RESENHA: A HORA DA ESTRELA | CLARICE LISPECTOR


Título: A Hora da Estrela
Autor: Clarice Lispector
Editora: Rocco
Número de páginas: 87
Classificação: ★★★★★
Sinopse: A nordestina Macabéa, a protagonista de A Hora da Estrela, é uma mulher miserável que mal tem consciência de existir. Depois de perder seu único elo com o mundo, uma velha tia, ela viaja para o Rio, onde aluga um quarto, se emprega como datilógrafa e gasta suas horas ouvindo a Rádio Relógio. Apaixona-se, então, por Olímpio de Jesus, um metalúrgico nordestino, que logo a trai com uma colega de trabalho. Desesperada, Macabéa consulta uma cartomante, que lhe prevê um futuro luminoso, bem diferente do que a espera.

Resenha

Clarice Lispector e seu jeito todo especial e próprio de escrever neste livro nos leva a refletir sobre um aspecto singular da vida social: o desamparo. O sentimento de abandono, perdição, solidão em meio a um mundo extremamente populoso.
   Neste livro repleto de questões não respondidas e reflexões profundas acerca da vida de cada um e da vida de todos como um só, Clarice fala através de Rodrigo S. M., seu alter ego masculino criado para disfarçar sua sensibilidade feminina, porém sem sucesso.
   Ele inicia se apresentando como o contador dessa história. Em seu começo extremamente metalinguístico, ou seja, o livro falando do próprio livro, ele desfia os motivos que o levaram a explorar o mundo da Nordestina Macabéa. O seu modo de escrever também é uma preocupação contínua, pois pela simplicidade da história a ser contada é exigida grande destreza e precisão nas palavras.
   Acontece que nossa personagem principal é tão insignificante para a sociedade que sua história devia ser contada, e se não por ele, por qualquer outro escritor que se atrevesse a penetrar uma vida tão vazia de significado e sair dela são a ponto de transmitir tudo que viu.
   A história é fluida, não se divide em capítulos, assim como na vida real. E atravessa passado, presente e futuro de um parágrafo a outro, sem cerimônia ou aviso algum.
   Macabéa já nascera miserável em meio ao sertão de Alagoas e logo pequena perde os pais. Vai viver com a tia em Maceió e a beata lhe cria na simplicidade pura, como uma planta que só se lembra de aguar duas vezes ao dia. Já os castigos, esses eram frequentes. Um começo de vida difícil para esta sombra da sociedade, nenhuma perspectiva de futuro, a desajeitada nordestina não tinha ideia nem da própria existência e se desculpava como quem ocupa um espaço indevido nesse mundo.  
   Uma das poucas coisas que lhe agradava era ouvir a Rádio Relógio, e sentava à mesa para ouvir todas as noites, bem baixinho para não acordar as colegas de quarto. Colecionava informações inúteis como se fossem ensinamentos raríssimos que lhe serviriam muito na vida futura. Acreditava em tudo que ouvia como verdades absolutas, mas pouco entendia daquilo que ouvia.
   Um dia Macabéa encontra seu primeiro amor, o metalúrgico Olímpico de Jesus, que lhe trata sem nenhum tato, mas logo ganha seu coração sofrido. Nenhum pingo de ternura, o homem era bruto que só e se achava muito superior à coitada. Acabou por deixá-la pela colega voluptuosa com sangue do sul que lhe pareceu capaz de parir bons filhos.
   Acabou-se a pouca alegria da pobre nordestina. Pouco depois ainda descobre sofrer de tuberculose pulmonar, mas não conta a ninguém. Não há para quem contar, na verdade, pois procura esconder até de si mesma.
   Em última tentativa de compreender a si própria, vai procurar a cartomante indicada pela colega que lhe roubou o namorado. Muito bem acolhida, a cartomante a faz acreditar que finalmente terá um destino e este é bem melhor do que qualquer coisa que poderia esperar. Uma vez na vida experimenta esperança e sai da casinha embriagada de futuro. Futuro este que termina ao atravessar a rua.
   A Hora da Estrela é apenas um poema até o fim de suas páginas. Seu sentido está em dar sentido àquilo que vagueia pelo breu de nossas mentes, lá no fundo, quase inacessível. Este livro lhe entrega centenas de questões, mas nenhuma resposta. Cabe a nós preencher as lacunas. Pois, a final, não devemos esquecer que “por enquanto é tempo de morangos”.

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3 comentários:

  1. Comprei ele recentemente e confesso que não vejo a hora de entrar de cara na leitura.
    Clarice é incrível e não tenho palavras pra descrever suas obras. Espero que A Hora da Estrela me surpreenda e me modifique.
    Beijos.

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    Respostas
    1. Dany, tenho certeza de que irá amar. É o tipo da história que te toca profundamente, pois é muito real e nos faz perceber nuances do dia a dia que muitas vezes deixamos passar.

      Boa leitura!

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    2. Dany, tenho certeza de que irá amar. É o tipo da história que te toca profundamente, pois é muito real e nos faz perceber nuances do dia a dia que muitas vezes deixamos passar.

      Boa leitura!

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