Crítica | A favorita

Título : A favorita
Direção: Yorgos Lanthimos
Elenco:Olivia Colman,Emma Stone,Rachel  Weisz,Nicholas Hoult, Joseph Alwyn , James Smith (III), Mark Gatiss
Nacionalidade:Inglaterra, Irlanda
Classificação:
Sinopse:  Na Inglaterra do século 18, Sarah Churchill, a Duquesa de Marlborough, exerce sua influência na corte como confidente, conselheira e amante secreta da Rainha Ana. Seu posto privilegiado, no entanto, é ameaçado pela chegada de Abigail, nova criada que logo se torna a queridinha da majestade e agarra com unhas e dentes essa oportunidade única.
                               Crítica

Líder em indicações ao Oscar, ao lado de Roma, com 10 indicações, A favorita é um misto de comédia com drama épico, que tem como mote: a disputa de duas mulheres (Rachel Weisz e Emma Stone) pela atenção da Rainha Anne (Olivia Colman) e todos os privilégios decorrentes de uma relação íntima com a soberana máxima da Inglaterra absolutista do século XVIII.

O filme se inicia com Abigail (Stone) e Sarah (Weisz) ocupando posições completamente distintas no tabuleiro do xadrez social: a primeira é uma criada que vive em condições vis e degradantes no castelo onde mora Anne e a segunda é a principal confidente e amiga íntima da Rainha, exercendo total controle e influência sobre esta, funcionando como a verdadeira tomadora de decisões da corte. Num golpe de "sorte" do destino (neste caso, quase que completamente arquitetado por ela mesma, o que justifica as aspas), Abigail acaba por se infiltrar entre Anne e Sarah, ao virar uma espécie de assistente da segunda.

A partir daí desenrola-se um verdadeiro e sangrento - literalmente - duelo, despido de qualquer vestígio de escrúpulo ou moralidade, entre essas duas personagens. Aqui vale um parênteses: as cenas de tiro, envolvendo Abigail e Sarah, valeriam por todo um filme, mas aqui muito mais é entregue ao espectador.

Curioso notar como neste duelo Abigail (Stone) e Sarah (Weisz) utilizam as vulnerabilidades da Rainha Anne de formas completamente distintas para conquistar sua afeição. Com efeito, Sarah se vale da fragilidade emocional e física de Anne para aumentar sua dependência emocional para com ela, numa dinâmica na qual colocar Anne pra baixo sempre aumenta a distância entre elas, reforçando em Anne a crença que não é digna de Sarah em toda sua força e beleza. Já Abigail faz o extremo oposto: mapeia as carências da Rainha e busca (raramente com sucesso) alimentar seu ego e autoestima, tentando fazê-la acreditar que é merecedora de toda sua admiração e afeto e que, assim, não há segundas e torpes intenções na maneira com a qual lhes dedica.

Ainda mais curioso é notar como o diretor e os roteiristas, apoiando-se numa atuação magistral de Olivia Colman, subvertem as regras do jogo, revelando, pouco a pouco, que a patética rainha Anne está tão ou mais consciente do que as outras duas das estratégias por elas utilizadas, ao tempo que também tem a sua própria.

Escalada para viver a Rainha Elizabeth na terceira temporada de The Crown, Olivia Colman despe-se aqui de toda vaidade, com inúmeras cenas memoráveis, devastadoras em sua fragilidade, e sedimenta seu nome como uma das grandes atrizes da geração. Caso não estivesse enfrentando Glenn Close numa atuação igualmente assombrosa de tão boa em "A esposa" (e vinda de seis outras indicações sem vitória), certamente Colman dispararia na corrida do prêmio de melhor atriz no Oscar 2019.

O filme é, no entanto e merecidamente, favorito ao prêmio de melhor roteiro original. Escrito a quatro mãos por Deborah Davis (historiadora em primeira investida cinematográfica, há 20 anos lapidando e tentando tirar o projeto do papel) e Tony McNamara, o roteiro é rico em diálogos (não convém poupar adjetivos ) ágeis, inteligentes, ferinos e dúbios que fornecem às atrizes todo o armamento necessário para o embate. Colman, Weisz e Stone deitam e rolam e não desperdiçam a oportunidade: todas as três foram indicadas por suas atuações, concorrendo Weisz e Stone pelo prêmio de atriz coadjuvante.

Com trilha sonora incisiva que acompanha a crescente de tensão entre o triângulo e com jogos de câmera não usuais, A favorita é um filme de época com tom moderno que faz com maestria um retrato sórdido, despudorado e irônico dos jogos de poder e sedução (remetendo ao clássico "Ligações Perigosas") e de quão longe as pessoas vão em nome dos seus desejos e objetivos.


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