Título: Jotun
Empresa: Thunder
Lotus Games
A história acompanha a personagem
Thora, que depois de sofrer uma morte desonrosa precisa impressionar os deuses
para conseguir seu lugar no Valhalla. Para isso ela deve explorar cinco regiões
diferentes e derrotar os Jotun, gigantes mitológicos que residem em cada uma
delas.
Jotun é o primeiro jogo desenvolvido
pela Thunder Lotus Games, uma desenvolvedora independente que conseguiu
financiar o projeto através de uma campanha bem sucedida no Kickstarter.
Trata-se de um jogo de ação-exploração com uma ambientação baseada na mitologia
nórdica e um visual 2D desenhado a mão muito caprichado. Como o primeiro jogo
de uma desenvolvedora pequena é possível notar como Jotun tem altos e baixos
característicos deste tipo de obra: ao mesmo tempo em que expõe todo o carinho
e esmero com que foi produzido, também deixa bem claro as suas limitações como
a curta duração e a simplicidade exagerada.
Como se pode notar pela sinopse, o enredo é bem
simples e cumpre um papel apenas secundário, funcionando mais como uma premissa
para justificar as ações do jogador. Ao longo do jogo vamos aprendendo mais
sobre o passado de Thora através de monólogos da própria personagem que
geralmente são inseridos logo depois de cada um dos chefes. Apesar de ser um
trabalho de dublagem excelente – os diálogos são todos falados em Islandês – essas
narrações parecem jogadas sem muito contexto por cima do jogo e não conseguem
integrar bem o enredo e a jogabilidade, tornando a narrativa esquecível e pouco
envolvente. Os melhores momentos acontecem quando as vozes aparecem para
descrever algum aspecto da mitologia nórdica e ajudar na ambientação e na
construção dos cenários, nessas horas a narração se torna mais imersiva e
interessante e soa mais organicamente inserida no universo do jogo.
As narrações que desenvolvem a história são dubladas maravilhosamente porém esquecíveis |
A simplicidade do enredo é
contrabalanceada pela maravilhosa estética e direção de arte, que claramente
foi o aspecto que recebeu mais atenção dos desenvolvedores e com certeza é o seu
principal diferencial e atrativo. A trilha sonora assinada por Max LL é épica,
melancólica e incrivelmente imersiva, com belas orquestrações que remetem
diretamente a este estilo nórdico sombrio e brutal. O visual faz homenagem às
animações clássicas do século passado feitas a mãos, com movimentações
extremamente cuidadosas, bem feitas, fluidas e cheias de personalidade. O uso de cores é muito bem pensado com cada
uma das cinco regiões tendo uma identidade própria e conceitos visuais
interessantes na construção dos cenários. Mas onde o jogo brilha de verdade são
nos chefes. Todos são gigantescos - fazendo com que a câmera precise se afastar
bastante para enquadra-los na tela - e visualmente impressionantes, com
diversos golpes bem animados e intimidadores. As batalhas de Thora contra os
enormes e difíceis Jotun são as pérolas do jogo, verdadeiros espetáculos
visuais embalados por músicas incríveis. É nessas horas que fica evidente onde
foi focado todo o esforço e paixão dos desenvolvedores nesse projeto.
As batalhas contra os Jotun são primorosas |
A jogabilidade, por outro lado, é
bem simples, porém funcional. Thora tem um ataque leve e um ataque pesado, e
pode rolar no chão para se esquivar de golpes inimigos. A movimentação é bem
lenta, o que leva o combate do jogo para um estilo mais deliberado e
estratégico – algo similar a Dark Souls ultra simplificado – definitivamente
não é um hack ‘n’ slash ou um jogo de ação com combate frenético. O tempero
neste sistema de combate está nas habilidades especiais que Thora acumula
durante o jogo e que podem ser usadas um número limitado de vezes; uma faz ela
se movimentar mais rápido, outra cria uma cópia para atrair os inimigos, uma
restaura vida, etc. As nuances do combate se devem exclusivamente à essas
habilidades, já que é necessário pensar estrategicamente em quais são os melhores
momentos para usa-las e avaliar o risco-recompensa de cada situação.
Infelizmente essas nuances do
combate são praticamente relegadas às batalhas contra os Jotun, uma vez que as
regiões que antecedem cada um deles são na sua maior parte desprovidas de
inimigos. Isso nos leva àquele que é o principal defeito do jogo: a construção
das fases é muito simplória e desinteressante. Cada região tem uma
peculiaridade própria que serve para não deixar o jogo completamente enfadonho:
em uma, Thora precisa deslizar pelas raízes de Yggdrasil, em outra se proteger
de geadas atrás de grandes rochas, em outra resolver puzzles e assim por
diante. Apesar disto, os cenários são longos e vazios demais, o que, junto com
a movimentação lenta da personagem, torna o processo de exploração chato na
maioria das vezes. Para piorar, excluindo a excelente apresentação visual, as
fases são muito básicas e simplistas do ponto de vista do gameplay, contando
com pouca inventividade nos seus designs. A impressão que dá é que os
desenvolvedores ampliaram os cenários o máximo possível para estender a duração
do jogo, fica claro que não há conteúdo o suficiente para preencher todas as
regiões e que todo o foco da produção foi mesmo para os chefes. Ainda assim o
jogo é extremamente curto, podendo ser terminado em algumas horas (mesmo
coletando todos os extras) e não traz muitos incentivos para ser jogado
novamente.
Os cenários são visualmente deslumbrantes mas exageradamente extensos e vazios |
Apesar desta falta de conteúdo e
da pouca duração, Jotun ainda compensa ser jogado pelas suas excelentes
batalhas contra chefes e pelo trabalho extremamente cuidadoso de concepção
visual, animação, dublagem e composição da trilha sonora. Como primeiro jogo de
uma desenvolvedora independente é fácil notar o potencial que essa companhia
tem para entregar trabalhos muito interessantes mais na frente. Jotun acaba
soando como um daqueles projetos que sofre de muitas limitações, provavelmente
devido ao tamanho da equipe, falta de tempo/dinheiro ou questões burocráticas
diversas, mas que sobra em paixão e dedicação e serve como uma amostra do que a
Thunder Lotus Games será capaz de alcançar no futuro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário