Título: “Baseado Em Fatos Reais”
Data de lançamento: 12 de abril
de 2018 (1h40min)
Direção: Roman Polanski
Elenco: Emmanuelle
Seigner, Eva Green
e Vincent Perez
Gêneros: Drama, Suspense
Nacionalidade: França
SINOPSE: Nesse suspense de Roman
Polanski, Delphine (Emmanuelle
Seigner) é uma solitária escritora de sucesso que se encontra sem ideias
para escrever após seu último livro que contava a história de sua mãe, até que
ela conhece Elle (Eva Green), que
parece saber tudo sobre a escritora e entra abruptamente em sua vida, passando
a redirecionar de forma obcessiva toda a sua carreira e vida social.
Elle com a mão no rosto de Delphine |
Em uma tentativa de criar um suspense, Roman Polanski decepciona com “Baseado em Fatos Reais”, cuja trama se assemelha a um drama pouco desenvolvido que tenta, a todo custo, passar por um suspense seja nas
atuações caricatas de Eva Green presentes no filme ou na trilha sonora misteriosa e bem composta, mas um pouco perdida nas cenas, que podem ser motivos de riso para cinéfilos mais críticos, com diálogos expositivos, cenas cômicas, roteiro previsível e cheio de
coincidências e artifícios convenientes que empobrecem o filme.
A história já começa com Emmanuelle Seigner protagonizando a
renomada escritora Delphine em uma sessão de autógrafos para justificar o
sucesso dela, mas em momento algum é explicado esse talento dela, pelo
contrário: explica-se o que devia ser um fracasso. A partir daí, temos várias sequências de
expressões neutras ou cansadas da protagonista que acaba conhecendo Elle (Eva Green), uma mulher misteriosa e
interessante, pelo menos aos olhos de Delphine, mas também ficamos sem saber o
porquê dela ser realmente interessante, a não ser pela sugestão de um possível
interesse lésbico de Delphine por Elle (tema realizado lindamente em 1966 por
Ingmar Bergman no clássico “Persona”), mas logo de cara o roteiro exclui essa
possibilidade durante um diálogo entre a protagonista e François (Vicent Perez), que seria um namorado ou
caso dela (mais uma questão sem resposta). Aliás, François some logo no começo
e passa a existir somente para atender ligações de Delphine e dar a ela o direito
de expositividade, que sempre conta a nós expectadores o que está acontecendo e
o que vai fazer através dessas ligações.
Elle |
Na relação entre Elle e Delphine,
fica claro desde o primeiro encontro que a intenção era mostrar Elle como uma
mulher super inteligente, esperta e perigosa, sendo reforçado pelo figurino
repetitivo e óbvio de roupa preta e acessórios e maquiagem vermelha, mas, ao
invés disso, o filme acaba transformando Delphine em uma personagem boba, sem
opinião própria, que cai sozinha sem que ninguém movesse uma palha, apenas por
acaso. Passando algum tempo, existindo apenas motivos contrários, as duas
passam a dividir a rotina e a se tornarem intimas, tudo de maneira forçada e
repentina, apesar dos maus-tratos e da explícita expressão maquiavélica de Elle
na frente de Delphine, sem disfarces, e discussões sem profundidade que surgem
sem contexto. Durante o segundo ato, o
filme deixa expectador ansioso por alguma passagem inteligente, afinal,
imagina-se que Polanski não subjulgaria a inteligência de seu público, mas um
dos elementos que poderiam inverter a história e seguir em uma direção
interessante nessa disputa de poder feminino simplesmente não se desenvolve e o
roteiro continua a caminhar na mesma direção, com personagens aparecendo coincidentemente
em lugares aleatórios e um final extremamente preguiçoso, embora revele um
pequeno plot-twist favorável. Contudo, ainda que esse ponto de virada final
possa suavizar alguns problemas da narrativa, acaba-se criando outros, pois
diversos dos interessantes acontecimentos anteriores não poderiam ter
acontecido segundo essa outra abordagem e acabam perdendo o sentido.
Visualmente, o filme é
interessante, pois tenta causar uma sensação de monotonia na vida de Delphine
com cores neutras nos ambientes, filtro sépia, roupa cinza, e uma sensação
levemente claustrofóbica com ambientes um pouco apertados e de pouca luz, ganhando
mais cores e contraste à medida que Elle se aproxima na história. O clima de
suspense é sustentado apenas pela trilha musical do piano e de cordas em alguns
momentos, mas desperdiçada em cenas banais. A montagem começa dispensando cenas
de deslocamento, mas depois considera importante manter cenas cômicas
envolvendo um engessado com a trilha de suspense. Já a fotografia e a direção
de arte são bastante agradáveis, utilizando em geral os planos médios e uma
composição de cenário e enquadramentos que valorizam os atores mas torna fácil
de enxergar o ambiente e associar à personalidade. Apesar dos lados negativos, "Baseado em Fatos Reais" possui uma dinâmica agradável com diversos elementos, além de possuir um visual e trilha sonora bonitas e pode ser um bom filme para se distrair.
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