Autor: Margaret Atwood
Editora: Rocco
Número de páginas: 368
Classificação: ★★★★
Sinopse: Escrito em 1985, o romance distópico O conto da aia, da canadense Margaret Atwood, tornou-se um dos livros mais comentados em todo o mundo nos últimos meses, voltando a ocupar posição de destaque nas listas do mais vendidos em diversos países. Além de ter inspirado a série homônima (The Handmaid’s Tale, no original) produzida pelo canal de streaming Hulu, a ficção futurista de Atwood, ambientada num Estado teocrático e totalitário em que as mulheres são vítimas preferenciais de opressão, tornando-se propriedade do governo, e o fundamentalismo se fortalece como força política, ganhou status de oráculo dos EUA da era Trump. Em meio a todo este burburinho, O conto da aia volta às prateleiras com nova capa, assinada pelo artista Laurindo Feliciano.
– Resenha –
“Melhor nunca significa melhor pra todo mundo, diz ele. Sempre significa pior, para alguns.”
Assisti
a série primeiro, e cada episódio é um soco. Um soco, daqueles bem
dados, que você fica dolorido por dias. O livro? Uma sucessão de socos
também.
A
segunda coisa que preciso dizer, é: sim, esse soco é necessário. Essa
história, publicada em 1985, é extremamente necessária, importante,
assustadora. Sabe aquele potencial que o ser humano tem de fazer
besteiras? Então…
“Nada muda instantaneamente: numa banheira que se aquece gradualmente você seria fervida até a morte antes de se dar conta.”
Imagine
só: num futuro próximo, por conta da poluição, do uso de
anticoncepcionais, da radiação… a maioria das pessoas é estéril. Aí você
pensa: eita, então as mulheres férteis são tratadas como deusas, pois
elas são responsáveis pelo futuro da humanidade, certo? Ehhhhhh… NÃO.
Simone
de Beauvoir já dizia: “Basta uma crise política, econômica ou religiosa
para que os direitos políticos das mulheres sejam questionados”. Pois
é: quando tudo começou a cair por terra, as primeiras a perderem seus
direitos foram as mulheres. O governo tornou-se ditatorial e
fundamentalista religioso, então…tudo passou a ser justificado com o uso de citações bíblicas.
“Se tiverem que morrer, que a morte seja rápida. Poderias até oferecer-lhes um céu. Precisamos de Ti para isso. O Inferno podemos fazer nós mesmos.”
O
que aconteceu, então, com as mulheres? Foram separadas em grupos:
Esposas, Aias, Marthas, Econoesposas e Tias. Respectivamente, a primeira
é burguesa, a segunda é barriga de aluguel, a terceira é ‘dona de
casa’, a quarta é pobre e a última é a ‘educadora’.
Offred
é quem nos conta a história, mas ela tinha um nome antes de tudo isso
acontecer. Todas as Aias tinham. Mas, quando são delegadas a um
Comandante, seu nome torna-se Of (de) + nome do Comandante. Então temos
Offred, Ofwarren, Ofglen, etc.
As
roupas, vermelhas, representam a fertilidade delas, representam o
sangue da menstruação. Esse chapéu, que parece mais um cabresto, tem
essa função mesmo: elas não podem olhar em volta, tem que estar sempre
de cabeça baixa e não deixar também os outros olharem para elas. São
intocáveis — apenas seu comandante pode tocar.
“Acredito na resistência do mesmo modo que acredito que não pode haver luz sem sombra; ou melhor, não pode haver sombra a menos que também haja luz.”
Sim,
é claro que temos pessoas contra esse absurdo. Sempre tem aquela luz no
fim do túnel. O livro nos deixa muitas coisas em aberto, que a série,
impecavelmente, vai fechando pra nós. Aliás, agora quero falar mais da
série: a adaptação está incrível. A fotografia é maravilhosa e a trilha
sonora também não deixa a desejar.
Confesso que chorei em vários episódios da série, e até pensei em não ler o livro, pois é difícil. Não, não é uma leitura difícil. É uma história difícil. Como disse lá em cima, cada capítulo é um soco dolorido.
Então… o que mais posso dizer? Pra mim, leitura obrigatória para todos os seres humanos. Aliás, série obrigatória também.
“Talvez nada disso seja a respeito de controle. Talvez não seja realmente sobre quem pode possuir quem, quem pode fazer o que com quem e sair impune, mesmo que seja até levar à morte. Talvez não seja a respeito de quem pode se sentar e quem tem de se ajoelhar ou ficar de pé ou se deitar, de pernas abertas arreganhadas. Talvez seja sobre quem pode fazer o que com quem e ser perdoado por isso. Nunca me diga que isso dá no mesmo.”
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