Crítica | The Post - A guerra secreta

Título: The Post - A guerra secreta

Direção: Steven Spielberg

Elenco: Meryl Streep, Tom Hanks, Sarah Paulson, Bob Odenkirk, Tracy Letts, Bradley Whitford, Bruce Greenwood e Mathew Rhys

Classificação:  
 
Sinopse: Após o New York Times ter suas publicações suspensas, o jornal local Washington Post recebe os documentos secretos do governo americano que denunciavam todas as mentiras acerca da Guerra do Vietnã. Com a recente abertura das ações do jornal na Bolsa de Valores, a dona do veículo Kat Graham (Meryl Streep) se vê num dilema entre publicar os Petagon Papers e mostrar a verdade para o povo, como queria seu editor-chefe, Ben Bradlee (Tom Hanks), ou se proteger da fúria presidencial e tudo que a acompanha.


Um protesto dentro e fora das telonas


Ao assistir The Post – A guerra secreta, o novo filme de Steven Spielberg, é quase impossível não lembrar de Spotlight – Segredos revelados, vencedor do Oscar de "Melhor Filme" na edição de 2016. As duas películas - ambas co-roteirizadas por Josh Singer - põem em discussão algumas temáticas em comum como o papel do jornalismo na sociedade, a busca incessante pela verdade factual plena e o desafio de enfrentar forças sociais poderosas (a exemplo da Igreja ou a presidência do país) para contar a verdade. E, apesar de toda essa semelhança, há um ponto de separação crucial entre as histórias. A posição de Spotlight é muito mais comedida e racional ao decorrer da trama, guiando o público através de um instigante thriller investigativo sobre fatos e figuras reais. The Post, por outro lado, usa o apelo sentimental para envolver o espectador e relembrá-lo do papel indispensável e digno dos jornalistas, fazendo dessa forma que o protesto pela liberdade de imprensa esteja tanto no âmbito imaginário do cinema, como fora dele. 

O universo cinematográfico e seu público mais assíduo já conhece o poder de Spielberg para contar histórias reais. A lista de Schindler (1993), Munique (2005) e Lincoln (2012) são exemplos gloriosos e premiados de trabalhos do diretor cujo têm uma inspiração em acontecimentos verídicos. Nessa sua nova produção, Spielberg recria magistralmente uma nação em crise ao descobrir que seu governo mandou jovens soldados para uma guerra cujo fracasso sempre foi uma certeza. O desejo por liberdade é o fio que costura a essência do enredo, proporcionando um sentimento de apoio a mídia. Seja graças as atuações incríveis, falas muito bem elaborados por Liz Hannah ou Josh Singer, ou mesmo pela direção do mestre, o romantismo sobre a função social do jornalista é perfeitamente instaurado. Dessa forma, The Post vem as telonas como muito mais que um filme, ele se transfigura numa forma de contestação ao presidente Donald Trump e suas retaliações aos jornalistas americanos.

Ao lado de seus antigos companheiros de trabalho - o diretor de fotografia Janusz Kamiński e o compositor John Williams (ambos premiados por seus respectivos trabalhos em A lista de Schindler) -, Spielberg se cerca com uma equipe de peso para apresentar para o mundo A guerra secreta americana. Além da equipe técnica, a película traz um elenco extraordinário composto por Meryl Streep, Tom Hanks, Sarah Paulson, Bob Odenkirk, Tracy Letts, Bradley Whitford, Bruce Greenwood e Mathew Rhys, onde dois atores precisam ser mencionados por sua desenvoltura fenomenal no longa: Streep e Odenkirk. A versatilidade de Meryl prova mais uma vez que ela está sempre preparada para surpreender a todos com seu talento – e foi por causa disso que a atriz foi nomeada na categoria de "Melhor atriz" nas principais premiações da sétima arte, incluindo o Academy Awards. Bob Odenkirk, apesar de não ter recebido indicações, fez um trabalho excelente como o jornalista Ben Bagdikian, o responsável pela publicação dos Pentagon Papers no Washington Post.

Além da indicação de Streep – fazendo com que a atriz vá para sua 21ª disputa por um Oscar – o longa-metragem foi indicado na categoria "Melhor Filme". Mesmo concorrendo a poucas estatuetas, a nova produção da DreamsWork Pictures merece um destaque por sua função social. Num mundo onde os fatos são escondidos do povo, precisa existir alguém ou algum setor da sociedade que se encarregue da árdua missão de contar a verdade para que os governados acordem e não sejam enganados por terceiros. Como dito no próprio longa, o jornalismo é feito para os governados, não para os governantes. Portanto, independente de vitórias ou não na competição da Academia, The Post é uma obra cinematográfica que, com seus ideais românticos acerca do jornalismo, tem o papel de conceder uma fagulha de esperança para o povo de que ainda há espaço para verdade no mundo, ao mesmo tempo que é um lembrete aos governantes de que a liberdade de expressão não está morta e que ainda há quem lute em prol da transparência.

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