Resenha: Amor de Cordel | Andrea Marques


Título: Amor de Cordel
Editora: Pandorga
Autor: Andrea Marques 
Número de páginas: 398
Classificação: Nenhum texto alternativo automático disponível.

Sinopse: Aos 38 anos de idade, Carolina Borges achava que tinha a vida perfeita. Casada com Miguel, era feliz mesmo sem ter realizado o sonho da maternidade. No entanto, a convivência com o marido e seu bom desempenho profissional a deixavam satisfeita e segura. O destino lhe prega uma peça e, sem esperar, ela vê sua vida se modificar significativamente. Seu casamento chega ao fim, e sua carreira como terapeuta ocupacional, que sempre lhe proporcionou alegrias, passa a torturá-la. Isso acontece quando o jovem arquiteto Alexandre Bastos entra em seu consultório pela primeira vez, despertando em Carol sentimentos conflituosos que a farão repensar seus valores e a obrigarão a sair de sua zona de conforto para se arriscar em terrenos desconhecidos que poderão colocar em risco sua própria vida. Permeado por traições e intrigas, Amor de cordel é um romance contemporâneo que traz à tona assuntos do universo feminino, além de despertar a paixão até nas mulheres mais modernas e independentes.



Resenha


A terapeuta ocupacional Carolina Borges acredita que seu casamento é firme o suficiente para não possuir riscos de rompimento. No entanto, quando Miguel, seu marido, pede o divórcio ao assumir que está apaixonado por outra mulher, Carol vê algumas de suas convicções desmoronarem. A mudança é inevitável e ela precisa restabelecer a força interior para seguir com a vida, aproveitando para se dedicar ainda mais ao trabalho que tanto ama. Contudo, em um de seus atendimentos ela conhece o jovem arquiteto Alexandre Bastos e uma conexão inexplicável surge entre ambos. A paixão é inevitável, mas como lidar com as diferenças e as situações impostas entre o relacionamento deles?


[...] meu problema era esse, aceitar tudo passivamente e não lutar pelo que eu queria.

Amor de Cordel é um romance contemporâneo e que faz com que o leitor reflita, problematize e analise bastante as situações vividas pelos personagens. De todos os pontos importantes na obra, um dos que mais merece destaque é o fato de a personagem principal ter trinta e oito anos e a autora apresentá-la com tamanha propriedade, evidenciando como ela foi bem construída. Carolina supera as situações de sua vida com coerência e maturidade embora, algumas vezes, também se equivoque e erre assim como qualquer ser humano. Mesmo com a separação, a personagem conduz o leitor a pensar,  em meio a dor, que mais importante do que permanecer em um relacionamento é garantir o amor em todos os âmbitos.


Eu tinha, naquele instante, a chance de mostrar que poderia ser mais do que aquilo que eu permitia as pessoas perceberem.

Além disso, outro aspecto a ser considerado é o fato de Carol ser terapeuta ocupacional e isso permitir a visibilidade de uma profissão que, infelizmente, muitas pessoas têm uma visão equivocada e que, no Brasil, pouco se divulga sobre ela. Através dos fluxos de consciência de Carolina o leitor conhece a profissão, o dia a dia, um esboço da maneira como as terapias são realizadas tanto no SUS como em clínicas particulares. É válido ressaltar também como a personagem, com muita sensibilidade, expõe as relações sociais na área da saúde e como isso pode contribuir para o bom andamento dos processos terapêuticos. 


Mas me dei conta de que nada de especial aconteceria e que dali em diante eu seguiria sozinha.


Ainda assim, a vida de Carol também assume novos contornos e ela aprende que é necessário romper com os nossos próprios preconceitos para fazermos aquilo que desejamos e que cada pessoa, ao seu modo, tem momentos difíceis,  de dor e de superação. As subtramas são muito bem exploradas e as atitudes dos personagens secundários também garantem a reflexão. Os "nós" da narrativa são bem amarrados e conduzidos.


[...] afinal só é possível sermos felizes se acreditarmos que mesmo perante tantas adversidades e erros diários ainda somos capazes de sonhar.

Alexandre é uma mescla do jovem empreendedor e bem sucedido com alguém que, devido a idade, ainda tem suas inseguranças e pontos a amadurecer. Apesar disso, ele é fofo, romântico e decidido, o tipo de homem que sabe o que quer e luta pelo que acredita. Embora algumas vezes, no livro, ele represente a emoção e a razão fique por conta de Carolina, o casal se completa porque ambos erram e percebem a importância de lidar com isso da melhor maneira possível. Na relação deles, Alexandre se entrega totalmente enquanto Carol se mantém um pouco presa ao pensar na dor de uma possível separação e no fato de ser mais velha do que ele. Na narrativa, Carol também expõe muito a preocupação com o fato de o amado ser oriundo de família rica, algo que prepara o leitor para as maldades do irmão adotivo de Alexandre, alguém a quem a inveja e a ira desmedida dominam.


Mas como explicar todas as dores do mundo, ou melhor, como aceitar que são elas que nos fazem crescer e aprender?
Em alguns trechos, a raiva talvez seja uma aliada da leitura, especialmente porque é possível acompanhar o preconceito enfrentado pelos amigos e vizinhos de Carol, um casal homossexual. O livro, cujo tempo cronológico se passa em 2010, mostra muito sobre a necessidade da aceitação em vias legais do casamento homoafetivo. Outro aspecto revoltante é a maneira como o pai de Alexandre trata a Carol. Contudo, acrescento que algumas atitudes da Carolina também me incomodaram durante a leitura. Após uma situação conturbada e eletrizante, perto do desfecho da história, Carol mente deliberadamente ao depor na delegacia para salvar um de seus "algozes". Compreendi o fato de ela querer protegê-lo (ao ler será possível entender isto) e a crítica foi positiva sobre como, em algumas situações, as pessoais ficam encurraladas àquilo que não concordam em uma sociedade tão cruel, mas acho que ela poderia livrá-lo inventando outra história... E, quando pensamos que a situação do casal vai se resolver sem maiores transtornos, uma possibilidade abala a Carol e ela divaga sobre isso como se fosse uma verdade imutável.


— Sabe, às vezes os nossos olhos nos enganam. Nem sempre as coisas são o que parecem ser. É preciso estar atento.

O romance entre Carol e Alexandre é fofo do início ao fim e esboça muito a superação e a maneira como é necessário aceitar o outro, compreendê-lo, tornar o relacionamento uma caminhada lado a lado. O livro traz uma narrativa madura, que propicia ao leitor passar um bom tempo pensando nas possibilidades e acontecimentos e isso é, sem dúvida, algo muito positivo. Gostei muito da leitura e indico para quem gosta de tramas que retratam a vida em seus diferentes aspectos, os bons e os ruins.

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