Crítica | Como Nossos Pais

Título : Como nossos pais
Elenco: Maria Ribeiro, Paulo Vilhena, Clarisse Abujamra, Jorge Mautner, Felipe Rocha, Sophia Valverde, Annalara PratesParticipação EspecialHerson CapriDireção: Laís Bodanzky
Roteiro: Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi
Direção de Fotografia: Pedro J. Márquez
Direção de Arte: Rita Faustini
Montador: Rodrigo Menecucci
Produtores: Caio Gullane, Fabiano Gullane, Laís Bodanzky, Luiz Bolognesi
Coordenação Executiva: Sonia Hamburger
Coordenação Financeira: Andréa Marcondes
Produção Executiva: Caio Gullane e Rodrigo Castellar
Produção: Gullane e Buriti Filmes
Coprodução: Globo Filmes
Distribuição: Imovision


Sinopse:

Rosa é uma mulher que quer ser perfeita em todas suas obrigações: como profissional, mãe, filha, esposa e amante. Quanto mais tenta acertar, mais tem a sensação de estar errando. Filha de intelectuais dos anos 70 e mãe de duas meninas pré-adolescentes, ela se vê pressionada pelas duas gerações que exigem que ela seja engajada, moderna e onipresente, uma super-mulher sem falhas nem vontades próprias. Até que em um almoço de domingo, recebe uma notícia bombástica de sua mãe. A partir desse episódio, Rosa inicia uma redescoberta de si mesma.

                                                       Crítica

Desponta como grande aposta nacional para indicação de filme estrangeiro ao Oscar 2018!E não estou exagerando com essa afirmação, mas como já aconteceu anteriormente e bem recente (Aquarius meu neném injustiçado never forget) o Ministério da Cultura desse país pode mais uma vez nos deixar na mão fazendo-nos perder mais essa oportunidade.Dito isso, desde que assisti estou de dedos cruzados torcendo para o melhor e me preparando para o pior.


Logo que inicia o filme temos uma cena típica de reunião familiar na casa da mãe da personagem principal Rosa (Maria Ribeiro) interpretada pela competente Clarisse Abujamra e de cara o roteiro deixa claro que aquela relação mãe-filha vai ser bastante explorada, num domingo qualquer reuni os filhos, sogra, genro e netos alerta de um mini spoiler com duas intencionalidades que só no decorrer do filme o público com admiração, confesso vai descobrir fim. A casa da mãe de Rosa é também um fator explorado de forma interessante na narrativa do filme, é o lar onde a Rosa provavelmente cresceu e passou por grandes mudanças, onde as crianças sempre querem estar seja pelo espaço/jardim e claro pela presença da vovó que os mima, bem famiília tradicional brasileira (não aquela que tiramos sarro em memes, mas a que cada um de nós tem e preza). Rosa tem um emprego que não tem nada a ver com seus interesses e devido a essa desconecção com o que faz, e todo o resto que tem que dar conta acaba por ser demitida e sente-se mais alividava que furiosa por isso. Em seguida precisa conversar com seu marido dado(Paulo Vilhena) que de tão presente nem recebeu um nome de verdade o filme todo, peguei a mensagem roteiristas!rs Então ela ao contar o que aconteceu, tem uma resposta preocupada do marido no sentido de que será menos grana dentro de casa e visto que o trabalho dele de pesquisador na Amazônia não contrui financeiramente ela o questiona e tem a confirmação nesse sentido para sua decepção mas não surpresa por conhecer bem o marido que tem.
O filme se passa na cidade de São Paulo e foi brilhantemente utilizado pelo roteiro a questão do uso das bicicletas como meio de transporte e não de uma forma explicita como poderíamos imaginar. A filha mais velha numa cena de birra típica tenta convencer a mãe a ir para a escolha “por que todos os seus colegas vão” e a mãe explica suas razões para negar o pedido e no decorrer da trama as bicicletas e o uso delas vão simbolizando a libertação da pesonagem das convenções que a impediam de fazer o que queria, de ser mais livre e deixar o passado onde deve ficar.

Apesar de parecer e trazer temas ultra atuais como a mulher multitarefada dos nossos tempos, as gerações de mulheres começando pelo âmbito familiar podem gerar atritos nas relações entre os membros, Como Nossos Pais não é um filme denso ou difícil de asssitir. Graças a maneira que ele é conduzido e também pelo alívio cômico que temos com o pai da Rosa good vibe e sem responsabilidades para com seus filhos. É também uma chamada para todos nós que ao observar a criação que tivemos somos capazes de eleger quem foi (pai, mãe ou cuidador) mais brando ou linha dura na criação e como essas lembranças nos acompanham para sempre. Eu pensei muito nisso ao ver essas cenas e percebi que nem sempre fui justa com a minha mãe porque não tinha maturidade para entender o que ela estava abrindo mão para ser para mim e irmãs o melhor que ela podia ser. Outra relação que no filme é bem feliz em ser explorada é das filhas com a mãe Rosa, rendem cenas que facilmente podemos nos identificar como ao anoitecer contar históricas para dormir ou a dificuldade que é para as mães em ter alguém geralmente pai ou avós desautorizando suas ações e parecendo mais bonzinho aos olhos das crianças.

