Resenha: O Rei de Amarelo | Robert W. Chambers

Título: O Rei de Amarelo
Gênero: Terror, Ficção
Autor: Robert W. Chambers
Editora: Intrínseca
Ano:  2014
Páginas: 256
Onde comprar: Amazon | Submarino
Classificação:

Sinopse


O livro é uma coletânea de dez contos, onde os quatro primeiros fazem referências a um fictício livro de uma peça teatral chamada O Rei de Amarelo e explora a insanidade de seus protagonistas após lerem essa obra.


                                                                    Resenha 

Soube da existência desse livro em 2014 devido ao hype que as pessoas estavam após assistirem a série True Detective (ler resenha), que utilizou-se dos elementos que compõem a peça fictícia em seu enredo investigativo. Após terminar de ver a série, o desejo de ler a obra ficou maior e finalmente fui matar minha curiosidade. A ideia de uma história que enlouquecia os leitores me pareceu incrível. Entenda que, são os personagens dos contos de Chambers que depois de lerem o fictício livro O Rei de Amarelo (mais precisamente o Ato II), perdiam a sanidade! Eu realmente achei que o livro teria entre seus capítulos, essa peça inteira. Mas, quando li a excelente introdução escrita pelo escritor e jornalista Carlos Orsi, confesso que fiquei ainda mais intrigada, compreendi a história do livro, conheci melhor o autor, a época em que o livro foi escrito e a influência que ele teve em diversos autores posteriores.

“Estranha é a noite em que estrelas negras sobem,
E estranhas luas o céu percorrem
Mas ainda mais estranha é a
Perdida Carcosa.” -
“Canção de Cassilda” em O Rei de Amarelo, ato I, cena 2

Publicado em 1895, Chambers (1865 - 1933) brinca com a lucidez de seus personagens envoltos no terror causado por uma peça teatral. Nessa primeira parte, somos apresentados aos contos: O reparador de reputações, A máscara, No Pátio do Dragão e O Emblema Amarelo. São excelentes histórias com thriller psicológico, ótimos desenvolvimentos e que possuem finais duvidosos. Finais esses que me levaram a repensar o que acabara de ler, como se eu estivesse montando em minha mente os eventos que levaram aquele determinado final. Os outros contos são mais realistas e fogem da insanidade e do terror. Sendo bem sincera, achei apenas os quatro primeiros contos mais instigantes que os posteriores que constituem a coletânea. 

O reparador de reputações

Arte por Vicente Valentine
Nesse primeiro conto, nos deparamos com uma distópica Nova Iorque em 1920. Visto que o livro foi publicado em 1885, ou seja, 35 anos antes, O reparador de reputações é de certa forma um tipo de sci-fi de Chambers. Os elementos que constroem esse futuro distópico, está em um Estados Unidos que expulsou negros e judeus, a política é militarizada e o que mais me chamou a atenção: a existência de câmeras de suicídios espalhadas pelo país. Essas câmeras foram feitas para as inúmeras pessoas insatisfeitas com o cenário social e que queriam tirar a própria vida. Sim, esse é o tom dos contos que são entregues, o absurdo e o bizarro de forma um tanto romantizada. Nessa história, o Sr. Castaigne é o protagonista e narra sobre o tempo que ficou por equívoco em um sanatório (ele defende que não era necessário, mas o médico insistiu) e sobre suas relações com outros personagens que ele apresenta, como seu primo e o esquisito sr. Wilde que trabalha como um reparador de reputações. Aos poucos, vemos a verdadeira personalidade de Castaigne tomada pela ambição e como O Rei de Amarelo o influencia a tomar certas decisões.

A Máscara e No Pátio do Dragão
Sem dúvidas, esses são os meus contos favoritos do livro. Ler O Rei de Amarelo me reacendeu a vontade de ler mais livros nesse gênero de suspense, terror e fantasia. Em A Máscara, a história conta a relação de Alec, seu melhor amigo Boris e a bela Geneviève. Ao mesmo tempo que explora o triângulo amoroso, conta a invenção alquímica de Boris. Ele inventou uma solução capaz de transformar qualquer ser vivo, desde flores à coelhos em esculturas de mármore. Em algum momento, o livro O Rei Amarelo acaba sendo lido e o trio é abalado pela “maldição” e caos. Uma coisa que amei nesse conto foi a finalização chocante da história. Já em No Pátio do Dragão, a história é incrível assim como o final. O personagem começa a narrar sobre um momento que estava na Igreja e como O Rei de Amarelo o afetou. Ali, ele se sente um desconforto com um homem de preto, magro e sinistro, que se deslocava pela Igreja e encarava o narrador. Fui tomada pelo terror do protagonista devido ao seus relatos de uma ameaça que o perseguia, como se fosse uma espécie de delírio.

