Crítica l Elementos

Título Original: Elemental

Direção: Peter Sohn

Roteiro John Hoberg, Kat Likkel

Elenco: Leah Lewis, Mamoudou Athie, Ronnie Del Carmen

Sinopse:

Elementos é um filme de animação que se passa em uma sociedade extraordinária chamada Cidade Elemento, na qual os quatro elementos da natureza - ar, terra, fogo e ar - vivem em completa harmonia. Na história, somos apresentados à Faísca (fogo, dublada por Leah Lewis), uma mulher espirituosa na faixa dos vinte anos, com um grande senso de humor e apaixonada pela família, mas que tem um temperamento um pouco quente; Gota (água, dublado por Mamoudou Athie) é um jovem empático, observador e extrovertido, que não tem medo de demonstrar suas emoções - na verdade, é até um pouco difícil controlá-las; Turrão (terra, dublado por Mason Wertheimer) é um garoto muito inteligente da terra que mora na Vila do Fogo, e está sempre perto de Faísca; e Névoa (ar, dublada por Wendi McLendon-Covey), que tem uma personalidade fofa e rosa, está sempre atenta às tendências da moda e é fã dos Windbreakers, um time de Air Ball.

                                                                   Crítica

 A Pixar dispensa grandes apresentações. Com uma sequência invejável de grandes produções, o estúdio se firmou como o herdeiro da Disney e desperta justa expectativa a cada lançamento. Porém, nos últimos anos as realizações do estúdio não vinham me agradando muito. Desde Divertidamente, em 2015 (ou, com boa vontade, desde Coco, em 2017) a Pixar não fazia jus a sua tradição. As produções oscilavam entre continuações pouco inspiradas, como Procurando Dory,  Os Incríveis 2 ou Toy Story 4, e histórias originais como Luca, Soho,  ou Red, que variavam entre bons e ótimos mas jamais chegando perto dos melhores momentos que criaram a (justa) fama da Pixar.

Felizmente isso mudou com Elementos. Finalmente a Pixar voltou a produzir algo à altura das maiores obras do estúdio, como Divertidamente, Toy Story 3 ou Os Incríveis.

A engenhosidade visual sempre foi uma marca registrada da Pixar, mas em Elementos alcança o estado da arte, com destaque para o uso extremamente criativo das cores, especialmente do contraste entre elas, aproveitando com maestria a temática escolhida (os opostos água e fogo, bem como os demais elementos). Mas o espetáculo visual passa muito além das cores. Poucas vezes a Pixar acertou tanto na criação de ambientes, elaborando cenários como a Vila do Fogo e a Cidade de Vidro que carregam não apenas beleza e detalhismo, mas também remetem a ambientes reais cheios de nuances, inclusive políticos, com claras divisões sociais motivadas por critérios que remetem muito a questões de imigração e xenofobia do mundo real

O mais importante, entretanto, não é a beleza ou a criatividade dos visuais, mas o quanto eles contribuem para a narrativa: basta um olhar para entender quase instantaneamente as características dos personagens e seu estado de espírito, por exemplo. Inclusive as expressões estilizadas mais do que o normal e que funcionam com eficiência para transmitir emoções, aproveitando também as possibilidades que a natureza fantástica e distante do realismo que os personagens elementais confere, são um lembrete do erro que é a Disney insistir em desnecessárias refilmagens live-action que eliminam o potencial expressivo único que as animações possuem (O filme do Rei Leão que o diga...)

Mas o que sempre marcou a Pixar não foi apenas a exuberância visual, mas a capacidade de usar esses recursos em prol do que, no final das contas, mais importa: a história. E que história! Elementos tem o que faltou à Pixar nos últimos anos, que é um roteiro à altura de sua capacidade técnica. A história aborda com sensibilidade temas universais como amor, conflitos entre pais e filhos e discriminação racial. Diverte, empolga e, sobretudo, emociona (e não chorar na cena final é quase um desafio), se enquadrando perfeitamente no conceito das obras que funcionam perfeitamente para crianças e adultos. Os personagens são mais reais que muitas pessoas que conhecemos (e é impossível não destacar a protagonista Faísca, que faz jus à tradição da Pixar de ótimas personagens femininas, ao mesmo tempo que foge do estereótipo de mocinha perfeita), as relações entre eles são trabalhadas com mais profundidade que muitos filmes “adultos” e tudo na história tem um propósito, um sentido e uma função.

Ao final da projeção, a sensação é que suas 1h42 min passaram voando e que passaríamos mais horas e horas junto a Faísca, Gota e seus coadjuvantes, que a Cidade Elemento tinha muito mais a mostrar.

A Pixar conseguiu. De novo.

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