Crítica | Lucky

Título: Lucky

Direção: John Carroll Lynch

Elenco: Harry Dean Stanton, David Lynch, Ron Livingston, Ed Begley Jr. e Tom Skerritt

Classificação: Nenhum texto alternativo automático disponível.

Sinopse: No auge dos seus 90 anos, o ateu Lucky (interpretado por Harry Dean Stanton) se dá conta de que o inevitável está próximo. Ao ver a silhueta da morte, ele vai mudar completamente a rotina para viver novas experiências.




Resenha



Lições ao fim da vida

Lucky aparece no universo do cinema como um filme diferenciado por sua abordagem temática e diálogos metafóricos fora do comum. Em sua estreia como diretor, John Carroll Lynch entrega uma sessão com profundidade existencial que há muito não se via. Filmes como Na natureza selvagem (2007) e a trilogia Antes do Amanhecer, Antes do pôr do sol e Antes da meia-noite (1995, 2004 e 2013, respectivamente) são trabalhos cujo propósitos se assemelham ao novo trabalho da Magnolia Pictures.

A película leva o público - sob uma perspectiva madura pouco abordada - para uma jornada de descobertas e reflexões acerca da verdade por trás do envelhecimento. O elenco majoritariamente mais velho (e com rostos muito conhecidos) faz com que o filme tenha o embalo perfeito para tratar do tema desafiador elaborado por Logan Sparks e Drago Sumonja. Atrelado a isso, o brilhantismo na fotografia e direção de câmera fazem toda a diferença num projeto artístico como esse. Sem sombra de dúvidas, o cuidado com o tratamento de cada uma das partes da produção de Lucky fará com que ele seja aclamado nas premiações e lembrado como um trabalho de esplendor visual, criativo e emocional.

Afinal, o que é o vazio? O que exatamente o fim representa? Qual a diferença entre "solidão" e "solitário"? Essas três perguntas guiarão a história do velho ateu, envolvendo o público em sua caminhada pelo redescobrimento da vida quando esta se aproxima do final. Com metáforas muito bem elaboradas, o desenvolvimento fílmico vai funcionar de maneira proporcional as aprendizagens vividas pela personagem principal. A semiótica do filme – ou seja, a explicação por trás dos símbolos imagéticos e audíveis - torna o cigarro fumado por Lucky, a fuga do cágado de Howard (David Lynch), os diálogos no bar de Elaine (Beth Grant), as palavras cruzadas seguidas de idas ao dicionário, entre outras cenas, uma costura metafórica sobre os ensinamentos propostos pela película.

Assistir Lucky faz com que você perceba que o vazio pode não ser tão assustador assim; faz você notar que o fim não é algo que precisa ser temido, uma vez que ele é mais uma parte da vida ou, ao menos, parte daqueles que a viveram de verdade. Quanto a solidão, esta é apenas uma questão de perspectiva. Desta forma, Harry Dean Stanton deixa, em um de seus últimos trabalhos, valiosas lições de vida para gerações futuras. E é com uma atuação magistral que ele perpetua o seu legado como ator numa obra que será lembrada por sua extraordinária qualidade emotiva, criativa e filosófica.

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