O brutalista (2025) | Crítica

                                                 

Título: O Brutalista (The Brutalist)
Direção: 
Brady Corbet 
Roteiro: Brady Corbet e Mona Fastvold
Elenco: Adrien Brody, Felicity Jones, Guy Pearce, Joe Alwyn, Emma Laird
Lançamento: 20 de fevereiro de 2025

Sinopse: Fugindo da Europa pós-guerra 2ª guerra, o visionário arquiteto László Toth chega à América para reconstruir sua vida, seu trabalho e seu casamento com sua esposa Erzsébet, após terem sido separados durante a guerra por fronteiras e regimes em constante mudança. Sozinho em um país estranho, László se estabelece na Pensilvânia, onde o rico e influente industrialista Harrison Lee Van Buren reconhece seu talento para a construção.


Um monumento ao ardor da assimilação 

Diferente do movimento arquitetônico Brutalista, Brady Corbet constrói uma trama sinuosa e angular, na qual a exposição da estrutura e dos materiais não é radicalmente funcional. O béton brut não é aparente na superfície; seus temas se desenvolvem tacitamente, o preconceito é velado, os desejos são pulsantes, mas nem sempre exibidos. É, na realidade, uma obra cheia de sentimentalidade e sensível à luta por pertencimento de seus personagens.

Logo de partida, a imagem da Estátua da Liberdade de cabeça para baixo nos mostra que os Estados Unidos não são a terra prometida, por mais que a trilha triunfante nos dê uma breve ilusão disso. Se atentarmos aos sons que Daniel Blumberg adiciona ao motif principal, perceberemos que muitas vezes há texturas destoantes daquilo que está sendo mostrado em tela — há até o som de uma sirene ao fundo, nos alertando para os conflitos que se aproximam. Há um "quê" de irregularidade e descompasso. 

De certa forma, a faixa "Steel" me lembra um pouco o que Johnny Greenwood constantemente faz ao compor trilhas para filmes (vide There Will Be Blood e You Were Never Really Here). Essa faixa, em particular, me permite traçar um paralelo ainda maior com There Will Be Blood: se lá tínhamos o recém-descoberto petróleo californiano, aqui temos o aço da Pensilvânia impulsionando o industrialismo (e suas mazelas) norte-americano. Sendo justos, Corbet parece beber, de maneira muito saudável, da cinematografia de Paul Thomas Anderson. A faixa do epílogo em Veneza nos transporta imediatamente para a década de 1980 em um salto espetacular — de uma trilha que beirava a musique concrète para algo claramente inspirado por Vangelis e Jean Michel Jarre. Dito tudo isso, quero ouvir mais trabalhos de Daniel Blumberg.

Chegar ao final e ver o sonho americano ser corrompido ao ponto de o protagonista preferir fugir para a outra terra prometida, a sionista, é algo deprimente e aterrorizante. O filme acerta em cheio nesse quesito, se a intenção é alertar para os custos de não ser assimilado culturalmente em um país como os EUA. Custos esses extremamente altos, altíssimos. A narrativa se sustenta no desafio de Lázló Toth em manter sua integridade artística e étnica diante da subversão do mito americano, especialmente no que se refere aos imigrantes europeus.

A segunda metade do filme perde o ímpeto "otimista" da primeira. O tom esperançoso dá lugar ao desespero, enquanto Lázló parece aprisionado em um destino cruel, aguardando um final triunfante que nunca chega. A ausência do retorno das tão esperadas trombetas simboliza a frustração da narrativa e a desesperança do personagem.

Talvez essa seja a tragédia mais profunda do filme: a maneira como um povo, buscando significado após uma catástrofe, se vê envolvido na criação e perpetuação de uma mitologia que, em última instância, o objetifica.

No contexto do sionismo, a jornada de Lázló se apresenta como uma metáfora para o povo judeu durante e após a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto. Sua chegada à América marca não um recomeço libertador, mas a perda de sua própria agência. A transformação de Zsofia (sua sobrinha), por sua vez, é ainda mais marcante: sua busca por cura a leva ao sionismo, que acaba por distorcer o legado e a obra de Lázló para servir a um propósito maior.

O mesmo epílogo que nos lança na década de 1980 é intrigante pela forma como a vida e obra de Toth são cooptadas pelos seus descendentes. Enquanto isso, Toth está desmoralizado, sem vida, incapaz de falar a verdade, e sua suposta "obra-prima" carrega um nome que lhe trouxe tanta dor e criou o vazio de significado irreparável na sua vida. Para mim, certamente, não é o "destino que importa" — ainda mais quando o caminho se mostrou tão "brutalizante" para o próprio brutalista.

Não é um filme tão magnífico quanto eu gostaria, especialmente na segunda metade (a intermission foi bem-vinda). Ainda assim, estou satisfeito. De alguma forma, queria mais — ou melhor, menos melancolia? Mas, ao lembrar que uma obra dessa magnitude conseguiu ser feita, com esse nível de competência, e com apenas 10 milhões de dólares no orçamento, fica difícil não se maravilhar.


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