Crítica | Até os ossos

Título: Até os ossos

Direção:  Luca Guadagnino

Roteiro: David Kajganich

SINOPSE:  Baseado no romance homônimo de Camille DeAngelis, acompanhamos Maren Yearly (Taylor Russell), uma jovem que quer as mesmas coisas que todos nós. Ela quer ser alguém que as pessoas admiram e respeitam. Quando sua mãe a abandona no dia seguinte ao seu aniversário de dezesseis anos, Maren vai à procura do pai que nunca conheceu e encontra muito mais do que esperava ao longo do caminho. O amor floresce entre uma jovem à margem da sociedade e um vagabundo marginalizado (Timothée Chalamet) enquanto eles embarcam em uma odisseia de 3.000 milhas pelas estradas secundárias da América. No entanto, apesar de seus melhores esforços, todos os caminhos levam de volta a seus passados ​​aterrorizantes e a uma posição final que determinará se o amor deles pode sobreviver às diferenças.


RESENHA 


Eu não sou fã de road movies. A bem da verdade, eu detesto road movies. Via de regra, acho uma chatice gigantesca com horas e horas de jornadas clichês, autoreferenciais e previsíveis de autodescobrimento e reconciliação, embalada em música ruim e diálogos teleguiados. Pérolas como Pequena Miss Sunshine são honrosas exceções.

Até os ossos é outra. E que exceção!

Se posso dar um conselho, evite qualquer informação anterior sobre o filme. Nesta era onde trailers são quase resumos da história, Até os Ossos é muito melhor aproveitado se você for totalmente no escuro e deixar o filme surpreender. Eu fiz isso, e o impacto que tive em uma cena nos primeiros 10 minutos de filme, levando a história a um rumo totalmente inesperado, não tem preço.

Timothée Chalamet foi vendido como o grande astro do filme, e comprova sua habilidade entregando ótima atuação, com destaque para uma cena emblemática envolvendo um banda de rock. Mas impossível falar do filme sem aplaudir a atuação espetacular da protagonista Taylor Russell. Em um papel difícil, ela domina com maestria a personagem, as mudanças que esta sofre e seu misto de horror de encantamento enquanto descobre junto com o espectador mais sobre o mundo extremamente incomum onde se encaixa. Impossível não falar também da participação magnética de Mark Rylance, que abandona as (ótimas) atuações contidas no estilo de Ponte dos Espiões para entregar uma intensidade poucas  vezes vista, sem jamais descambar para a caricatura.

Até os Ossos pode ser resumido em uma palavra: ritmo. Guadagnino rege o filme como uma orquestra, com domínio absoluto. Uma coisa que me incomoda muitas vezes são diretores que confundem contemplação com monotonia e calma com lentidão. Isso resulta no único erro que nenhuma obra tem o direito de cometer: ser chata. Até os Ossos é tudo, menos isso. Alterna momentos de ritmo mais lento com tensão que gruda o espectador na cadeira e horror que faz muitos desviarem o rosto. E horror da forma mais acertada: momentos de gore, sim, de exposição despudorada e explícita, mas também coisas não mostradas, sugestões, barulhos e silêncios. Em um filme que não poderia ser mais diferente de Call me by your name, Guadagnino alcança um nível similar de excelência, mostrando que é tão versátil quanto competente.

Dentre os (raros) pecados de Até os Ossos, há uma certa gordura (uns 15 minutos a mais não fariam mal) e uma  tentativa desnecessária de impacto no final. Mas são mais do que perdoáveis, pequenos detalhes em uma grande história. É um filme que sem dúvidas vale a pena assistir. E repito: de preferência, sabendo o mínimo possível sobre ele antes.


                                       Por: André Lessa

Comente com o Facebook:

Nenhum comentário:

Postar um comentário