Título: Minha vida de menina
Editora: Companhia das Letras
Autor: Helena Morley
Número de páginas: 328
Classificação:
Sinopse:
Aclamado por escritores como Carlos Drummond de Andrade e João Guimarães Rosa, Minha vida de menina é o diário de uma garota de província do final do século XIX. Publicado pela primeira vez em 1942, antecipa a voga das histórias do cotidiano e dos relatos confessionais de adolescentes ao traçar um retrato vivo e bem-humorado da vida em Diamantina entre 1893 e 1895.
A pequena Helena Morley (pseudônimo de Alice Dayrell Caldeira Brant) compõe um painel multicolorido, desabusado e quase sempre inconformista do Brasil. De lambuja, o leitor é apresentado às inquietações típicas de uma adolescente espevitada e esperta às vésperas de um novo século.
Vovó tinha em casa muitas ex-escravas contadoras de histórias da carocha, histórias de almas do outro mundo e de pecados que levam ao Purgatório e ao Inferno. Furtar ovos, por exemplo, pois o ovo vira pinto, e quantas penas tem o pinto tantos são os anos de sofrimentos do Purgatório.
Minha vida de menina é um livro muito peculiar, de uma escrita simples e divertida, o tipo de livro para ser saboreado, daqueles que você lê para passar a tristeza, daqueles que te lembram os pequenos prazeres da vida. Foi escrito por Alice Dayrrel Caldeira Brant, que o fez como um diário pessoal de 1893 à 1895, dos 13 aos 15 anos e publicado em 1940, quando a autora contava 62 anos.
Com passagens inesquecíveis,
Helena vive com gosto, aproveitando todas as pequenas alegrias que a cercam, mas sem descuidar de seus deveres, filha de um mineiro que passa a semana na lavra e volta para casa aos finais de semana, ela precisa ajudar a mãe nas tarefas diárias e realizar suas deveres do curso normal.
A menina divide seus dias entre a escola, a casa da avó materna e a casa dos pais, incluindo nessa equação os frequentes passeios com amigas, visitas às tias e brincadeiras com os primos e aí nem sempre sobra tempo para estudar.
Helena prefere brincar, se divertir e até mesmo trabalhar do que estudar e todo ano na época dos exames faz promessas e não sai de casa sem deixar a mãe de joelhos rezando o tempo todo.
As histórias de Helena são simples, tocantes e comoventes em sua simplicidade e tem como pano de fundo um momento muito importante da história do Brasil, poucos anos depois da libertação dos escravos quando a mineração já se encontrava em decadência.
Seja por diversão, seja pelo viés cultural, Minha vida de menina vale a pena ser lido e relido, saboreado lenta ou rapidamente, não importa, o prazer é o mesmo.
Todos na Escola dizem que Zinha é maluca. Ela parece ter trinta anos,muito feia, a pele parece escama de peixe, o cabelo duro como rabo de cavalo, dentes do tamanho de um dente de alho grande e toda desengonçada. Eu pensava que as colegas diziam que ela é doida por ser tão mal-arranjada. Mas hoje eu estava bem quieta no segundo ano, sentada perto de Luísa, quando ela teve a infeliz ideia de aconselhar Zinha a se pentear e não andar com o cabelo tão emaranhado. Não precisou mais nada para Zinha desandar numadescompostura que não acabava mais. Achei engraçado ela gritar para a outra: “Pensa que sou da sua igualha? Sabe lá você quem é meu pai, para ter a audácia de vir me aconselhar? Eu, com este cabelo, valho vocês todas aqui, sua cachorra! Eu sou filha de Dinis Varejão!”. Ouvi tudo e fiquei pensando nos pobres meninos que ela vai ensinar. Não haveria meio de impedir os doidos de serem professores? Há tanto serviço que os doidos podiam fazer.
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