Hereditário realmente é um trabalho cinematográfico espetacular
que merece todo tipo de divulgação e comentários elogiosos. Contudo, a
sua divulgação foi um tanto perigosa por comparar este trabalho com o
clássico de terror O exorcista (1973). É compreensível que, ao surgir um novo
filme de terror que mereça elogios, ele seja comparado a uma das obras
mais completas e brilhantes da história do gênero; a crítica a esta
comparação está diretamente ligada a uma interpretação errada quanto ao
subgênero que pode ser feita, levando até mesmo a uma queda de
apreciação por parte dos espectadores, uma vez que ele não se assemelha
muito com The exorcist (título original do clássico). A película de Ari Aster se assemelha muito mais com a fusão do sobrenatural e o tormento psicológico de O bebê de Rosemary (1968), do que com o longa de William Friedkin, por exemplo. Ou se assemelha muito mais com os recentes filmes do gênero que mexem com a mente, incitando o medo ao longo da narrativa, como Corrente do mal (2014), A bruxa, Ao cair da noite, Corra! (2017) e Um lugar silencioso (2018).
O
que deve ser absorvido como resultado do produto da A24 é a
grandiosidade e qualidade dele e o quanto ele pode influenciar outros
tantos filmes que estão por vir. Aster
mostrou que ainda existe uma chance para o subgênero sobrenatural de
uma forma criativa, inovadora e aterrorizante. Ele presenteou o mundo
com uma verdadeira obra que dá medo. Quem sabe, com a estreia de Hereditário, o público passe a atender que nem todo filme de terror tem que ter momentos de "scary jump" atrelados a um exagero de sangue em cena e sons que ensurdecem o espectador. Quem sabe agora, graças a este e tantos outros sucessos recentes, o gênero do horror passe a ser respeitado outra vez. A estreia de Aster é um marco para a produtora independente por ter alcançado a maior bilheteria da empresa em semana de lançamento e, principalmente, é um marco para a indústria do terror que passará a olhar novos talentos como Aster, John Krasinski, Jordan Peele, Trey Edward Shults, Robert Eggers e David Robert Mitchell com outros olhos. Dessa forma, Hereditário já se tornou muito mais do que um sucesso do gênero; ele se tornou uma herança de renovação.
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