Resenha: Tempo de Mudanças | Lisa Jewell


Titulo: Tempo de Mudanças
Autor: Lisa Jewell
Editora: Novo Conceito
Número de páginas: 349
Classificação:  ★★★★

Sinopse

Em um hospital em Bury St Edmunds, Daniel Blanchard está morrendo. A amiga Maggie May é sua companheira nesta jornada até o fim: senta-se ao seu lado todos os dias, segurando-lhe a mão e ouvindo histórias de sua vida, seus arrependimentos e seus segredos: os filhos que nunca conheceu e que, provavelmente, nunca conhecerá. Lydia, Dean e Robyn não conhecem o pai e também não se conhecem. Ainda... Todos eles estão passando por uma fase de mudanças e de dificuldades: Lydia carrega as cicatrizes de uma infância traumática e, embora seja rica e bem-sucedida, sua vida é solitária e confusa. Dean é um jovem sobrecarregado por uma responsabilidade imprevista, cuja vida está indo para lugar nenhum. E Robyn começou a faculdade de medicina mas sente que alguma coisa não está certa. Três jovens com histórias muito diferentes, mas que se sentem igualmente perdidos e à procura de alguma coisa, como se faltasse um elo para dar sentido às suas vidas. E então, quando eles percebem que seus caminhos estão se cruzando, tudo começa a mudar...

Resenha

Olhar a capa deste livro me despertou uma melancolia profunda, e o título atenuou essa sensação. Eu sou do tipo que pratica biblioterapia, e por vezes demoro a conseguir a conexão perfeita entre o livro que escolhi começar a ler e as emoções que já estão despertas em mim. Então, fui empurrando o início dessa leitura o máximo que pude. Tinha que escolher entre ele e mais dois livros, comecei a ler os três sem muita empolgação.

Algumas páginas após os dois primeiros capítulos foram extremamente trabalhosas. Eu ficava o tempo todo lendo a sinopse pra tentar entender como aquilo se encaixava. Até que, enfim, pude ouvir, ou melhor, pude parar de ouvir os sons do ambiente e me vi dentro do livro.

A narrativa é do tipo que te leva ao passado primeiro, criando todo um cenário e deixando um assunto pendente para te trazer aos dias atuais. A situação problema do livro é extremamente bem escolhida diante desses nossos tempos modernos: banco de espermas, inseminação. Três indivíduos gerados por este meio, a partir de um mesmo doador, com histórias completamente diferentes, mas com uma questão em comum: A lacuna na formação de suas identidades.

A história começa ao redor da complicada inseminação e criação de Lydia Pike. Ela é espinha dorsal da história, mas que também tem certo trabalho para conquistar o leitor. Ou seja, quando a parte que revela um pouco do passado me deixou no ponto problema e dei de cara com Lydia no auge de sua adolescência traumática, sentada em uma linha do trem acompanhada de seu cachorro, tive que voltar a última página do capítulo anterior e ter certeza de que não tinha perdido nenhum detalhe. Sensação que durou durante algumas páginas do capítulo seguinte que a descreve em sua casa majestosa (ela se tornara uma cientista bem sucedida), com seu comportamento metódico, frio e inseguro, costumeiro a pessoas que carregam o sobrepeso do passado. Para mim ela se tornou interessante exatamente na página 50, quando enfim toda trama começou a se acertar com a sinopse e me fazer colocar um cartão na porta: “Não perturbe, bookaholic lendo!”.

A trama é contada em terceira pessoa sob o ponto de vista de cada personagem. Não tive problemas de afeição com os outros dois principais. Dean, um garoto de 21 anos, imaturo, assustado diante da inesperada responsabilidade que tivera que assumir. Em um instante era apenas um jovem enamorado de uma bela garota. No outro estava a ponto de ser pai de família, tendo que conviver com uma, agora diante da situação, mulher um tanto amargurada por uma gravidez não planejada. O modo como a vida exigiu que Dean amadurecesse, nos faz imediatamente abraçá-lo e torcer para um “final feliz”.

Robyn, uma garota (como nome de homem) nos encontra em sua festa de 18 anos, e já passa uma imagem de menina autoconfiante a ponto de a acharmos esnobe, mas bem longe de nos despertar antipatia. Todos  gostamos de pessoas decididas e admiramos adolescentes que são exceção a regra da suposta imaturidade da idade. A “falha” da identidade tão perfeita de Robyn é apresentada páginas depois, e nos deixa: “Não acredito! Coitada! Como isso vai terminar?”.

O livro parece ser baseado na teoria do caos, eventos singulares, aparentemente desconexos até ser encontrado o fator comum e tudo começar a fazer sentido como uma reação em cadeia. Nesse caso o fator comum é Daniel Blanchard, o Doador 32.

Torna-se uma delícia acompanhar essa viagem de autoconhecimento feita por todos os personagens. Uma leitura intrigante, apesar de não ser o livro que nos cause ressaca literária. Nos deixa pensando no ciclo agitado da vida neste mundo moderno, diante de tantas facilidades reprodutivas. Como os detalhes de nossa existência nos afeta antes mesmo que sejamos um feto? 

Assumo que não me senti satisfeita com o final, mas, mesmo assim, com um enredo totalmente diferente de tudo que já li, valeu a pena cada página.

Por: Jéssika Malvina.

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3 comentários:

  1. Bem exitante a Resenha, pois a autora esclareceu bem os detalhes do livro e deixa o leitor com curiosidade sobre o enredo do livro. Além disso deixando a sua opinião sobre o livro de acordo com suas leituras diárias. Apresentando ao leitor que pode ser prazeroso dependendo do seu perfil de livros.

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  2. Suas resenhas inspiram!!!

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  3. Bom, adorei! Até me interessei pela leitura, mas depois de ler que não ficou satisfeita com o final e ele não nos deixa com resseca literária, perdi a vontade. Não me vejo mais lendo-o, por pensar que a leitura não valerá a pena.
    Mas isto é meu. Para mim, se tem um final não muito agradável, TEM que deixar a ressaca de sobra. rsrs
    E, esta questão que levantei, é sobre o livro, e não sobre a resenha. A resenha, como já disse, está ótima. Eu adorei! ^_^

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