Crítica | 120 batimentos por minuto

Título: 120 batimentos por minuto
Direção: Robin Campillo
Elenco: Nahuel Pérez Biscayart, Arnaud Valois, Adèle Haenel e Antoine Reinartz
Classificação:
Sinopse: No início dos anos 1990, o grupo ativista ACT UP de Paris intensifica suas investidas para escancarar a realidade sobre a AIDS. Em meio aos protestos, Nathan (Arnaud Valois), o novo integrante do grupo, se encanta por Sean (Nahuel Pérez Biscayart), forte representante do ACT UP cujo, mesmo estando bem debilitado, segue na luta pela vida dele e de milhares.


Uma narrativa sobre o real

A volta do premiado Robin Campillo (Eles voltaram, de 2004, e Garotos do Leste, de 2013) não poderia ter sido melhor. Depois de quatro anos sem lançar um trabalho com sua assinatura como diretor, Robin está à frente da direção e roteiro (com a cooperação de Philippe Mangeot) do magnífico 120 batimentos por segundo. A estreia do novo drama francês veio acompanhada de muitas indicações no circuito de premiações ao redor do mundo. Aclamado no Festival de Cannes, agora o longa-metragem espera ansioso pela lista de indicados do Academy Awards, uma vez que ele foi o candidato da França para disputar uma vaga entre os indicados ao prêmio de "Melhor Filme Estrangeiro".

Diferentemente do usual, os roteiristas da obra conseguiram trazer para a trama um outro olhar sobre a temática da AIDS. Através de uma narrativa focada no dia a dia do grupo parisiense ACT UP, o público passa a ter uma perspectiva mais abrangente acerca das dificuldades, dores, lutas e estágios da doença que as mais diferentes pessoas tiveram durante a epidemia da década de 1990. O longa põe em pauta, portanto, uma discussão tocante e atemporal sobre os malefícios da ignorância e do preconceito, sem ter, contudo, uma vitimização das personagens. Essa foi, sem sombra de dúvidas, a maior sacada de Campillo e Mangeot, mostrar homens e mulheres que sofreram com a AIDS do jeito que eles são: pessoas comuns cujo única diferença era a constante luta pela vida. E, apesar de existirem grandes produções sobre o tema (como Clube de Compras Dallas, de 2013) talvez 120 batimentos por minuto seja o melhor retrato sobre a realidade de milhares de humanos.

Outro tópico essencial para o longa é a homossexualidade - visto que a taxa de HIV era maior entre os homossexuais. Essa, entretanto, é apresentada sem os estereótipos e julgamentos comumente usados no cinema e na televisão. Para representar bem as dores e lutas dos milhares que viveram ou vivem lutando pela vida - seja por causa da doença ou do preconceito - a escolha do elenco teve extrema importância (e foi certeira). Os protagonistas Nahuel Pérez Biscayart e Arnaud Valois dão um show de interpretação em seus respectivos papéis, causando comoção aos que acompanham suas histórias de vida. Biscayart, Valois e toda a equipe de atores cria uma atmosfera de reflexão e comoção que o enredo exige.

Somado a isso, a fantástica direção de fotografia de Jeanne Lapoirie é a principal responsável por traduzir a tônica do real, sensível e artístico à obra. As cenas de manifestações e protestos com suas cores, planos, enquadramentos e trilha sonora precisas fazem dessa película um trabalho emocionante e profundo. Não que haja a ingênua ideia de mudar qualquer pessoa que assista ao filme, porém existe uma certeza de que haverá algo no público que mudará ao deixar a sessão. Afinal, essa é a função da sétima arte, a capacidade de tocar e fazer refletir. E é dessa forma que o cinema francês acaba de ganhar mais uma espetacular obra cinematográfica que proporcionará ao espectador uma experiência sublime de arte e vida.

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