Roteiro: Charles Randolph
Elenco: Nicole Kidman, Charlize Theron, Margot Robbie, John Lithgow
Classificação: Sinopse: Um gigante do telejornalismo e antigo CEO da Fox News, Roger Ailes (John Lithgow) tem seu poder questionado e sua carreira derrubada quando um grupo de mulheres o acusam de assédio sexual no ambiente de trabalho.
O que é viver em um mundo machista? Como é viver em um mundo em que perguntam qual era a sua roupa quando foi assediada? Um mundo onde
perguntam com quem uma mulher dormiu para conseguir uma promoção? Um mundo em
que você é paga para mostrar as pernas? Um mundo em que se você envelhece,
ninguém vai querer pagar para te ver na TV, porque agora você é feia? Um mundo
em que você tem medo de perder o emprego por denunciar um assédio... pelo
simples azar de ter nascido com uma vagina entre as pernas.
Um mundo em que homens conseguem tudo o que querem,
inclusive nossos corpos. E se revoltam quando perdem esses
"privilégios".
Esse é o nosso mundo, e Hollywood é muito pior.
"Com quem ela dormiu para conseguir essa
promoção?" Já pararam para pensar quão problemática é essa frase? Não
apenas porque insinua que a mulher não é boa suficiente para exercer aquele
cargo. Mas diz que tem alguém usando o seu poder de cargo para conseguir sexo. Mas a
única pessoa que é julgada na situação, é a mulher. "Ela que não se deu o
respeito e deu para o chefe."
Esse é o tema do filme O Escândalo,
que estreio no Brasil no dia 16 de janeiro de 2020. No ano de 2016, Gretchen Carlson (Nicole
Kidman) denuncia Roger Ailes (John Lithgow), presidente e
chefe-executivo da Fox News por abuso sexual. Em paralelo (mas não tão
paralelo), há a história de Magyn Kelly (Charlize Theron) âncora do jornal em horário
nobre, que se encontra entre a cruz e a espada: apoiar Gretchen ou manter o
emprego; e por fim a história de Kayla
Pospisil (Margo Robbie) novata na Fox News e que vê de perto esse abuso
no auge das denúncias.
O
filme retrata o assédio de forma perversa, mas nem de perto mostra a magnitude de
absurdo que é um chefe dizer que você só vai conseguir um emprego se precisar
sentar no colo dele e de mais alguns amigos, ou que você precisa beijar o seu
pinto para que consiga o emprego. A situação é muito pior do que o filme aponta,
com apenas algumas cenas apresentando o psicológico dessas mulheres.
Eu,
particularmente odiei que esse filme tenha sido escrito e dirigido por homens.
Um homem nunca vai saber como é para uma mulher sofrer um assédio, muito menos
no trabalho, então é difícil para eles conseguirem retratar, não é mesmo? Eu acho
que o filme não alcançou seu objetivo real por conta disso.
Em
relação ao roteiro, Charles Randolph,
roteirista de A Grande Aposta e Amor e Outras Drogas, não se mostrou muito
feminista ao meu ponto de vista. Pegou uma fórmula de “documentário”, do mesmo
modo que fez em A Grande Aposta, com um narrador contando os acontecimentos e
algumas pausas para explicações. Não manteve o toque levemente sarcástico e de
comédia do seu último filme, até porque assédio no trabalho não é um tema em
que piadas se encaixem (agradecemos por isso. Bom senso), mas não plantou a
sementinha do feminismo em mim. Achei que os diálogos foram um pouco vagos em
certos pontos, podendo contar mais sobre como as mulheres se sentiram, (que para
mim, era o mais importante) inclusive ter mais cenas entre as três personagens
principais do filme.
Sobre
a direção... Além de escolherem um HOMEM, escolheram um diretor de basicamente
comédia. Jay
Roach dirigiu filmes como Austin Powers e Entrando Numa Fria. Que
convenhamos, estão longe de serem filmes feministas. Da para perceber que foi
feito por um diretor de comédia principalmente nos posicionamentos das câmeras
(instáveis na maioria das vezes e com zoons desnecessários que me lembrou muito
a câmera de Brooklin 99, uma sitcom que usa o zoom para dar ênfase
em alguma piada).
Para mim, o que salva o filme é a
atuação das 3 maravilhosas mulheres que estão estrelando esse filme. Nicole
Kidman estava maravilhosa como sempre. Mas fiquei um pouco mais surpresa com a
atuação de Margo Robbie (que concorre como melhor Atriz-coadjuvante) que tem
cada vez mais ganhado meu coração nesses últimos tempos. E finalmente Charlize
Theron (que concorre como melhor Atriz), que recebeu a indicação do Oscar mais
que merecida!
O filme trata de um assunto extremamente polêmico, que precisa ser debatido e mostrado centenas de vezes mesmo, até que
seja tão absurdo aos olhos de TODOS que não aconteça mais. Mas infelizmente foi
feito de um jeito machista. Enfim, não é um filme que combata tudo que ele
apresenta (o conservadorismo dentro de uma empresa de televisão, a denúncia de
modo complexo e tudo que ela representava para aquelas mulheres, a barreira
gigantesca de proteção de homens no poder e as passadas de pano por seus “erros”
para não dizer crimes). É um filme que relata fatos de uma forma um tanto
quanto dramática e romantizada.
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