Resenha: Como Eu Imagino Você | Pedro Guerra


Título: Como Eu Imagino Você
Editora: Gutenberg
Autor: Pedro Guerra
Número de páginas: 192
Classificação: Nenhum texto alternativo automático disponível.
Sinopse: Não consigo definir o formato do seu rosto, muito menos se aquele borrão embaixo é uma barba rala ou não. Percebo que o cabelo é volumoso e tento desenhar na minha mente as ondas que aqueles fios formam. Uma doença rara diagnosticada na infância nunca impediu Helena de enxergar o mundo, e mesmo com todos os obstáculos, ela é uma jovem alegre, independente e muito sensível. Mas é à noite que Lena sente seu coração se encher de dúvidas e agitação ao se “encontrar” com um misterioso rapaz que surge constantemente em seus sonhos. E, apesar de não enxergá-lo com nitidez, ela sabe exatamente como ele é. Um dia, seus pais precisam fazer uma viagem e a jovem é obrigada a ficar sozinha em casa. Quer dizer... não totalmente sozinha. Sua mãe havia contratado um rapaz para cuidar do jardim. E aquilo que parecia ser uma visita indesejada pode trazer uma enorme mudança em sua vida. Para sempre... “Posso vê-lo mais do que a minha capacidade de enxergar permite. Consigo ver que ele é diferente.”


Resenha

Helena Curval — ou apenas Lena, pois é impossível não se sentir próximo à personagem logo nas primeiras linhas — tem seu jeito próprio de ver o mundo. 

Aos dezoito anos, com alegria e um senso de humor peculiar (algo contagiante), ela tem apenas 20% da visão e sabe que pode perdê-la totalmente a qualquer momento, mas possui uma percepção sobre a vida que, definitivamente, tem muito a ensinar a cada leitor. E, pode apostar, não importa a idade que este tenha.


O mundo é cego. Ninguém se importa com a história dos outros. Somos todos videntes para aquilo que nos importa e só isso. 

O sonho de Lena é cursar Medicina, ainda que seus pais tenham certa relutância, com medo das situações que a filha poderá enfrentar. E quem apoia esse desejo é o fiel escudeiro e melhor amigo de Lena, o Lucas, com quem ela também compartilha boa parte dos seus medos e inseguranças. Entretanto, o inesperado acontece e os progenitores da nossa querida protagonista, biólogos fissurados na vida animal, precisam viajar e, o que poderia ser mais um novo desafio na vida de Lena, acaba reservando grandes surpresas. Sua mãe, mais do que elétrica e engraçada, avisa no último segundo que a filha precisará receber um jardineiro para cuidar do lugar preferido de sua falecida avó (um jardim caindo aos pedaços) e, ainda que ele seja, a princípio, um "visitante indesejado", mostra para Lena a beleza das flores, sua sensibilidade ao lidar com a jovem e, mais do que isso, o amor. 


— É uma folha... — explica. — E muitas pessoas a veem apenas como uma folha. Ninguém está preocupado em saber de onde ela caiu, de onde se desprendeu ou fazia parte. Ninguém repara na estrutura da folha e se ela traz algum benefício. Para a maioria das pessoas, é só uma folha.


Como nem todas as coisas da vida são flores (e aqui deixo este trocadilho sem graça), mesmo envolvida nas sensações maravilhosas da paixão por Alex, Lena também precisa aprender a conviver com os seus sentidos altamente apurados, que podem lhe assustar tanto quanto deixá-la intrigada. O que ela percebe, no entanto, é que o cara dos sonhos pode aparecer inesperadamente para mudar TUDO em sua vida.


A dor é necessária para que as feridas cicatrizem.

Antes mesmo de terminar a leitura, já estava completamente apaixonada. A narrativa é tão fluida e linda que me emocionou, me fez rir e me senti presente na vida da Lena, como se fôssemos amigas de longas datas. Não posso deixar de comentar sobre a destreza do autor com a narrativa, pois ele imprimiu em cada parágrafo sensibilidade, amor e a possibilidade de o leitor desenvolver empatia, pois muitas vezes me coloquei no lugar da Lena, senti as suas dores, alegrias e angústias. As personagens são cativantes e os diálogos muito bem construídos. Amei a Jenny-Patriota, o Lucas, a Kayla, o Antony, os pais da Lena e, sobretudo, o Alex. A trama é bem objetiva e os acontecimentos se cruzam com perfeição, além do fato de que temos a possibilidade de compreender o tempo cronológico, visto que o livro é dividido em partes que fazem referência as estações do ano. Assim, o leitor percebe que as situações ocorrem gradualmente, em um tempo delimitado. 

Na obra, também foram exploradas simbologias, elementos meio místicos e, como sempre gosto de mergulhar no universo dos livros que leio, passei dias fissurada em entender melhor sobre o significado das corujas, fiz o teste online das Cartas Zener (indico) e tentei me apegar às sombras — aqui digo que vocês precisam ler o livro para entender as referências — para ver além do óbvio, perceber o que a gente quase sempre ignora, mas que possui uma beleza incomparável. Também amei o fato de Lena e Alex serem leitores e apreciarem Dickens.


Por mais que eu tenha tentado insistentemente batalhar pela minha independência, é inegável que precisei aceitar que minha vida possui muitas limitações. Porém, depois que Alex apareceu, comecei a sentir que precisamos rejeitá-las a todo momento, e não deixar as dificuldades nos limitarem.

Este é um dos meus livros favoritos de 2017, pois é repleto de frases lindas e inspiradoras, com um tom bem poético em alguns momentos, altamente incentivador e nos mostra a beleza da amizade, das relações familiares e do amor. Lena tem força, é destemida, inteligente e girl power, uma protagonista muito bem construída; e o Alex é o cara apaixonante, que nos cativa, que vê além do que as pessoas costumam perceber no primeiro momento.

Finalizei a leitura com a sensação de que precisava conhecer os outros livros do Pedro Guerra e não desgrudo mais de "Como eu imagino você". 


                 Definitivamente, este livro conquistou o meu coração.

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