O roteiro é um prato cheio para discussões fora do cinema, em casa, com amigos, nas universidades e entre todos que se sentirem tocados com os temas que ele aborda, foram muito felizes também na escolha dos atores pois a Maria Ribeiro mesmo sem ter uma grande cinegrafia entrega um trabalho bem executado e se esforça nas cenas que exigem carga dramática. Paulo Vilhena convence no papel de um homem que ajuda pouco e não percebe muito bem o que está errado nas suas NÃO atitudes, bem esquerdo macho mesmo amigos. A grande atuação é mesmo da coadjuvante (que na última semana ganhou o prêmio no Festival de Gramado, aliás o filme ganhou 6 prêmios no total ORGULHO DO QUE É NOSSO DEFINE) Clarisse Abujamra fazendo essa mulher madura, vivida e mais do que tudo consciente da sua história e para mim é dela a cena mais linda de todo o filme, só vou dizer que tem a ver com a canção que dá título ao filme. Tem uma outra metáfora que usaram para ilustrar o nível de clareza das coisas de mãe e filha com a cor vermelha que eu achei espetacular e bem sutil ao mesmo tempo.

Como nossos pais é um filme que eu gostaria de assitir com todas as mulheres da minha família, do meu convívio, que eu amo profundamente em especial com minha mãe. Soa piegas eu sei, mas soou como uma carta de amor de uma mulher a todas as outras. Mulheres desse país chamado Brasil que estamos sobrevivendo como pudemos e sabemos nessa sociedade cada vez mais hostil e perigosa, lutando um dia após o outro sem perder a essência, a leveza e tudo aquilo que de forma plural nos torna mulheres, pois já dizia uma das maiores pensadoras do século passado Simone de Beauvoir “não se nasce mulher, se torna-se mulher” e é nessa trajetória dolorosa e cheia de significados que se encontra Rosa, que  simboliza a de muitas, que ao se ver no limite em todos os aspectos de sua vida não vê outra alternativa que não seja mergulhar nos mais profundos questionamentos que até então não havia se permitido fazer como : “porque meu marido pode perseguir seu sonho profissional e se realizar e eu tenho que me contentar com um trabalho que não me dá nenhuma satifação pessoal?” Também cabe dizer que o marido nem sequer reconhece ou percebe a aflição da mulher em estar tão atordada com tudas as demandas da casa, trabalho e filhos quando num determinado momento de uma discussão solta “tive que abrir mão do futebol” enquanto que a mesma deixou sua paixão que é escrever peças e não parece ter mais tempo para si mesma. É simplesmente injusto demais como o nosso sistema se organiza, e Rosa percebe que passou tempo demais apenas tentando dar conta, pois ela é uma mulher e supostamente não pode reclamar. Afinal fomos nós feministas que pedimos para estar no mercado de trabalho, o direito de votar, ter opinião e ser respeitada e é esse leitura que muitos homens assim como mulheres( logo no início no almoço de família a própria mãe absolutamente incapaz de perceber a infelicidade da filha com sua vida, reitera a importância do marido dela trabalhar pois é muito importante o que ele faz, mas coisas triviais como cuidar das próprias filhas não é serviço dele e continua as provocações) tem, de que pediu agora tem que aguentar mas esquecem convenientemente de que o foco da luta é por igualdade e equiparação nos direitos entre homens e mulheres. Uma mulher da nossa geração pode querer ser mãe, ter um emprego que a sustente e ainda assim ter ao lado como PARCEIRO e não ajudante o marido ou pais dos filhos afinal as responsabilidades deveriam ser divididas ao meio, igual para ambos. E mesmo o filme sendo um recorte bem específico que não posso deixar de citar: Mulher branca,urbana,jovem, com acesso a educação de nível superior, classe médica e etc com problemáticas que acompanham a tragetória da personagem sendo pertinentes a uma mulher que ocupa esse espaço em sociedade e de outras, e de forma alguma é menos importante por isso.

Por fim Como Nossos Pais assim como a canção clássica que foi imortalizada na voz da Elis Regina nos lembra que somos todos sem exceção, filhos da nossa era. Que os movimentos sociais maiores que a gente são como ondas que crescem e quebram, que marcam as vidas, pautam relações que travamos e não há como estar em sociedade e fugir disso. É também um filme sobre gerações de pessoas, sobre crescimento pessoal sob as circunstâncias da vida e como isso perpassa talvez mais forte do que gostaríamos nossa personalidade e molda o nosso jeito de ser e estar no mundo.


                                             Por: Ana Paula Santos

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