Crítica | Me chame pelo seu nome

Título: Me chame pelo seu nome

Direção: Luca Guadagnino

Elenco: Armie Hammer, Timothée Chalamet, Michael Stuhlbarg, Amira Casar, Esther Garrel e Victoire Du Bois

Classificação:

Sinopse: No verão de 1983, quando Oliver (Armie Hammer) chega na casa dos Perlman para ajudar o professor (Michael Stuhlbarg) em suas pesquisas, o mundo de Elio (Timothée Chalamet) muda por completo. O jovem garoto começa a se descobrir graças ao sentimento gerado pela presença de Oliver. A partir dos desejos juvenis de Elio, ele e Oliver iniciam um romance que marcará as suas vidas.

O despertar do eu

Ao fazer a decisão de ir ao cinema para assistir Me chame pelo seu nome, esteja avisado: o que lhe aguarda é completamente diferente do que se imagina. Não entenda isso como uma má notícia. O novo filme do italiano Luca Guadagnino (Um sonho de amor, de 2009, e Um mergulho no passado, de 2015) veio para ser algo muito além de um dramalhão ou um romance homossexual qualquer. A película baseada no livro de mesmo nome de André Aciman é um filme sobre descobertas, autoconhecimento, maturidade e desejo – sendo essa última característica a responsável por fazer dele o terceiro e último trabalho de Guadagnino para a "Trilogia Desejo". Call me by your name - título original da película - é um retrato real que trabalha belissimamente o tema proposto sem os freios do tabu.

A sétima arte vive um período glorioso, onde os filmes mais esperados do ano têm sido sucessivas surpresas agradáveis – fato esse que tem tornado as premiações um confronto monstruoso. O novo trabalho de Guadagnino leva o público ao delírio por ser uma obra tão redonda e perfeitamente preenchida. Sem excessos ou melindres. Me chame pelo seu nome é uma história simples e profunda que explicita a vida como ela é. Ao lado do italiano, a produção da Frenesy Film Company contou com a fotografia impecável das paisagens da Itália feita pelo tailândes Saymbhu Mukdeeprom, uma trilha sonora envolvente que, além de compor a tônica do período mostrado, ainda ajuda a construir a narrativa sensual, sexual e dramática do filme.

Outros componentes essenciais para o sucesso da produção são o elenco e o roteiro. Do veterano Michael Stuhlbarg até o jovem Timothée Chalamet, todos os atores e atrizes que compuseram o longa fizeram um trabalho excelente. O resultado disso foi a aclamação por parte do público e crítica e as nomeações em diversos prêmios - cujo perpassam por Sthulbarg, Chalamet e Armie Hammer, além de contemplarem também outras categorias como filme, roteiro, fotografia e trilha sonora. O enredo rico e verossímil sobre as ânsias juvenis garantiu à James Ivory (mais conhecido por seu trabalho notório como diretor em Vestígios do Dia, de 1993), até então, 4 nomeações pelo roteiro, onde foi vitorioso no Critics' Choice Movie Award.

Para fazer justiça ao longa-metragem, é preciso parar e falar especificamente do jogo cênico entre o casal interpretado por Timothée e Armie. O entrosamento e química entre as personagens é algo absurdamente convincente. É evidente que a função de ambos como atores é justamente convencer o público através da verdade de suas personagens, mas a questão é que eles vão muito além. As suas cenas são de uma beleza quase que barroca, funcionando como uma escultura de Bernini. A intensidade dos momentos entre eles faz do longa-metragem um retrato diferenciado sobre esse combo adolescência/descobertas sexuais/desejos carnais/amor.

A dúvida que paira sobre o drama é a respeito da reação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, afinal ela mantém uma postura claramente protecionista aos velhos e preconceituosos valores da família americana padrão. Não tenham a ingenuidade de achar que, por ano passado Moonlight: Sob a luz do luar ter ganhado alguns Oscars, Me chame pelo seu nome será agraciado com as estatuetas. O ano de 2017 presenciou nada menos do que uma tentativa da Academia para se redimir perante o mundo. Tudo isso foi gerado por causa de uma hashtag no twitter (#whiteoscar) que surgiu durante a cerimônia de 2016 onde todos os prêmios de maior destaque foram para pessoas brancas e nem sequer um artista negro foi nomeado. Além do mais, Moonlight não explora o universo homossexual com a intensidade e impulsividade juvenil amplamente demonstrada – cujo é necessária para a temática - por Guadagnino.

Como alertado anteriormente, a apreciação da beleza e sinceridade dessa película só será alcançada através de um olhar despido de preconceitos e tabus. O longa é uma verdadeira obra de arte que ainda será muito aclamada (merecidamente) por pessoas que conseguem perceber o papel dessa arte. Desfrute uma percepção única acompanhada de um brilhantismo artístico que não tem fim. Do começo ao desfecho, Me chame pelo seu nome é simplesmente estonteante.

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