Resenha: Suicidas | Raphael Montes

Título: Suicidas 
Autor: Raphael Montes
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 430
Classificação:  Nenhum texto alternativo automático disponível.
Sinopse: Nove adolescentes. Todos mortos em um jogo de roleta russa. Um ano depois, a delegada Diana acredita ter encontrado a possível solução para esse mistério. Por que os jovens que, aparentemente, não possuiam motivos para isso realizaram um jogo tão mortal? A reunião com as oito mães se tornará uma chave para a compreensão de um mistério tão terrível. 





Disclaimer:

Antes de começar a falar sobre esse livro do gênio do terror psicológico brasileiro, vão algumas informações interessantes para quem quer se aventurar por esse livro "doentio"...

1) O livro possui gatilhos. Como o próprio nome já diz, ele tem gatilhos para pessoas que são depressivas. A depressão é o grande mal do século e, talvez, de todos os outros séculos. Portanto, se você leitor, se interessar por esse título, saiba que são gatilhos fortíssimos. (Não, não sou suicida, mas de certa maneira, convivi intensos 13 anos com a depressão de terceiros próximos, inclusive com o suicídio/tentativa);

2) Disse lá em cima que o livro é "doentio" e que considero ele um gênio, porque o gênio é aquele que rearranja os pensamentos e métodos organizativos de um modo que ninguém pensou. E a idéia do livro, confesso que eu nunca tinha visto em todos os meus 20 anos de leitor assíduo. Já ouvi de autores que colocaram uma colher de arroz cheia de sal na boca para experimentar uma sensação crucial de desfecho para personagem. Considerei a coisa mais maluca que um autor tinha feito para entender o que estava escrevendo - um dia falo desse outro livro genial -, mas nada, absolutamente nada chegou perto da idéia e do desfecho dessa história;

3) Pra quem não sabe, a resenha vai abordar o jogo da roleta-russa. Não vou explicar o que é. Talvez seja inocente da minha parte achar que você, leitor da resenha, não saiba e/ou nunca tenha ouvido falar de roleta-russa, mas, caso esse seja o caso, não é aqui que você vai encontrar essa definição.

Os avisos estão dados, só lembrando ainda que a resenha não vai ter spoiler. Vou caminhar nessa linha tênue e perigosa, assim como o livro. 

Resenha:

O livro possui dois núcleos, explorados pelo ponto de vista de Alessandro, um dos nove jovens suicidas, de duas perspectivas diferentes. A primeira delas, o menino fez um relato dos últimos momentos dos jovens até o local onde se daria a roleta russa. Cyrille's house. Esse, lido no presente, na reunião da delegada Diana com as mães, um ano depois do ocorrido. E o segundo, um diário encontrado no quarto de Alessandro contando, bom, o que um diário conta, normalmente. Não sei se você, leitor, teve um diário, daqueles de papel, caderno mesmo. Quase como um meio particular de entender o que eram os nove amigos (ou não), suas personalidades e o que permitiam que a sociedade via. Esse aqui, contado no passado. 

Embora contam as personalidades dos nove jovens, os que realmente são dado ênfase são o Alessandro e seu melhor amigo, Zak. 

Zak é o típico playboy, filho do empresário Getúlio Rodrigues e de Maria Clara (criadora da Cyrille's house - as primeiras páginas do livro), levando uma vida de playboy carioca ao extremo. O típico cara que as garotas se apaixonam, boa pinta, lábia, loiro, enfim... o homem idealizado, que, perde tudo quando seus pais sofrem um acidente de carro, retornando da casa de campo do casal (Cyrille's house). Por causa disso, a vida perde o sentido e, acaba idealizando o plano da roleta russa.

Já Alessandro é o tipo inteligente, que gosta de ler. Tem um sonho de ser escritor, mas não consegue emplacar nenhum livro. É o tipo de cara que passaria despercebido na multidão. Não tem grandes características físicas e um professor diria que não tem grandes virtudes . Aparentemente não tem nenhuma grande ambição, exceto a de ser um grande escritor como os autores que ele lê e, nessa premissa e por esse motivo, decide escrever os últimos passos como sendo o seu grande livro. 

Os outros sete jovens são: 

Danilo, o vizinho de Zak com síndrome de Down, que gosta muito dele e considera seu grande amigo. É inocente como uma criança. 

Maria João: aparentemente, a mais racional do grupo. Alessandro diz que ela parece um menino, mas é a pessoa que mais encantou o escritor e tiveram um caso rápido. Viu seus pais se separarem e se tornou responsável por cuidar do seu irmão Lucas, que é um suicida em potencial e de sua mãe. 

Lucas: irmão da Maria João. Um punk, gótico, que já tentou se suicidar por problemas psicológicos, mas foi salvo pela sua irmã. Fazia tratamento, mas aceitou se juntar ao grupo. 

Ritinha: A gostosa da turma. Foi um dos casos de uma noite de Zak. O motivo dela participar do jogo é incerto - sem spoilers, lembram?

Noel: Apaixonado pela Ritinha. Um amor não correspondido. E que faz o menino ficar maluco. Aqui vai uma dica, ele é autor de uma das cenas mais bizarras e sem-noção do livro - a parte do "elogio" doentio tem boa parte por essa cena. 

Waléria: Durante o ano, Zak e Alessandro fizeram uma aposta daquelas bem adolescentes e, baseado nessa aposta, Zak também teve o caso de uma noite com Waléria. A menina é uma das mais perspicazes e inteligentes da história, mas teve seu motivo para participar desse jogo - outra vez, sem spoilers.

Otto: Pra mim o pior personagem, motivação tosca, quer dizer, ele era muito estranho (palavras do Alessandro). Não tem muito o que falar dele não. Só acho que o esteriótipo não foi tão bem explorados.

Estava pensando se falaria dos outros jovens, se seria algum spoiler, mas pelo bem da resenha, tive que citar algumas características para ilustrar que seriam jovens que poderiam estar andando na rua ou sentados no transporte público do seu lado. 

Os capítulos se revezam entre a história atual - as mães vivenciando novamente o drama de ver seus filhos assassinados - e o diário de Alessandro. Em algumas palavras, diria que o aspectos dos capítulos no "presente" são aflitivos e dramáticos. As vezes, eu me coloco no lugar dos personagens daquele momento. No caso, cada capítulo atual, relatava a história de um ou dois dos jovens e as mães interagiam com a delegada. E eu sempre tentava me colocar no lugar das mães. É aflitivo. Não a aflição dos gatilhos que eu mencionei nos disclaimers, mas aquela aflição natural de imaginar uma mãe passando por isso de novo e de novo.

Por fim, o livro é cheio de esteriótipos, talvez por isso a conclusão dele seja algo inesperado. O ilusionismo do autor de thriller é bem aplicado nos livros do Raphael. Já fiz uma outra resenha de um livro surpreendente do autor aqui. Mas acho que o livro perde um pouco pelo final. É meio paradoxal dizer que o final é o ponto crucial, a chave para a resposta do mistério, mas também é algo que foge do clima da leitura. 

Concluindo...

O livro é excelente. Mas é complicado. Pelos motivos descritos acima, eu posso recomendar o livro (como me recomendaram), mas tem que tomar muito cuidado com quem lê. Em um tempo onde não conhecemos as pessoas, qualquer coisa pode ser um gatilho. 

Entretanto, pra quem se considera forte, é um livro que mostra que a mente humana é um labirinto muito cruel e implacável e que ainda vale conhecer um pouco mais da mente...

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