Crítica | Grande Sertão


Título: Grande Sertão

Direção: Guel Arraes

Elenco: Luisa Arraes, Caio Blat, Rodrigo Lombardi, Eduardo Sterblitch, Luis Miranda, Mariana Nunes e Luellem de Castro.

Gênero: Drama, adaptação literária.

Notinha: 3,5/5 

SINOPSE:

Numa grande comunidade da periferia brasileira chamada “Grande Sertão”, a luta entre policiais e bandidos assume ares de guerra e traz à tona questões como lealdade, vida e morte, amor e coragem, Deus e o diabo. Riobaldo entra para o crime por amor a Diadorim, mas nunca tem a coragem de revelar sua paixão. A história, narrada por Riobaldo, é marcada pela presença de um personagem enigmático, Diadorim, que se torna um grande amigo dele e desperta sentimentos complexos. A identidade de Diadorim é um mistério constante para Riobaldo, que lida com escolhas morais e dilemas éticos, enquanto busca entender seu lugar no mundo e sua própria natureza. Nesse percurso transcorre as batalhas e escaramuças da grande guerra do Sertão.

CRÍTICA

O cinema brasileiro é um oásis de talento e diversidade não é mesmo? Aliás a arte brasileira, incluindo a nossa rica literatura e  o texto do João Guimarães Rosa (1908 - 1967) na sua obra mais aclamada “Grande Sertão: Veredas” ('1956)  ganha uma adaptação cinematográfica pelas mãos do aclamado diretor Guel Arraes (Auto da compadecida).

Aqui somos transportados do sertão da literatura para o complexo de uma comunidade moderna, ao invés do ouro e de jagunços temos o chamado ouro branco (cocaína) e traficantes versus o estado e a polícia, em ambos os cenários temos o povo sempre nesse fogo cruzado sofrendo as consequências de uma guerra da qual não tem poder e voz.

O que realmente me deixou encantada aqui foi como mantiveram o máximo do texto original de Guimarães Rosa, deixa a obra mais poética e emocionante mesmo retratando uma realidade tão aversiva como é a guerra civil que vivem as comunidades carentes desse Brasil afora. A palavra aqui é figura essencial, nos desconserta e surpreende pela capacidade de articular a maneira de expressar coisas que sentimos.

A história é contada na perspectiva do personagem principal Riobaldo que ao reencontrar Diadorim amigo de infância se vê numa encruzilhada de decisões e sentimentos conflitantes quando entra para a vida do crime por amor a essa pessoa que passa a conhecer mais e mais e sem saber se tratar de verdade de uma mulher disfarçada de homem (não é spoiler, juro!) quem vive essa dupla é o casal da vida real Caio Blat e Luisa Arraes filha do diretor do filme, então de certa forma tá tudo em casa.

Tem também personagens odiosos e ricos de expressão gostaria de destacar o personagem do Eduardo Sterblitch que aqui está irreconhecível e com sede de sangue e vingança, Luis Miranda brilha com altivez e impõe respeito temos também a Mariana Nunes representando as mães pretas que perdem seus filhos todos os dias para a violência dos que deveriam nos proteger, o Rodrigo Lombardi fecha bem esse elenco na pele do chefe do tráfico, ora preza pelo lucro ora pela integridade da comunidade, de maneira muito impessoal e distante.

Li algumas críticas sobre essa transposição de uma realidade tão mais distante da qual o livro retrata e o que foi feito hoje, críticas que não levam em consideração o esforço artístico em aproximar as narrativas é sim válido mesmo que hajam falhas e interesses pessoais envolvidos.

 Amores, tragédias, perdas e aprendizados compõe o enredo dessa história diferente do que parece mas nem por isso menos interessante!

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