementos diferentes pode ser bastante
decepcionante para alguns fãs. Tudo depende do modo que irá encarar a proposta
desse reboot.
A liberdade criativa reside mesmo com o
fantástico trabalho – o melhor até então em sua carreira, que Feig insere no
humor de seus diálogos e encenações criativas na sua direção. Não há como
negar, é impressionante como esse Caça-Fantasmas
é engraçado. A maioria das piadas funcionam espetacularmente bem.
Aliás, arrisco dizer que este é o
filme mais engraçado da franquia, já que os primeiros nunca foram comédias de
rolar de rir, além do timing cômico de Ivan Reitman já ter envelhecido ao longo
de três décadas. Feig também acerta em modernizar a diegese do longa. Ao
contrário do clássico, temos alguma motivação para o antagonista, o surgimento dos
fantasmas tem uma correlação direta com o vilão, algumas personagens têm certa
complexidade e boas motivações, a relação com o prefeito é diferente e mais
interessante, além do fato delas permanecerem desacreditas pela mídia e
população ao longo da cruzada espiritual.
Além desses retoques necessários
– e básicos, ao tratamento do roteiro, Feig e seu ótimo elenco se esforçam em
criar personagens novas e originais. O novo quarteto nada tem a ver com
Venkman, Stantz, Spengler e Winston. Apesar de todas elas se basearem em
estereótipos clássicos de esquetes cômicas curtas – temos “a certinha
tresloucada”, “a gordinha barra pesada”, “a esquisitona dos gadgets” e a “negra histérica”, as
atrizes se esforçam em criar características carismáticas únicas. Quem rouba a
cena, sempre, é Kate McKinnon que encarna Jillian.
Como o texto não favorece seu
humor, McKinnon incorpora o tipo da esquisitona com louvar a partir de inúmeras
expressões visuais contrastantes ou com os muitos reaction shots que Feig encaixa na decupagem com timing ímpar. O diretor também tem a
sagacidade de usá-la muitas vezes na profundidade de campo maquinando reações
mais sutis e igualmente esquisitas. Aliás, com as inconveniencas inerentes à
personagem, é difícil não lembrar da performance de Zach Galifianakis e seu
Alan de Se Beber, Não Case. São
personagens semelhantes e muito funcionais.
Outro ator que se destaca no meio
dos demais é Chris Hemsworth vivendo o personagem mais burro e estúpido do
cinema contemporâneo, o recepcionista Kevin. Absolutamente todas as piadas
envolvendo o ator são sensacionais. A linha de humor que ele adota é bastante
física apostando no nonsense. Logo,
pelas idiotices totalmente imprevisíveis do personagem, o ator prova uma verve
cômica inesperada.
Porém nem tudo é um mar de rosas
para esse reboot. Fora Hemsworth e
McKinnon, pouquíssimos atores protagonistas conseguem surpreender ou superar
performances anteriores. Isso é explicito com Melissa McCarthy que já nem se
preocupa mais em quebrar a personagem que criou anos atrás. Então, caso goste
do humor dela, não sairá desapontado, porém é uma zona de conforto que incomoda
depois de tanto tempo.
Aliás, é justamente com ela e
Kristen Wiig onde o diretor Paul Feig mais erra no tom. Tentando emplacar muito
improviso e na insistência de algumas piadas, o trio só consegue arrancar constrangimento
do espectador. Nada de risadas. Esses momentos são recorrentes durante o filme.
Fora isso, o diretor derrapa na construção da sequência da primeira captura de
espíritos que o grupo faz. Há um corte muito estranho e nada orgânico. Ao
menos, o uso do silêncio e de planos distantes, rende uma boa piada.
Fora os improvisos ruins como um
diálogo envolvendo coelhos e cartolas, absolutamente todas piadas que envolvem
proselitismo político não funcionam. Até mesmo a atmosfera leve do longa se
altera quando uma dessas aberrações “cômicas” surgem na tela. Também é
particularmente interessante notar como o roteiro desse longa trata todas as
figuras masculinas com representações negativas. Repare, temos o idiota, o
vilão recalcado, o prefeito que se esconde por trás de sua assessora, dois
investigadores bobocas, etc.
Tirando isso, Feig tem seus
ótimos momentos dirigindo, enfim, um verdadeiro blockbuster. Até mesmo arrisca na linguagem de gêneros que
transitam entre o horror e a ficção científica. Acredite, é possível ficar
apreensivo durante algumas cenas mais focadas nos fantasmas. Toda a linguagem
visual é correta para o suspense, porém a trilha musical mais infantil sempre
quebra a tensão poucos momentos antes da revelação de um espectro.
Não somente na boa encenação, no
jogo de câmera adequado e no ritmo certo que Feig trabalha bem. Uma das
características mais interessantes do seu comando é justamente na valorização
do design de produção e da fotografia bastante colorida de seu filme. Vemos
diversos dispositivos novos, a rabeca clássica com a placa ECTO-1, os detalhes
dos uniformes e da mochila de prótons em enquadramentos que se assemelham
bastante com os de Ivan Reitman no filme de 1984. São homenagens singelas, fan service bem alocado dentro da narrativa.
Isso inclui também as diversas participações especiais do elenco original.
Até mesmo na questão tecnológica,
o diretor acerta justamente com um dos elementos mais polêmicos do cinema
atual: o uso do 3D. Em resumo, é excelente! Feig brinca com os elementos dos
fantásticos efeitos visuais ultrapassando as bordas do cinemascope gerando um efeito único de projeção de elementos da
tela para o público. É um trabalho que tínhamos visto brevemente em 2012 com As Aventuras de Pi. Aqui, o diretor usa
e abusa do recurso. Chega a brincar com a razão de aspecto do longa que se
altera durante uma rápida cena em formato IMAX.
Além dos outros problemas já
citados cometidos pelo diretor, o mais grave deles ocorre no terceiro ato
espalhafatoso. Feig realmente peca pelo exagero, mesmo que a ação seja bem
divertida, o visual dos fantasmas coloridos seja muito interessante e pela
beleza visual das pirotecnias, os acontecimentos do clímax se estendem demais
oferecendo muito pouco para o espectador em termos de substância. Logo, é fácil
ficar cansado já que a narrativa estaciona e não avança até a resolução final
do conflito.
Agradando bastante com o humor
inteligente, ótimas atuações, boa história e visual surpreendente, o novo Caça-Fantasmas certamente é a dica certa
para uma visita aos cinemas. O longa é extremamente divertido e não chega a se
comprometer com os poucos erros apresentados. Realmente teremos de aguardar uma
sequência para que a Sony apresente uma história que fuja um pouco da fórmula
feita por Dan Ayroyd e Harold Ramis.
Enfim, até mesmo o fã mais
fervoroso e irritadiço, nutrido de bom senso, terá que admitir que essas
mulheres realmente são ótimas em caçar fantasmas. Querendo ou não, o fazem em
um filme bem-humorado de muita qualidade.
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