Crítica I O Doutrinador

Título: O Doutrinador
Direção: Gustavo Bonafé
Roteiro: Bia Crespo, Denis Nielsen, Gabriel Wainer, Guilherme Siman, L.G. Bayão, Luciano Cunha, Mirna Nogueira, Rodrigo Lages
Elenco: Kiko Pissolato, Samuel de Assis, Tainá Medina, Nicolas Trevijano, Du Moscovis, Tuca Andrada, Natália Lage, Helena Ranaldi, Eucir de Souza e Marília Gabriela.
Classificação: Nenhum texto alternativo automático disponível.
Sinopse: Um vigilante mascarado surge para atacar a impunidade que permite que políticos e donos de empreiteiras enriqueçam às custas da miséria e do trabalho da população brasileira. A história do homem por trás do disfarce de Doutrinador envolve uma jornada pessoal de vingança na qual um agente traumatizado decide fazer justiça com as próprias mãos...

                                                        Crítica

O Doutrinador é baseado no quadrinho homônimo criado por Luciano Cunha e conta a história de Miguel, um policial de um esquadrão de elite da polícia brasileira que está trabalhando em uma operação que investiga o desvio de verbas de hospitais públicos. Ele passa por um incidente trágico e não mede esforços para matar os envolvidos.

Como grande parte dos filmes de vingança, a história de O Doutrinador é rasa e o pano de fundo da substância necessária para o filme engrenar. O objetivo de Miguel é claro e dialoga com a revolta da população e pode ser traduzido como um impulso implacável que nos deixa pregados na cadeira sem tempo para respirar.

Nos poucos momentos de respiro, o filme abre um caminho para a construção de personagens secundários interessantes, que acabam convergindo ao combate do inimigo comum a todos, o "sistema".

A direção de Gustavo Bonafé é muito corajosa e não apela para os recursos batidos de filmes de ação, abusando de câmera lenta e cortes rápidos, muito pelo contrário, as cenas de luta, tiroteio e a construção de métricas de tempo bem definidas dão um tom belo que talvez seja algo inédito no cinema nacional e que justifica a ação e a eficiência que o Doutrinador transmite em suas ações.

A fotografia é um deleite, com pelas cenas da cidades e uma estética dos quadrinhos de Frank Miller, mostrando a cidade do alto, nos dando a dimensão do tamanho da cidade que alinhas perfeitamente com as sombras, luzes e os sons. A trilha sonora é bem pensada e imersiva em alguns momentos.

Kiko Pissolato foi uma escolha acertada para o papel de Miguel. Não é um rosto conhecido do grande público e encarnou o papel transmitindo com maestria a jornada de dor e vingança do personagem.

O elenco de apoio é bacana e conta com alguns nomes conhecidos do público geral como Eduardo Moscovis, Marília Gabriela, Helena Rinaldi, Tuca Siqueira e alguns outros que em certos momentos destoam em qualidade de interpretação do resto do elenco, elevando o nível da produção.

Carlos Betão é outro ator pouco conhecido do público e que tem uma atuação fantástica. Tainá Medina como Nina, traz um pouco da nossa visão de "povo" para dentro da trama. Se o Doutrinador é implacável e tem muitas habilidades físicas, Nina tem uma história que a torna frágil, apesar de muito sagaz. A dupla tem uma ótima química.

Os diálogos são muito bem desenvolvidos, destaque para os políticos que mesclam o deboche com a cara de pau no discurso mentiroso para manipular o povo. O ponto ruim é a falta naturalidade nos diálogos. Conversas pausadas, xingamentos quase artificiais e etc... mas nada que comprometa o andamento do filme.

Outro problema claro do filme é a construção de um universo ficcional tão parecido com o nosso atual momento político. Como vivenciamos algo parecido com os acontecimentos do filme nos protestos de 2013, mentalmente acabamos sempre buscando nomes ou rostos que sejam relacionados com a realidade e pode causar um estranhamento inicial no espectador.

Algumas cenas são desnecessariamente mastigadas e forçadas. Alguns focos em mensagens nas paredes, referências ou uma excessiva exposição quase "big brotherana" de um patrocinador, não compromete a obra, mas diminui a qualidade. Um product placement é interessante, desde que seja algo natural aos olhos.

O Doutrinador não deve ser visto como uma peça política, é um filme de ação honesto que coloca o Brasil na rota dos grandes filmes de ação e é uma alento para um povo cansado de tanta roubalheira e corrupção.

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