Crítica | Duna

Título: Duna (Dune)
Direção: Denis Villenueve 
Roteiro: Jon SpaihtsDenis Villenueve, Eric Roth
Elenco: Timothée Chalamet, Rebecca Ferguson, Oscar Isaac,
Josh Brolin, Stellan Skarsgård, Dave Bautista, Zendaya
Lançamento: 21 de outubro de 2021
Classificação:

Sinopse: Paul Atreides, um jovem brilhante e talentoso deve viajar para o planeta mais perigoso do universo para garantir o futuro de sua família e de seu povo. Enquanto forças malévolas explodem em conflito no planeta pelo suprimento do recurso mais precioso que existe - uma mercadoria capaz de desbloquear o maior potencial da humanidade.

A colheita de especiarias é extremamente perigosa
Esse é um blockbuster que me lembra a razão pela qual amo ir ao cinema: é uma peça de sci-fi, bombástica, heroica, sonora e que prende do começo ao fim. A quantidade de grandes estrelas é típica de um filme desse porte, mas em momento nenhum isso atrapalha ou nos tira da narrativa. Todos os atores entregam performances completas, mas a entrada magnífica Javier Bardem é um deleite notável e Jason Momoa se solidifica com um dos heróis de ação mais excepcionais hoje. Stellan Skarsgård é nojento e maravilhosamente odiável, um ótimo vilão. Até Zendaya, com seu papel enxuto nessa primeira parte, tem uma presença de tela incrível, o diretor Denis Villenueve usa e abusa desse gravitas.

Além disso, os filmes do Villenueve também são conhecidos por serem perfeitamente editados, Dune não foge dessa regra. A primeira meia hora é uma pouquinho corrida, mas o desenvolvimento até o clímax é produzido gradativamente, com graça e sem pressa. A estrutura montada pelo script é excelente, não me surpreende, Villenueve já disse mais de uma vez que se não fosse diretor seria editor, ele é minucioso e isso aparece facilmente.

Dito isso, a trama flui magistralmente junto com a construção do mundo, são duas hora e meia de montagem que passam como um sopro, no qual nenhum momento fica maçante, pelo contrário, Villenueve nos faz implorar por mais detalhes e explicações. O costume e tendência de Villeneuve de fugir de exposições e monólogos longos, como uma espécie de anti-Nolan, pode esfriar certos personagens por vezes, e funciona muito melhor em um filme como Sicario (2015), mas tão poucas oportunidades foram perdidas em deixar que entendêssemos as coisas por si sós que isso não me incomoda muito.

Se tratando de adaptações, esse projeto sobressai incrivelmente da mediocridade, ao adaptar um livro que é essencialmente um diálogo interno, de longas descrições e repleto de histórias de fundo, certo enxugamento das conversas e foco em esculturar imagens epopeicas faz-se necessário, o que funciona especialmente bem, graças ao volume colossal de simbolismo que Villenueve coloca em cada frame. Ele tira vantagem das premonições de Paul Atreides para empurrar para frente os temas mais graves em cenas genuinamente emocionantes, para mim de forma até bastante inesperada. Algumas dessa cenas infligem momentos de felicidade estética autêntica, se seus olhos enchem de lagrimas quando você menos espera é porquê o filme está fazendo algo muito certo.

Atrele o simbolismo comum aos filmes do Villenueve, a um design de figurinos impecável e a trilha retumbante do Hans Zimmer, apesar de ser em momentos cacofônica demais (o que é diferente de um simples volume alto [nunca vou reclamar de uma trilha por ela ser mixada alta demais num blockbuster]), e  temos o pináculo do que um épico de ficção científica deve ser.

Muito devido ao material original, obviamente, os vários lindos paralelos trazidos de culturas reais que misturam hábitos orientais (em especial do islamismo e da cultura árabe) e ocidentais tem alta importância no filme, essas alusões contem intensa carga estilística. Por exemplo, a súbita inclusão de uma forma de canto difônico tuvano atrelada a uma estética militar macabra pseudo-pretoriana é incrível, mas isso é só uma instância da riqueza de detalhes do mundo cinematográfico de Duna criado por Villenueve.

Ceteris paribus, caso Dune Parte 2 seja feito, esses filmes terão potencial para se tornar uma franquia tão grandiosa quanto a de Senhor do Anéis, e não digo isso de forma displicente.

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