Título: Slender Man - Pesadelo Sem Rosto
Direção: Sylvain White
Elenco: Joey King, Julia Goldani Telles, Jaz Sinclair, Annalise Basso e Javier Botet
Classificação:
Sinopse:
As amigas
Wren, Hallie, Chloe e Katie levam uma vida entediante no colégio. Quando ouvem
falar num monstro chamado Slender Man, decidem invocá-lo através de um vídeo na
Internet. A brincadeira se transforma num perigo real quando todas começam a
ter pesadelos e visões do homem se rosto, com vários braços, capaz de fazer as
suas vítimas alucinarem. Um dia, Katie desaparece. Como a polícia não dispõe de
nenhuma prova para a investigação, cabe às três amigas fazerem a sua própria
busca, enfrentando a criatura.
O horror mal usado
As
lendas urbanas são um alicerce poderoso para o universo do horror. As
criaturas assombram gerações com mistérios cujo levantam eternamente uma
dúvida quanto a veracidade dos fatos relacionados as suas histórias. O próprio cinema de terror foi forjado através de fábulas contadas há séculos, tendo Nosferatu (1922), dirigido por F. W. Murnau, como o clássico que apresentou para o mundo a primeira imagem visual concreta do que seria essa criatura mítica. Além do velho vampiro, a caminhada inicial do gênero se sucedeu com outras produções baseadas em contos assombrosos, a exemplo de A Múmia (1932) e O Lobisomem (1941). Ao longo dessa trajetória
muitas lendas urbanas foram centro de narrativas fílmicas, em especial
nas décadas de 1980 e 1990, no auge do terror, através de películas como The Loch Ness Horror (1982), O mistério de Candyman (1992), a franquia Lenda Urbana (1998 - 2005), A bruxa de Blair (1999) e até mesmo uma das melhores versões (dentre as dezenas existentes) sobre o nosferatu com o longa-metragem de Francis Ford Coppola intitulado originalmente como Bram Stoker’s Dracula, de 1992.
Segundo o folclore, o Slender Man é um ser anormalmente alto, tem braços que se transformam em tentáculos, usa um terno preto e não tem rosto, apenas uma face branca sem nada. O ser sobrenatural foi criado pelo website Something Awful,
em junho de 2009. A partir da montagem postada no site com essa figura
fictícia, a sua imagem logo se tornou viral e, em seguida, começaram a
surgir diversas histórias sobre ele.
Alguns anos depois da lenda urbana
ter sido desenvolvida e compartilhada para o mundo, ocorreram incidentes violentos os quais geraram uma onda de pânico acerca do conto. Um desses acontecimentos marcou e chocou o mundo. Em maio de 2014, no estado de Wisconsin (EUA), duas meninas de 12 anos, Anissa Weier e Morgan Geyser, atraíram sua amiga Payton Leutner para a floresta como uma oferenda para o Slender Man. Com o intuito de ganhar a atenção da criatura, as duas garotas esfaquearam Payton 19 vezes. A jovem conseguiu se arrastar até a beira da estrada onde foi encontrada e levada para o hospital. Anissa e Morgan foram julgadas inocentes por razões de insanidade e, em fevereiro de 2018, foram condenadas a passar um longo período em uma instituição de saúde mental.
Na semana passada, o público estadunidense foi o primeiro a ter acesso ao resultado da nova produção da Sony Pictures: Slender Man – Pesadelo Sem Rosto. Baseado na narrativa ficcional do humanoide, o longa tem como objetivo colocar essa alegoria da
web de volta em pauta e, dessa forma, trazer toda a atmosfera de medo
que envolve o seu conto. A resposta do público não foi tão positiva
quanto o estúdio esperava. A sua estreia nos cinemas brasileiros vai acontecer nesta quinta-feira (16).
A mitologia que ronda a figura do Slender
Man seria, em teoria, o suficiente para dar vida a um filme de terror
sem igual. Contudo, o trabalho entregue ao espectador não alcança as
expectativas criadas desde o anúncio da produção do longa. O que pode
ser visto é a tentativa excessiva de criar uma obra aterradora por meio
de sombras, escuridão e imagens bizarras. Na verdade, a película é bem
interessante na sua primeira meia hora e consegue criar o ambiente de
tensão desejado e necessário. O desenrolar da próxima hora é que se
torna um problema.
A direção de Sylvian White (Os Perdedores, de 2010)
não se mostrou plenamente eficiente para guiar a história do meme
sobrenatural que ganhou o mundo há nove anos. O argumento da adaptação é
agradável e dá uma liberdade criativa para a obra. A problemática do
roteiro de David Birke (Elle, de 2016) está no desenvolvimento final o qual poderia ser muito mais surpreendente – além dos fatos ao longo da narrativa que causam incômodo no espectador por serem coisas desconexas cujo geram buracos. Resumidamente, Slender Man se mostra como um filme que poderia muito mais do que conseguiu.
O
medo e a tensão envolvidos na ficção sobrenatural que deu origem ao
longa-metragem está presente na sessão. Já o horror que faz o espectador
temer a própria sombra, esse não foi alcançado. Faltou um pouco de
desenvolvimento em alguns fatos da narrativa para causar esse efeito
almejado. Inclusive, é interessante perceber que a Sony Pictures lançou
dois trailers oficiais esse ano, onde o primeiro aparenta ter exatamente
isso que faltou. Talvez o estúdio tenha demandado mudanças para a
edição final da obra e foram elas que levaram para o resultado visto. O que pode ser observado com esse trabalho da Sony é a linha tênue que uma história de terror vive. Slender Man – Pesadelo Sem Rosto é a prova de que os detalhes são os responsáveis por criarem o que há de melhor e pior.
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