Jogos Maníacos: Jotun

Título: Jotun
Empresa: Thunder Lotus Games
Lançamento: 2015
Classificação:

Sinopse:
A história acompanha a personagem Thora, que depois de sofrer uma morte desonrosa precisa impressionar os deuses para conseguir seu lugar no Valhalla. Para isso ela deve explorar cinco regiões diferentes e derrotar os Jotun, gigantes mitológicos que residem em cada uma delas.

                                                             Resenha

Jotun é o primeiro jogo desenvolvido pela Thunder Lotus Games, uma desenvolvedora independente que conseguiu financiar o projeto através de uma campanha bem sucedida no Kickstarter. Trata-se de um jogo de ação-exploração com uma ambientação baseada na mitologia nórdica e um visual 2D desenhado a mão muito caprichado. Como o primeiro jogo de uma desenvolvedora pequena é possível notar como Jotun tem altos e baixos característicos deste tipo de obra: ao mesmo tempo em que expõe todo o carinho e esmero com que foi produzido, também deixa bem claro as suas limitações como a curta duração e a simplicidade exagerada.

Como se pode notar pela sinopse, o enredo é bem simples e cumpre um papel apenas secundário, funcionando mais como uma premissa para justificar as ações do jogador. Ao longo do jogo vamos aprendendo mais sobre o passado de Thora através de monólogos da própria personagem que geralmente são inseridos logo depois de cada um dos chefes. Apesar de ser um trabalho de dublagem excelente – os diálogos são todos falados em Islandês – essas narrações parecem jogadas sem muito contexto por cima do jogo e não conseguem integrar bem o enredo e a jogabilidade, tornando a narrativa esquecível e pouco envolvente. Os melhores momentos acontecem quando as vozes aparecem para descrever algum aspecto da mitologia nórdica e ajudar na ambientação e na construção dos cenários, nessas horas a narração se torna mais imersiva e interessante e soa mais organicamente inserida no universo do jogo.

As narrações que desenvolvem a história são dubladas maravilhosamente porém esquecíveis

A simplicidade do enredo é contrabalanceada pela maravilhosa estética e direção de arte, que claramente foi o aspecto que recebeu mais atenção dos desenvolvedores e com certeza é o seu principal diferencial e atrativo. A trilha sonora assinada por Max LL é épica, melancólica e incrivelmente imersiva, com belas orquestrações que remetem diretamente a este estilo nórdico sombrio e brutal. O visual faz homenagem às animações clássicas do século passado feitas a mãos, com movimentações extremamente cuidadosas, bem feitas, fluidas e cheias de personalidade.  O uso de cores é muito bem pensado com cada uma das cinco regiões tendo uma identidade própria e conceitos visuais interessantes na construção dos cenários. Mas onde o jogo brilha de verdade são nos chefes. Todos são gigantescos - fazendo com que a câmera precise se afastar bastante para enquadra-los na tela - e visualmente impressionantes, com diversos golpes bem animados e intimidadores. As batalhas de Thora contra os enormes e difíceis Jotun são as pérolas do jogo, verdadeiros espetáculos visuais embalados por músicas incríveis. É nessas horas que fica evidente onde foi focado todo o esforço e paixão dos desenvolvedores nesse projeto.

As batalhas contra os Jotun são primorosas

A jogabilidade, por outro lado, é bem simples, porém funcional. Thora tem um ataque leve e um ataque pesado, e pode rolar no chão para se esquivar de golpes inimigos. A movimentação é bem lenta, o que leva o combate do jogo para um estilo mais deliberado e estratégico – algo similar a Dark Souls ultra simplificado – definitivamente não é um hack ‘n’ slash ou um jogo de ação com combate frenético. O tempero neste sistema de combate está nas habilidades especiais que Thora acumula durante o jogo e que podem ser usadas um número limitado de vezes; uma faz ela se movimentar mais rápido, outra cria uma cópia para atrair os inimigos, uma restaura vida, etc. As nuances do combate se devem exclusivamente à essas habilidades, já que é necessário pensar estrategicamente em quais são os melhores momentos para usa-las e avaliar o risco-recompensa de cada situação.

Infelizmente essas nuances do combate são praticamente relegadas às batalhas contra os Jotun, uma vez que as regiões que antecedem cada um deles são na sua maior parte desprovidas de inimigos. Isso nos leva àquele que é o principal defeito do jogo: a construção das fases é muito simplória e desinteressante. Cada região tem uma peculiaridade própria que serve para não deixar o jogo completamente enfadonho: em uma, Thora precisa deslizar pelas raízes de Yggdrasil, em outra se proteger de geadas atrás de grandes rochas, em outra resolver puzzles e assim por diante. Apesar disto, os cenários são longos e vazios demais, o que, junto com a movimentação lenta da personagem, torna o processo de exploração chato na maioria das vezes. Para piorar, excluindo a excelente apresentação visual, as fases são muito básicas e simplistas do ponto de vista do gameplay, contando com pouca inventividade nos seus designs. A impressão que dá é que os desenvolvedores ampliaram os cenários o máximo possível para estender a duração do jogo, fica claro que não há conteúdo o suficiente para preencher todas as regiões e que todo o foco da produção foi mesmo para os chefes. Ainda assim o jogo é extremamente curto, podendo ser terminado em algumas horas (mesmo coletando todos os extras) e não traz muitos incentivos para ser jogado novamente.

Os cenários são visualmente deslumbrantes mas exageradamente extensos e vazios

Apesar desta falta de conteúdo e da pouca duração, Jotun ainda compensa ser jogado pelas suas excelentes batalhas contra chefes e pelo trabalho extremamente cuidadoso de concepção visual, animação, dublagem e composição da trilha sonora. Como primeiro jogo de uma desenvolvedora independente é fácil notar o potencial que essa companhia tem para entregar trabalhos muito interessantes mais na frente. Jotun acaba soando como um daqueles projetos que sofre de muitas limitações, provavelmente devido ao tamanho da equipe, falta de tempo/dinheiro ou questões burocráticas diversas, mas que sobra em paixão e dedicação e serve como uma amostra do que a Thunder Lotus Games será capaz de alcançar no futuro.


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