Direção e roteiro: Spike
Lee
Elenco: John David
Washington, Adam Driver, Laura Harrier, Topher Grace
Lançamento: 10 de
agosto de 2018 (EUA) e 22 de
novembro de 2018 (Brasil)
Sinopse: Ron
Stallworth (John David Washington) é
um novato, negro, na polícia de Colorado Springs, durante o movimento dos
direitos civis nos EUA na década de 70, que tenta se infiltrar na sessão local
da Ku Klux Klan com ajuda do seu colega judeu Flip Zimmerman.
O renomado diretor
Spike Lee aparece novamente na tela de prata, trazendo consigo temas e
posicionamentos políticos já explorados previamente por ele em outras
empreitadas, como Faça a Coisa Certa
(1989) e Malcom X (1992). Racismo institucional,
preconceito, segregação, violência policial e ativismo político continuam a ser
os pontos que movem a obra cinematográfica de Spike Lee.
Baseado numa
história real, abrindo certas exceções para construção dramática, o roteiro de
Lee está longe de ser mais uma comédia policial qualquer entre dois parceiros
da lei, apesar de ser legitimamente cômico e apresentar momentos levemente
jograis, mas sagazes. A partir da primeira hora de filme a trama e os diálogos
ficam cada vez mais incisivos nas suas colocações políticas e na transmissão da
sua mensagem antirracista e progressista. De modo que começa a perturbar o
interlocutor com a feiura dos seus temas, personagens e da realidade
norte-americana da década de 70. Chegando num ponto em que não se sente mais
vontade de rir, mesmo com o humor continuando afiado. O final é simplesmente
chocante e visceral.
Entretanto, a trama não flui de forma
impecável, sofre de alguns soluços no seu ritmo bem no meio da projeção. Ela é
rápida e marcha direto para o pertinente, não abre espaço para cenas muito
abstratas ou especulativas, mas também
não se dispôs claramente a fazer isso em nenhum momento. Também por conta da
urgência de sua mensagem, não desenvolve seus personagens para além do que se
mostra imediatamente relevante no desenrolar da história. Eles não aparecem
unidimensionais, especialmente o personagem de Adam Driver, mas é um ponto
relevante a se notificar.
Alec Baldwin
aparece na pele do Dr. Kennebrew Beauregard, interpretando um porta-voz da
propaganda pró-segregação social e racial norte-americana, com tiques que
aludem ao contemporâneo apresentador da internet Alex Jones, da Info Wars. Topher
Grace é um David Duke extremamente fidedigno e igualmente nojento. Não
obstante, a química entre Adam Driver, John David Washington e os outros
policiais ofuscam as demais relações entres os personagens do filme, é hábil e
simpática, sempre ávidos para demonstrar que organização e os membros da Ku
Klux Klan são idiotas.
John David Washington já tinha mostrado
potencial na série de TV Ballers, mas
ele brilha mais forte do que nunca em Infiltrado
na Klan, por fim silenciando qualquer crítica sobre suas capacidades. Seu
berço não só lhe abençoou com conexões na indústria do cinema, mas também lhe deu
talento de sobra. John David Washington tem tudo para se tornar tão grande
quanto seu pai e mentor Denzel Washington.
No geral, a
cinematografia não é extremamente artística (talvez meia dúzia de cenas e fotos
piamente belas), mas o agregado do filme é moralmente estonteante. Pode ser
grosseiro, incomodo e pesado, mas é exatamente o tipo de exposição provocativa que
precisamos no momento atual, na qual presidentes eleitos passam pano para
manifestações neonazistas/neofascistas.
Não cometa meu
erro e ingenuamente espere um Black
Dynamite (2009) dessa história. No filme, Spike Lee, ao citar e expor filmes de Blaxploitation e Birth
of an Nation (1915), de forma metalinguística, não concorda com
a fala do seu protagonista Ron, de que “é apenas um filme”, a sétima arte vai
muito além dessa simplificação, pode ser também uma forma de controlar e
manipular a linguagem das massas.
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