Crítica | Praça Paris


Título: “Praça Paris”
Data de lançamento: 26 de abril de 2018 (1h 52min)
Direção: Lucia Murat
Elenco: Joana de VeronaGrace PassôAlex Brasil
Gênero: Drama, Suspesa
Nacionalidades: PortugalArgentinaBrasil

Sinopse:
Rio de Janeiro. Camila (Joana de Verona) é uma terapeuta portuguesa que trabalha na UERJ, onde atende Glória (Grace Passô), ascensorista da universidade. Ao longo das sessões, Camila se depara com uma realidade bastante violenta, já que Glória foi estuprada pelo próprio pai quando criança, e seu irmão, Jonas (Alex Brasil), é um perigoso bandido que está na prisão. Cada vez mais assustada com os relatos que ouve, ela se sente ameaçada, ao mesmo tempo em que Glória passa a vê-la como essencial em sua vida.

Crítica:

Tocando na ferida violenta do Rio de Janeiro em uma mescla de gêneros fílmicos como drama e suspense, a diretora Lucia Murat constrói um enredo corajoso a partir de um tema batido, contrastando a realidade de Glória na favela, com a de Camila, classe média e família portuguesa, mostrando como o psicológico de cada uma se molda a essa realidade: de um lado, a violência é apenas parte do cotidiano de Glória; do outro, a violência impressiona e choca Camila. O que faz o tiro sair pela culatra nesse caso é a estereotipagem das personagens em relação a cor da pele, a pouca profundidade da terapeuta reforçada por uma atuação que deixa a desejar e uma coleção de cenas dela sem fazer nada, refletindo, como se fosse tomar uma decisão, mas nunca toma. O que compensa nessa obra é como a direção consegue dar um bom ritmo ao roteiro e como este consegue sair um pouco da previsibilidade, sem que exista uma "vítima" puramente. 


Glória é interrogada
A partir do programa social do qual Camila faz parte, ela chega a atender Glória como sua paciente, mas o que é deixado de lado no roteiro é o porquê da importância insistente que Glória dá à essa terapia, visto que, apesar de viver cercada de violência, parece lidar bem com isso de forma segura, e percebemos durante o filme uma dependência muito maior dessa relação por parte da terapeuta, não da paciente, pois esta primeira passa o resto do filme pesquisando, investigando e refletindo sobre a vida de Glória, mas não vemos nenhuma urgência de Glória em relação à sua terapia.

Sangue, olhos vermelhos e vingança são elementos comuns durante a trama do filme, assim como a dualidade/disputa entre psicologia e religião como resposta aos problemas individuais. Outro ponto interessante no filme é como Camila se coloca no lugar de Glória e se esforça para compreendê-la, mas infelizmente a personagem nunca influencia ou tem peso na história, apenas é influenciada, e serve apenas para simbolizar uma realidade diferente da de Glória. O filme até força uma vida social de Camila com um namorado/ficante trocando algumas palavras entre os dois, mas ele é rapidamente retirado da história de maneira preguiçosa, ao contrário de Glória, que se aproxima de maneira natural de Samuel (Digão Ribeiro) e podemos nos identificar com ele e gostar da relação.

Jonas, irmão de Glória

Seguindo a linha cronológica e protagonizando indiretamente a trama através de seus atos, está o irmão de Glória, Jonas (Alex Brasil), que em suas poucas e fortes aparições fazem lembrar do personagem Hannibal Lecter, do livro e do filme O Dragão Vermelho, devido aos planos, enquadramentos e atuações que o tornam misterioso.

Quanto à parte técnica, o filme adota para Glória uma fotografia mais claustrofóbica com predominância do cinza, fazendo uma ligação com o seu irmão, que está preso, mas também usa-se azul e branco que transmitem uma certa tranquilidade e fala um pouco sobre a personagem. Abusa-se também do primeiro e do primeiríssimo plano como enquadramento de Glória e Camila, dando a entender que o psicológico é mais importante na história que os acontecimentos, e isso é aumentado com a trilha sonora dissonante e psicodélica.

Conclusão

"Praça Paris" é um ótimo filme considerando o ritmo dinâmico ao misturar diferentes estilos na narrativa, as atuações intensas de Grace Passô como Glória, as questões levantadas entre religião versus psicologia, dois mundos de diferentes classes sociais se chocando, além de não se manter previsível e de ter uma produção cuidadosa e coerente com o roteiro na trilha sonora, figurino, fotografia e direção de arte sem parecer forçado, mas peca no raso desenvolvimento da personagem Camila e nas atuações medianas dela.

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