Crítica |Se a Rua Beale Falasse


Título: Se a rua Beale Falasse
Direção: Barry Jenkins
Elenco:Regina King, Stephan James, Kiki Layne, Dave Franco, Ed Skrein 
Gênero: Drama
Sinopse: A trama é contada pela ótica de Tish, uma jovem de 19 anos que vê o amor de sua vida e pai de seu filho, Fonny, ser injustamente acusado de um terrível crime. Com o casamento em espera e o noivo na prisão, as famílias do casal lutam para limpar o nome do rapaz, à medida que uma série de emoções intensas invadem este drama.

                                   Crítica



Após o avassalador e tocante Moonlight, Barry Jenkis retorna as telonas

Nessa adaptação do romance If Beale Street Could Talk (1974) do James Baldwin temos elementos que me parecem super importantes da obra do escritor e militante pelos direitos civis dos negros estadunidenses, tanto q até pareceu um resgate ou tentativa bem sucedida do diretor sobre a literatura melancólica e negra.
Infelizmente não é o tipo de obra que lotará salas dos cinemas, é um filme sensível sobre um casal jovem do Harlem, tradicional bairro negro de New York. onde um mal entendido o leva para a cadeia e a Tish (Kiki Laye) se vê obrigada a reunir provas junto a sua família estando grávida do jovem preso em meio a tudo isso.

Interessante ver como o Barry Jenkins é um diretor meticuloso e atento a sua câmera levando seu público para onde ele deseja, com tamanho talento ao nos brindar com um takes um mais lindo que outro, tudo dentro da realidade dos personagens da história contada, é quase como se ele dissesse "tá vendo isso aqui? É pouco valorizado e visto no audiovisual mas diferente do que nos ensinaram é uma experiência audiovisual bela, aprecie".

Mas não se enganem pensando se tratar de um filme apenas belo sobre o desbrotar do amor juvenil nos anos 70, é duro e difícil de ver porque reúne tão bem esses elementos do romance mas tem os traços característicos do diretor que é a temática do racismo nas relações, o modo como cada um que é vítima dele se apega com o que lhe parece mais seguro para seguir sendo um fanatismo religioso ou se aproveitar do que já esperam mesmo de alguém negro.

É um filme de sutilezas, com poucos momentos de grandes rompantes mas absolutamente significativo para o cinema, em especial em tempos em que temos um pouco mais de espaço para históricas que por tanto tempo foram silenciadas. 

As pequenas dificuldades que só sendo uma pessoa negra se entende de verdade pelas quais os personagens passam dão um tom de fato entristecedor a narrativa e imediatamente me peguei pensando que dos anos 70 para cá pouca coisa mudou, a juventude negra continua sendo morta aqui no Brasil e pelo mundo afora na verdade, sem terem seus direitos reconhecidos, sem direito a defesa, sem direito ao que nos é básico da dignidade humana. E é essa a mensagem principal do longa, nos lembra que ainda e com grande pesar as dores daquelas pessoas não são apenas fictícias, são reais e ainda hoje em dia ocorrem. E é por isso e outras coisas que esse filme merecia ser mais visto por grandes plateias, porque o cinema tem um grande poder de nos fazer refletir e eu particularmente amo e quero sempre acompanhar o trabalho de artistas que atrelam o seu ofício as questões da sociedade. 

Eu sai da sessão tocada pela qualidade, sensibilidade dentro de uma realidade tão aversiva, pela capacidade humana em se reinventar em momento de dificuldades, inspirada pelo poder que a arte tem e certa de que as mudanças que ansiamos enquanto sociedade, que nossos antepassados lutaram ou morreram em nome, estão a nossa espera para conquistar, que a arte siga encontrando o seu lugar dentro dessa jornada!

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