Título: Noite Passada em Soho
Direção: Edgar Wright
Roteiro: Edgar Wright e Krysty Wilson-Cairns
Elenco: Thomasin McKenzie, Anya Taylor-Joy, Matt Smith, Michael Ajao, Terence Stamp e Diana Rigg
Classificação: ⭐⭐⭐⭐
Sinopse: Eloise (Thomasin Mckenzie) se muda para Londres em busca de seu sonho:
ser uma designer de moda. Apaixonada pelos anos 1960, ela consegue se
conectar com lembranças desta época. As memórias eram de Sandie (Anya
Taylor-Joy), uma aspirante a cantora que, assim como Eloise, vai para
Londres viver seu sonho. No entanto, as memórias de Sandie passam a ser
um pesadelo para a jovem Eloise quando ela descobre que voltar ao
passado pode significar descobrir um lado sombrio de Londres e da vida
da mulher misteriosa do passado.
O
horror no cinema se divide em muitas formas e têm roupagens diferentes,
possibilitando inúmeros tipos de experiências. O espectador pode se
deparar com o gore de O Massacre da Serra Elétrica (1974), o slasher
renovado por Pânico (1998), com o terror sobrenatural de Poltergeist
(1980), com o terror psicológico de Psicose (1960), entre outras
possibilidades. Como toda arte, revisitar o passado é uma forma eficaz e
potente de aprender e renovar suas criativas. E este é o feito mais
interessante de Noite Passada em Soho, que chega aos cinemas brasileiros
nesta quinta-feira (18).
A história dirigida e co-roteirizada
pelo inglês, Edgar Wright (Em Ritmo de Fuga, de 2017, e Scott Pilgrim
contra o Mundo, de 2010) é um mergulho saudoso e inventivo sobre o
passado dentro e fora das telas. De um lado, o terror psicológico bebe
na fonte de clássicos como a obra-prima de Alfred Hitchcock, sem perder
de vista seu potencial narrativo próprio. De outro, o roteiro de Wright
e Krysty Wilson-Cairns (1917, de 2019) leva o espectador a embarcar
numa viagem no tempo estética, performática e musical.
Como já se
sabe, Wright é apaixonado por música e isso é uma clara característica
em seus filmes. Em Ritmo de Fuga, por exemplo, somos conduzidos pelas
emoções do personagem principal a partir das músicas que ele escuta. Em
Last Night in Soho (título original), o diretor decide usar as músicas
como elo temporal que estabelece para o público as características
gerais do filme - em especial às cenas que se passam na década de 1960. A
música consegue criar a atmosfera do filme como um todo.
Essa
estética dos anos 1960 permite que o espectador compre certas ações não
tão convencionais no cinema contemporâneo. A crítica exterior criticou
as ações dos personagens e a dificuldade de aceitar certas decisões
feitas por eles. A questão sobre essas ações é que elas fazem parte da
construção deste imaginário feito por Wright. Ele consegue conduzir o
espectador ao universo entre tempos criados.
O segredo de Noite
Passada em Soho é se entregar ao que o filme propõe. A jornada pode
causar estranhamento num primeiro momento porque existe uma aproximação
relevante aos contextos, conceitos e concepções dos anos 1960, incluindo
as atuações. Existe um clima sessentista mesmo na parte que se passa no
presente do filme. E quando o público se permite embarcar nessa
jornada, é indiscutível a qualidade entregue pela produção.
Para
além do resultado visual e do brilhantismo da concepção, existe um
roteiro coeso que merece ser louvado. A construção do terror que Eloise
vive ao vislumbrar um passado sombrio e violento é poderosa. O cuidado
perceptível no roteiro entre beber do passado e recriar o presente é
outro ponto alto da narrativa. Ao fim da sessão, o espectador sai
impressionado com uma história de fantasmas revitalizada e com uma
surpresa impactante e cheia de referências.
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