Título: O Amor nos Tempos do Ouro
Editora: Globo Alt
Autor: Marina Carvalho
Número de páginas: 328
Classificação:
Sinopse: Cécile Lavigne é uma franco-portuguesa que veio ao Brasil consolidar um casamento arranjado com um aristocrata de Minas Gerais, dono de terras e de escravos, bem mais velho do que ela, e por quem ela sente profundo desprezo. Enquanto lida com o turbilhão de sentimentos que a desequilibra, Cécile viverá diversas provações nessa nova terra que será sua casa, e talvez se entregue a um grande amor.
Resenha
Após perder a família, Cécile Lavigne desembarca no Rio de Janeiro nas terras de seu tio Euzébio, um homem ganancioso e mais do que disposto a permitir a concretização de um casamento arranjado para a jovem francesa com Euclides de Andrade, um velho inescrupuloso e dono de muitas terras em Minas Gerais. Para que Cécile chegue em segurança à Fazenda Real, seu futuro marido solicita os serviços do explorador Fernão Lopes, alguém que até então deseja apenas cumprir com o que lhe foi determinado.
Sabia que seria impossível simplesmente se conformar com o que a vida andava tramando contra ela. Por outro lado, o que o futuro lhe guardava era desconhecido. E se ela ainda fosse merecedora de receber algo de bom do destino?
No caminho para Minas Gerais, Cécile enfrenta grandes desafios e surpresas, descobrindo as belezas e as histórias do Novo Mundo, bem como conhecendo um pouco mais Fernão, um homem cuja generosidade está mais do que presente mesmo em meio a seus serviços quase sempre escusos. Disposta a questionar e ir contra as cruéis imposições em sua vida, Cécile faz um único pedido ao explorador. Mas será que Fernão estará disposto a ajudá-la?
Desde essa época pôs-se a questionar por que as mulheres eram tratadas como objetos pelos homens. Tudo de ruim recaía sobre elas no final das contas, enquanto, para eles, a tolerância por seus atos quase não tinha limites.
Sempre que leio um romance histórico penso muito no tempo de pesquisa do autor e, consequentemente, no árduo trabalho ao escrever cada capítulo da maneira mais fiel possível, tendo cuidado para transpor ao papel os hábitos, crenças e estilo de vida de uma sociedade e época. Com O Amor nos Tempos do Ouro não foi diferente. Ainda nas primeiras páginas, fiquei encantada com o enredo e na maneira pela qual os personagens principais se tornavam cada vez mais apaixonantes.
— Isso se não contarmos o beijo que trocamos em teu quarto — ele provocou, aproximando os lábios do ouvido dela. — Não foi impróprio o suficiente?
Com uma narrativa envolvente e que mescla todos os ingredientes necessários para um bom romance, a obra nos faz viver um período da história brasileira que reflete o sofrimento dos escravizados, a exploração desmedida da Coroa Portuguesa e a ganância dos senhores abastados que se importavam apenas com os lucros. Em meio a isto, nos deparamos com a luta de pessoas em busca da liberdade, da possibilidade de serem donas de suas próprias vidas.
Casar-se com ela, de repente, surgia como a opção perfeita. No entanto compreendia que, se aceitasse a proposta, a motivação de Cécile seria a necessidade extrema de se dar uma chance de viver livre e bem.
Narrado em terceira pessoa, o livro nos permite conhecer e refletir um pouco sobre cada um dos personagens, apresentando também fragmentos do diário de Cécile Lavigne e das cartas de Fernão para a francesa que se apossou do seu coração de mansinho. Além disso, conhecemos também as lutas de personagens secundários como Malikah, Hasan e Akin; o interesse desmedido de Euzébio e Euclides e o início da redenção de Henrique. Com os personagens, visualizamos os tipos humanos que construíram o Brasil tal como ele é.
— Mas meu prazer não é mais importante que tua vontade. Não vou te forçar nem tentar convencer-te.
O aventureiro Fernão, embora disposto a garantir que a francesa Cécile chegue ilesa à Fazenda Real, sabe muito bem o sofrimento pelo qual ela passará caso tenha que se casar com Euclides. Ele resiste até o momento em que seus sentimentos por Céci crescem sem controle e, disposto a salvá-la, planeja uma arriscada fuga. Fernão Lopes é destemido, o típico protagonista que é apaixonante pela garra que tem, pela maneira como assume as falhas, mas vive para superá-las e lutar pelo que acredita. Cécile, por sua vez, é a protagonista que mesmo em meio a dor ainda é capaz de amar seus semelhantes, de enfrentar as maldades e ser dona do seu próprio destino.
E que o céu tenha piedade da minha alma no fim dos tempos, por eu amar-te tanto assim.Teu Fernão.
O que me faz amar ainda mais este livro foram as discussões trazidas por ele, como a escravização dos africanos, a exploração do ouro nas Minas Gerais, a maldade de homens sem escrúpulos (que se camuflam com discursos baseados, erroneamente, na fé), o arrependimento e o empoderamento feminino. Esta obra se tornou uma das minhas favoritas e recomendo muito a leitura. Para quem ama romances históricos, O Amor nos Tempos do Ouro é de leitura fundamental, especialmente porque retrata parte da história do nosso Brasil.
— Não permitas que os seres humanos sejam rotulados pelo tom de pele, ou pela origem, ou qualquer bobagem dessas. Essas pessoas, os africanos, não pediram para viver aqui. Por que, diabos, pensas que podes tratá-los como bichos?
Que tal viver o amor no auge dos tempos do ouro?
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