Crítica | Assassinos da Lua das Flores

 

Título: Assassinos da Lua das Flores
Título Original: Killers of the Flower Moon
Direção: Martin Scorcese
Roteiro: Eric Roth, Martin Scorcese
Elenco: Leonardo DiCaprio, Robert De Niro, Lily Gladstone
Lançamento: 19 de outubro de 2023
Classificação: 5/5 ⭐⭐⭐⭐

SinopseQuando petróleo é descoberto nas terras da Nação Osage em Oklahoma na década de 1920, os membros do povo Osage são assassinados um a um, até que o FBI intervém para desvendar o mistério.


Dizendo todas as verdades.

Para mim, é muito fácil elogiar Assassinos da Lua das Flores apenas pelos temas do seu plano de fundo: avareza, poder, crime e reminiscência das maquinações da indústria do petróleo. Parece que Scorsese me presenteou com uma obra que encapsula tudo isso de maneira hiper-equilibrada, algo que não via desde "Sangue Negro" (2007) de Paul Thomas Anderson, apesar de este último estar mais perto de um "estudo de personagem", enquanto Assassinos da Lua das Flores é um épico revisionista do velho-oeste.

A frase "Can you find the wolves in this picture?" serve como um chamado à ação fenomenal, arrepiante. Desde o início, Scorsese pinta um quadro impressionista em forma de filme, onde nossa compreensão dos protagonistas permanece turva. É uma perspectiva original diante do material do livro a partir do qual o filme foi adaptado. Não demora muito para que as verdadeiras intenções, manipulações, a infiltração e apropriação cultural se tornem evidentes, tudo isso é feito com maestria cinematográfica. O filme nos convida a descobrir quem são os lobos em pele de cordeiro que trouxeram tanta desgraça para os Osages. No final, essas formas não são mais borradas.

As composições são magníficas, e todos os atores entregam performances excepcionais, desde DiCaprio, De Niro e Gladstone, até os papéis secundários. Eric Roth segue sendo um líder no quesito de adaptações de roteiro, e é um excelente pareamento com Martin Scorcese, ele extrai o melhor de todos a sua volta com facilidade. 

Há ecos temáticos e estéticos que transitam por toda a sua filmografia, indivíduos transgressores em silhueta no meio ao fogo, em vez de luzes vermelhas da brutalidade de Goodfellas (1990). Além disso, a trama de romance supera qualquer elemento semelhante em Ilha do Medo (2010) ou Cassino (1995). Os efeitos são quase de teatro, martelando o ponto de que tudo isso foi real. A violência é veraz, neutra, sem ornamentos. 

Incrível como Schoonmaker continua no auge de sua habilidade de edição, no ditar do ritmo exato, são 3 horas e meia que passam sem sofrimento algum. O filme tem exatamente o tempo que deve. É edição com completo conhecimento e domínio dos fundamentais, não é surpresa, Schoonmaker mostra isso desde Who's That Knocking at My Door? (1967).

Com o petróleo veio o dinheiro, e com o dinheiro os lobos vieram logo atrás. Bill Hale (De Niro) acredita cegamente que a inércia acachapante do status quo supremacista dos Estados Unidos o manterá impune. Em meados de 1920, um homem branco com terras, gado, controle sobre a polícia e uma rede de influência maçônica naturalmente se sente invencível. Isso só não continuou devido à persistência e pressão exercida pelos Osages sobre o governo americano. Nenhuma expressão da ganância capitalista é melhor evidenciada do que nas disputas pelos espólios do petróleo.

Os Osages foram vítimas diretas disso, e Marty, o mestre que é, permite que essa história de um grupo marginalizado seja contada com o cuidado, admiração e o respeito que merece. No gênero do velho oeste, muitas vezes falta esse tipo de revisão generosa, com consulta direta dos sobreviventes e descendentes, retratando verdadeiramente as feridas deixadas pelos poderes hegemônicos nos povos nativo-americanos. Scorsese estabelece os novos parâmetros nos quais tudo deve ser comparado.


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