27fev2020
27fev2020
Crítica | O Homem Invisível
Classificação:
O mais novo lançamento da Blumhouse, produtora focada em filmes de suspense e terror de baixo e médio orçamento, abre com a fuga da protagonista da residência de seu parceiro abusivo. A cena, que funciona como uma espécie de prólogo e é permeada por uma tensão crescente, graças à uma direção que sabe trabalhar bem o silêncio e os movimentos de câmera, dita o tom da obra.
Após a fuga e a notícia do suicídio, acompanhamos a trajetória de Cecília enquanto suspeita que está sendo perseguida pelo seu antigo parceiro, que teria descoberto uma forma de ficar invisível. Falar mais do que isso seria adentrar o campo dos spoilers, o que tiraria todo o impacto das surpresas que a produção reserva. Contudo, em consideração ao comentário que fiz acima sobre o tom da obra, não posso deixar de comentar a forma exemplar com que a tensão é construída ao longo das cerca de duas horas de projeção. O desenrolar dos acontecimentos e o impacto cada vez maior que eles têm na vida de Cecília, tanto no campo da realidade quanto da mente, geram uma constante sensação de perigo e imprevisibilidade, que logo capturam o espectador para dentro da obra, mais especificamente para a visão da protagonista.
Por sua vez, a opção de contar a história por meio do olhar de Cecília é um grande acerto do filme, pois, ao abordar a temática das relações abusivas, um tema tão atual, era fundamental que o longa tivesse a responsabilidade e autoconsciência de retratar os efeitos deste tipo de relacionamento a partir dos olhos da vítima, de forma que fosse possível que o público entendesse e até mesmo experimentasse, ainda que por um breve momento, o sofrimento que este tipo de relação gera. E o filme consegue este feito. É o cinema em sua melhor forma, possibilitando a reflexão sobre um tema pertinente ao mesmo tempo que entretêm.
Toda a tensão e angustia experimentadas por Cecília são valorizadas pela interpretação de Elisabeth Moss, impecável ao transmitir o drama e a sensação de isolamento gradual em que sua personagem é colocada. O elenco de apoio cumpre bem o seu papel, favorecido por um roteiro competente, que desenvolve as personagens secundárias o tanto quanto necessário para a trama andar, e aproveita todos eles de alguma forma para a resolução do longa. Ninguém é desperdiçado ou esquecido ao longo da projeção.
Os demais aspectos técnicos acompanham o alto nível da produção, com destaque especial para a fotografia fria que constrói imagens belas e pálidas, e a trilha sonora, precisa e marcante. O drama e o suspense se misturam de forma harmoniosa à medida que a trama avança, como deveria ser em todos os exemplares deste gênero, graças a um roteiro bem trabalhado, aliado a uma montagem eficiente e ágil, que não concede tempo para o espectador recuperar o fôlego entre uma cena e outra.
O Homem Invisível é um excelente suspense sobre se libertar dos efeitos de um relacionamento abusivo, como deixa claro a última tomada da produção, sem, contudo, deixar de ser extremamente eficiente no seu propósito de entreter por meio de ótimas cenas de tensão. Ao tratar sobre um tema tão relevante na atualidade, em conjunto com uma bela execução de sua proposta, o longa se torna um dos filmes de suspense mais interessantes lançado nos últimos anos.

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