Direção: M. Night Shyamalan
Roteiro: M. Night Shyamalan
Elenco: James McAvoy, Bruce Willis, Anya Taylor-Joy, Sarah Paulson e Samuel L. Jackson
Classificação:
Sinopse: Depois de fugir das autoridades após o incidente do zoológico, Kevin Wendell Crumb (James McAvoy) se tornou conhecido por todos – inclusive por David Dunn (Bruce Willis) – como um assassino psicótico.
O vigilante passou os últimos 18 anos combatendo crimes e agora seu
objetivo é deter a Fera. O confronto entre o homem inquebrável e o
mestre da Horda resultará na prisão dos dois. Agora, os indivíduos
super-humanos estarão lado a lado com outro notório vilão, o senhor Vidro (Samuel L. Jackson), presos numa instituição psiquiátrica do governo. O que parece ser um confinamento para segurança pública se mostrará como um plano muito maior do sr. Vidro que levará essas três super personalidades à um embate final.
A última parada da trilogia Eastrail 177?
Em novembro de 2000, o público foi introduzido a um universo de super-heróis nada convencional. Corpo Fechado trouxe um olhar único para o subgênero – o qual, atualmente, detém a maior arrecadação do cinema. M. Night Shyamalan criou uma alternativa para a mesmice das produções heroicas. A proposta inovadora de trazer uma história de super-herói envolvida por uma narrativa de suspense, com diálogos profundos e jogos de inteligência elevou o longa-metragem a um lugar de destaque na época.
Apesar dessa estrutura inteligente e bem elaborada feita por Shyamalan em Unbreakable (título original), foram necessários 15 anos para que o diretor tivesse a chance de iniciar o projeto que daria continuidade ao seu universo. Kevin Wendell Crumb e suas 24 personalidades foram o foco central de Frangmentado. Lançado em 2016, o terror psicológico tinha por objetivo ser a sequência do suspense estrelado por Bruce Willis e
Samuel L. Jackson. O sucesso do segundo longa foi tamanho que concedeu a
chance de ser feito um capítulo final para a trilogia do Eastrail 177, o filme Vidro.
Há uma semana, os cinemas do mundo começaram a exibir a conclusão da história de David Dunn, Elijah Price e Kevin Wendell Crumb. Vidro representa o fechamento de um ciclo de filmes que durou 19 anos. A criação de uma só narrativa que englobe as distintas
facetas dos dois primeiros longas foi, sem dúvida, um dos maiores
desafios do criador da trilogia. Esse é, inclusive, o tropeço de Glass
(título original). Mesmo com uma estrutura ainda envolvente, o novo
filme acaba perdendo algumas das qualidades destaque de seus
antecessores – como a sutileza e inteligência dos diálogos e a tensão
cena após cena.
Os trabalhos do diretor e roteirista M. Night Shyamalan
costumam dividir opiniões, contudo, é indiscutível perceber os traços
originais dele como diretor. Seus trabalhos normalmente são bastante
experimentais. Shyamalan não hesita ao inovar com posicionamentos de câmera inusitados, enquadramentos incomuns e iluminações de cena bem marcantes. Seus melhores trabalhos imprimem características únicas e essa singularidade é a sua marca registrada. Vidro,
contudo, não se encaixa perfeitamente nessa descrição. O novo
longa-metragem perdeu alguns dos traços fundamentais que marcaram os
filmes que lhe antecederam. A fórmula encontrada para apresentar Glass ao público é muito mais próxima dos filmes genéricos de super-heróis do que da própria obra de Shyamalan.
Além da direção que acabou tendo algumas perdas, o roteiro foi quem mais sofreu nesse capítulo final. Os brilhantes diálogos de Corpo Fechado e a estrutura genial de Fragmentado deram espaço para falas mais rasas e uma narrativa um tanto previsível. O resultado da união dos universos de Dunn e Crumb foi precário. Fica evidente em alguns momentos a tentativa de retratação do diretor com sua própria criação – como em algumas cenas muito bem filmadas ou através de um plot
não muito inovador, porém corretamente construído e apresentado. A
sensação é que o próprio diretor vivia num embate interno ao elaborar
essa convergência de mundos.
Independente
das falhas contidas no roteiro, o elenco foi o ponto forte da trama. As
performances se mantiveram com qualidade – apesar dos diálogos fracos –
e isso ajudou a conduzir o longa a um caminho mais digno para sua
finalização. Bruce Willis, Samuel L. Jackson e James McAvoy vestiram a camisa de suas respectivas personagens muito bem nesse momento de despedida. Os olhares insanos de Jackson, a presença de Willis e a desenvoltura performática de McAvoy mantém a atenção do espectador e
conseguem até fazer com que o ele esqueça alguns defeitos já ocorridos.
Os componentes coadjuvantes marcam também sua participação revivendo
suas personagens e a presença de Sarah Paulson como a psiquiatra acrescentaram o desenvolver das cenas.
A despeito de todos os deslizes, Vidro já arrecadou mais que 5 vezes o valor de seu orçamento só na primeira semana. A crítica não ficou muito
contente com a conclusão dessa história, mas as manifestações do
público pelas mídias digitais e a arrecadação do longa discordam. Glass está se mostrando como mais um filme polêmico de M. Night Shyamalan,
onde a crítica o nega e o espectador, abraça. Seja como for a avaliação
dada para a performance do longa, a proposta alternativa dos
super-heróis acaba com um questionamento: será que podem existir mais
super-humanos? Eis que essa pergunta pode ser a fonte de novas
produções. Só o futuro – e a bilheteria final – dirá se ainda veremos
mais da trilogia Eastrail 177.
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