Resenha: A era dos mortos - Parte 1 | Rodrigo de Oliveira

Título: A era dos mortos - Parte 1
Autor: Rodrigo de Oliveira
Editora: Faro Editorial
Páginas: 205
Classificação: Nenhum texto alternativo automático disponível. + 1*
Sinopse: Anos depois de Uriel tomar o poder em um golpe ditatorial, as outras vilas de sobreviventes do cataclisma ocorrido no planeta Terra, agora precisam lidar com mais do que os zumbis sem alma. Agora precisam lidar com o que há de pior e mais terrível no mundo. A crueldade humana.


                                Resenha


O homem é o lobo do homem (Thomas Hobbes)

O sétimo livro do autor brasileiro Rodrigo de Oliveira, “A era dos mortos – parte 1”...
Primeiro eu preciso parar e falar sobre o que é a série “Crônicas dos mortos” do autor. Basicamente, Rodrigo mistura o apocalipse bíblico com os famigerados zumbis. Na passagem bíblica, o terceiro anjo toca a trombeta e a estrela que é chamada “Absinto” cai sobre a terra, e um terço da água potável se transforma em absinto e pessoas morrem envenenadas aos montes. Na história de Rodrigo, o Absinto é um como um planeta vermelho que, inicialmente suspeita-se que ele vai se chocar com a Terra, causando a destruição global – e nesse primeiro momento, o mundo entra numa hecatombe social, as pessoas ficam desprovidas das amarras sociais e a anarquia toma conta durante um curto período. Entretanto, depois de estudos, os cientistas da NASA verificaram que o “planeta vermelho” iria passar perto da Terra sem se chocar.

O que ninguém esperava, era que, no dia 14/08/2018, o planeta vermelho, já próximo da Terra, fosse um dos responsáveis por transformar a vida na Terra. Com um calor de 50º C, aproximadamente, a cada 3 pessoas, 2 caíram desacordadas, só que não permaneceram assim, acordaram como criaturas sem alma e com um único instinto, o de se alimentar. E, a partir daí, a história do casal Ivan e Estela tem início.

Dado o resumo do livro – esse resumo é retirado das primeiras páginas de “O vale dos mortos”. Pois bem, durante 4 livros, a história específica desse casal é contada, com vários desdobramentos, de modo ao leitor sentir-se parte direta da história. E, durante os 4 livros, o pior inimigo da humanidade são os zumbis.
Grande parte do sucesso dessa saga se dá ao fato dos personagens serem extremamente carismáticos e, de certa maneira, as inúmeras decisões com um pequeno percentual de “erro”, vamos chamar assim, culminando com o maior foco brasileiro contra os zumbis, a cidade de Ilhabela.

No 5º livro, o princípio de democracia estabelecido por Ivan em Ilhabela, acaba cedendo com um plano maquiavélico do 2º em comando, Uriel. Com isso, a personagem principal da trama, Isabel, precisa fugir de Ilhabela e, junto com alguns sobreviventes, procura, de alguma maneira, se desvencilhar das garras dos ditadores de Ilhabela.

Além dessa fuga de Isabel – há ainda um componente em relação a Isabel que, para preservar a experiência, eu vou me preservar de contar – a história foca nas novas esperanças dos sobreviventes fora de Ilhabela, o menino Fernando e a menina Sarah que... bom, mais uma informação que, para o bem da resenha, terei que deixar de fora.

O homem é o lobo do homem.

Essa frase é do filósofo Thomas Hobbes (1588 – 1679), e, basicamente, tem a função de informar aos mais espertos que o pior inimigo do homem é ele mesmo. É a única espécie que é capaz de destruir o seu próximo.

O quinto livro tem essa função. Embora exista a ameaça zumbi, o principal inimigo torna-se o próprio homem. O indício de uma democracia criada por Ivan, infelizmente se esfacela pelo motivo que a frase de Hobbes é válida. A ganância não tem limites e Uriel consegue o seu intento.

Aliás, deixa eu traçar um paralelo aqui, me parece que TODAS as histórias séries de zumbis tem essa situação, a primeira ameaça em torno dos zumbis e, no segundo momento, na verdade, os homens, adaptáveis ao meio, sempre dão um jeito para fazer com que a frase do filósofo do século XVI, se torne um mantra. É um ciclo quase que interminável no mundo zumbi espalhado pela literatura, games e filmes, entretanto, é uma fórmula que dá sempre certo. 

Voltando...

O mecanismo de negociação entre as células sobreviventes é bem explorado. Cada célula tem algo que outra precisa - essa é uma base de sobrevivência em caso de apocalipse zumbi, vale anotar - e a troca e o escambo acabam sendo o melhor meio de troca de bens. E esse é, como eu disse, um bom ponto explorado - diferencia dos outros livros zumbis da cultura pop atual...

Se o sistema de troca ficasse para sempre na sociedade, talvez a frase de Thomas Hobbes não fosse válida até hoje - 2 séculos depois. Então, é de se previr que a ganância vai prevalecer no ego de alguns que, normalmente, mudam a história da humanidade, mas, no caso zumbi, querem se tornar poderosos. E, o filho de Uriel assume esse cargo.

Ele é o elo mais fraco do livro. Personagem fraco. Acho que poderia ter sido trabalhado muito mais, ter mais impacto, se tornar o grande vilão estilo "governador", que assombra os fãs de TWD até hoje.

Concluindo

A saga zumbi brasileira, como um todo, é uma excelente pedida. É capaz de fazer com que os personagens sejam apaixonantes, ao mesmo tempo que sejam "monstros" e, mostram que, acima de tudo, os humanos erram e, o ideal dos protagonistas perfeitos (vai aí uma crítica a alguns livros românticos por aí), não existem. O "super-homem" não existe e, mesmo nas piores situações, fazer com que um homem tenha toda a responsabilidade do mundo tem uma tendência para o mal. Sempre e sempre para o mal.

*+1

Por último, assim como o livro, quero explicar esse "*+1". 

Durante todo o livro, há uma personagem chamada "mãe da Sarah". E a mãe da Sarah era uma personagem feminina. Talvez por transformar uma personagem e ainda uma mãe de família em algo impessoal. E, eu falava com o cara que apresentou essa série pra mim - abraço, Nilson -  que isso me incomodava ao ponto de quase desistir da leitura. Sei lá, talvez tivesse sido uma reação muito exagerada da minha parte, mas de fato, cada vez que a "mãe da Sarah" aparece na história, fica uma sensação meio de sufoco. 

Não vou falar o destino da "mãe da Sarah", mas é algo que acontece com uma certa frequência e, há algum tempo, nós, homens, nos calamos, protegemos os caras que são abusivos. Não vou entrar muito nesse papo - talvez em um outro livro, e ainda assim, andando em ovos - mas quero dizer que a decisão de colocar "a mãe da Sarah" é muito bem sucedida. Ela é explicada na última página e fez com que todo aquele sufoco que me dava ao ler "a mãe da Sarah", saiu e fez até com que eu respirasse aliviado. 

Então, essa resenha é dedicada a "mãe da Sarah". A todas as "mães da Sarah" que existem por aí e são assombradas, pelos mais cruéis "zumbis" e pelos lobos que se fingem em pele de cordeiro por aí. 

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