“Eu estava arrasado após três noites de sofrimento físico e perturbações mentais: a última havia sido a pior, e foram um corpo exausto e uma mente entorpecida, apesar de extremamente sensível, que levei à minha igreja favorita para curar. Pois eu tinha lido O Rei de Amarelo.” - No Pátio do Dragão


O Emblema Amarelo 

Este conto é considerado por muitos um dos melhores de Robert W. Chambers e “finaliza” a sequência de histórias com foco no Rei de Amarelo. Acho um bom conto, mas não me cativou tanto. O que me chamou a atenção foi a inserção de mais elementos da obra insana. Nessa história, o pintor Sr. Scott e sua modelo Tessie possuem sempre a mesma rotina de trabalho. Certa vez, da janela o pintor se incomoda com um homem estranho na rua que o encarava. Ele conta para Tessie seu incômodo e de tanto falarem do homem, ambos começam a ter pesadelos. O escritor entre os quatro contos, utiliza referências de uns nos outros. O homem fúnebre visto pelo pintor faz alusão ao personagem do conto A Máscara, por exemplo. E isso se repete entre as histórias, mas em todas elas há notas de Carlos Orsi que iluminam a mente do leitor para prestar atenção nesses detalhes sutis. Um dia a jovem modelo pega O Rei de Amarelo para ler contra as recomendações do pintor que não gostava da ideia de chegar perto do livro. Ela entra em um estado de “transe” (pelo menos foi o que pareceu) e temendo pelo seu futuro ele lê a peça. O final dessa história foi um pouco previsível, mas gostei de como acabou.

Mitologia Amarela

Durante a obra é possível ver os fragmentos da peça fictícia escrita para compor a mitologia, assim como disse inicialmente, não há a peça na íntegra para leitura. Diversos escritores já tentaram recriar essa peça e apenas o americano James Blich que chegou a escrever um conto um pouco mais fiel. Eu vou dar uma pesquisada, ver se acho o livro ou o conto para ler. Mas, os fragmentos que Chambers insere em sua mitologia, falam de entidades como o homem de preto (ou fúnebre), O Rei de Amarelo, simbologias como o Emblema Amarelo ou a Coroa do Rei, A Máscara Pálida, Carcosa (que parece ser um lugar estranho e mítico), o lago de Hali, as estrelas negras (Híades e Aldebarã), entre outras citações. E se você gosta de obras dos escritores H.P Lovecraft, Stephen King e Neil Gaiman, já deve ter percebido algumas coisas familiares nesta descrição. Isso deve-se ao fato de que Chambers influenciou esses e outros diversos escritores. 

A máscara
 
Camilla: O senhor deveria tirar a máscara.
Estranho: É mesmo?
Cassilda: É mesmo, está na hora. Todos tiramos nossos disfarces, menos o senhor.
Estranho: Eu não estou de máscara.
Camilla: (Horrorizada, em particular para Cassilda.) Não é máscara? Não é máscara!
- O Rei de Amarelo, Ato I, Cena 23

As outras histórias

Para finalizar, vou ser breve quanto os outros contos que compõe a coletânea. A Demoiselle d’Ys é um conto de fadas que faz parte do folclore francês e é mais ficção científica. Há uma mítica cidade chamada Ys e conta a história de Philip, um americano que acaba se perdendo indo parar em uma vila no ano de 1573, pois ele viajou para o passado, mais precisamente três séculos antes de seu presente. Esse conto tende a ser menos trágico que os anteriores e aqui ele conhece Jeanne D’Ys e ambos se apaixonam. Na verdade é a partir dessa história, que os contos deixam de serem voltados para o terror. O paraíso do profeta é uma antologia de poemas com algumas sutis referências a mitologia de O Rei de Amarelo. Por fim, o livro é composto por outros contos finais que tratam de artistas e suas boêmias na França. As histórias são: A rua dos Quatro Ventos, A Rua da Primeira Bomba, A rua de Nossa Senhora dos Campos e Rue Barrée

HQ da Editora Draco
A Editora Draco lançou  uma coletânea de oito histórias em quadrinhos com artistas nacionais organizado por Raphael Fernandes e inspiradas na obra de Chambers. Infelizmente, ainda não li essa versão e pelo que pude ver no site e resenhas, o trabalho está impecável! Fóruns disponíveis pela internet para discutir o livro é o que não faltam, mas para ter maior imersão aos detalhes do livro quanto a mitologia criada por Robert W. Chambers, indico três publicações bem interessantes. A primeira se chama As influencias literárias em O Rei de Amarelo e seu legado, matéria original do site Literatortura (link quebrado) e está disponível no site da Marina Franconeti. Nesse post é apresentado diversos escritores que foram influenciados pela obra de Chambers. A segunda indicação é a publicação Viagem à Carcosa escrita por Luciana Galastri disponível no site GALILEU. No texto, ela faz comparações bem legais com a série True Detective! E a terceira e última é uma entrevista com o jornalista Carlos Orsi falando tudo sobre o livro e está disponível no site da Editora Intrínseca.


Comente com o Facebook:

Nenhum comentário:

Postar um comentário