Dito isso, a trama flui magistralmente junto com
a construção do mundo, são duas hora e meia de montagem que passam
como um sopro, no qual nenhum momento fica maçante, pelo contrário, Villenueve nos faz implorar por mais detalhes e explicações. O costume e tendência
de Villeneuve de fugir de exposições e monólogos longos, como uma espécie de
anti-Nolan, pode esfriar certos personagens por vezes, e funciona muito melhor
em um filme como Sicario (2015), mas tão poucas oportunidades foram
perdidas em deixar que entendêssemos as coisas por si sós que isso não me incomoda muito.
Se tratando de adaptações, esse
projeto sobressai incrivelmente da mediocridade, ao adaptar um livro que é
essencialmente um diálogo interno, de longas descrições e repleto de histórias
de fundo, certo enxugamento das conversas e foco em esculturar imagens
epopeicas faz-se necessário, o que funciona especialmente bem, graças ao volume colossal de simbolismo que Villenueve coloca em cada frame. Ele tira vantagem das premonições de Paul Atreides para empurrar para frente os temas mais graves em cenas genuinamente emocionantes, para mim de forma até bastante inesperada. Algumas dessa cenas infligem momentos de felicidade estética autêntica, se seus olhos enchem de lagrimas quando você menos espera é porquê o filme está fazendo algo muito certo.
Atrele o simbolismo comum aos
filmes do Villenueve, a um design de figurinos impecável e a trilha retumbante do
Hans Zimmer, apesar de ser em momentos cacofônica demais (o que é diferente de
um simples volume alto [nunca vou reclamar de uma trilha por ela ser mixada
alta demais num blockbuster]), e temos o pináculo do que um épico de ficção científica
deve ser.
Muito devido ao material original, obviamente, os vários lindos paralelos trazidos de culturas reais que misturam hábitos orientais (em especial do islamismo e da cultura árabe) e ocidentais tem alta importância no filme, essas alusões contem intensa carga estilística. Por exemplo, a súbita inclusão de uma forma de canto difônico tuvano atrelada a uma estética militar macabra pseudo-pretoriana é incrível, mas isso é só uma instância da riqueza de detalhes do mundo cinematográfico de Duna criado por Villenueve.
Ceteris paribus, caso Dune Parte 2 seja feito, esses filmes terão potencial para se tornar uma franquia tão grandiosa quanto a de Senhor do Anéis, e não digo isso de forma displicente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário