Crítica | O Caso Richard Jewell

Título: O Caso Richard Jewell (Richard Jewell)
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Billy Ray
Elenco: Paul Walter Hauser, Sam Rockwell, Kathy Bates, Jon Hamm
Lançamento: 13 de dezembro de 2019 (EUA) e 2 de janeiro de 2020 (Brasil)
Classificação: 
Sinopse: Baseado na história real de Richard Jewell (Paul Walter Hauser), ex-policial e segurança que se tornou um dos principais suspeitos de bombardear as Olimpíadas de Atlanta, em 1996, tem que enfrentar o FBI para provar sua inocência, quando na realidade era um dos heróis do caso.

Mais uma cruzada do mestre Clint

O octogenário diretor, e lenda dos spaghetti westerns, Clint Eastwood continua sua luta conservadora e libertária, com a mesma parcimônia de suas obras anteriores.

Esses anos crepusculares da sua carreira giram, largamente, em torno de duas categorias de filme: aqueles sem filtro, luvas ou desculpas, com Clint no papel de um senhor velho, “recuperando o que é seu por direito”, enquanto aprende e ensina uma lição ou outra aos “novos tempos" (The Mule [2018], Gran Torino [2008]). E suas produções de agitprop (Agitação e Propaganda) claramente deturpadas para o ideal liberal e neoconservador norte-americano - geralmente não estreladas por ele - que buscam elevar e exaltar histórias reais de homens bons, mas incompreendidos (Sully [2016] e The 15:17 to Paris [2018]).

O Caso Richard Jewell está nesse segundo campo de heróis complicados. A abordagem discreta do filme para um trágico escândalo midiático é ao mesmo tempo oportuna e antiquada, um estudo de personagem (pouco complicado) de outra época, projetado para comentar, talvez, as ideologias polêmicas do próprio diretor de 89 anos.

O filme é, no seu núcleo, um ataque a imprensa e o FBI. Retrata a personagem de Olivia Wilde dormindo com o agente do FBI de Jon Hamm para obter informações, o que nunca aconteceu na vida real, mas é, convenientemente, muito bem visto pela audiência “anti-mídia", já que “expõe” a corrupção do establishment. Nesse ponto, Eastwood toma liberdades para fortalecer seu ponto de vista, em detrimento do artigo "American Nightmare: The Ballad of Richard Jewell", de Marie Brenner, publicado na Vanity Fair, em 1997, no qual o roteiro de Billy Ray é inspirado. Sem falar que a matéria da real Kathy Scruggs, no Atlanta Times-Constituition, foi inocentada, em corte, das acusações de difamação, feitas por Jewell, pois não apresentava inverdades. Outros processos de Richard Jewell, contra outras entidades, foram ganhos, mesmo depois de sua morte natural.

É uma tentativa de contar uma história que ressoa com a narrativa conservadora de hoje: um homem branco pobre que é injustamente criticado pelo FBI e pela mídia. Parece uma história que merece ser contada, mas sofre com o economicismo de filmagem de Eastwood, apesar de um par de cenas muitos competentes, ele tem um cronograma de filmagem muito rápido (as vezes visualmente sem primor estilístico), costuma fazer cenas com, no máximo, três ou quatro tomadas e completa as filmagens em poucas semanas.
Então o que vemos é uma situação prévia ao surgimento das mídias sociais, em que muitas pessoas que não têm todas as informações e reagem rapidamente às coisas, podem destruir injustamente a vida de alguém, mesmo que apenas temporariamente. Nesse aspecto Eastwood acerta, vemos esse tipo de coisa acontecer o tempo todo hoje em dia, mas a trama de Jewell foi antes do surgimento do Facebook e Twitter.

Para aqueles que não admiram o legado e método cinematográfico de Clint Eastwood, não compartilham do mesmos ideários e desgostam de sua cruzada propagandística, ao menos, podem apreciar uma verdadeira aula de performance (graças a Sam Rockwell e Kate Bates) em O Caso Richard Jewell.

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