Crítica | A Freira

Título: A Freira

Direção: Corin Hardy

Elenco: Taissa Farmiga, Demián Bichir, Jonas Bloquet e Bonnie Aarons

Classificação:  

Sinopse: Após um suicídio sem explicação num convento da Romênia, o Vaticano envia o padre Burke (Demián Bichir) e a jovem noviça Irene (Taissa Farmiga) para investigarem tal mistério. Lá eles descobrem que o suicídio está diretamente envolvido com uma força maligna que permeia o castelo onde o convento fica localizado. A origem do mal reside na parte mais profunda do castelo. E é ao se depararem com essa aterradora verdade que os dois terão que pôr a sua fé em jogo e arriscar suas almas para lutar contra a freira demoníaca (Bonnie Aarons).

A Freira estreia provando ao público que a franquia Invocação do Mal ainda tem muito a oferecer


O subgênero do terror sobrenatural viveu altos e baixos desde a sua estreia com os clássicos dos anos 1930. A partir daí houve um certo declínio na qualidade das produções salvo raras exceções como A casa dos maus espíritos (1959) e O bebê de Rosemary (1968) até o lançamento, em 1973, da obra máxima desse nicho: O exorcista. Após o magnífico trabalho dirigido por William Friedkin, as expectativas do público se tornaram tão altas quanto a sua exigência. Eles passaram a clamar por outra sessão de medo que se equiparasse a narrativa do demônio Pazuzu – coisa que não aconteceu tanto e tampouco cedo.

Somente com a virada do século que o cinema voltou a ser privilegiado com produções verdadeiramente criativas que conseguiam manter a qualidade e o horror sem correr para os clichês a exemplo de O sexto sentido (1999), A espinha do Diabo e Os outros (lançados em 2001) mas isso também não durou muito. Mais uma vez o universo das películas sobrenaturais se encontrava numa fase deprimente. A vertente foi tomada pelas repetições mais primárias e óbvias do que deveria ser feito durante um longa-metragem de terror, pondo de lado a originalidade e a verdadeira construção do medo.

Existiram algumas obras cinematográficas do gênero que suscitaram certa retomada de dignidade e atenção, mas nenhuma foi capaz de vender a sua ideia de maneira completa para o espectador. Contudo, em 2013, com a estreia do capítulo inicial do universo Invocação do Mal, um leque de oportunidades foi aberto para o subgênero. A partir desse momento, o público voltou a acreditar em longas de terror, tendo em vista que esses eram capazes de provocar medo de verdade. Talvez a franquia da New Line Cinema seja atualmente um dos poucos trabalhos do circuito comercial que prezam pela construção do horror.

Nesta quinta-feira (6), os cinemas brasileiros terão o vislumbre de mais uma etapa dessa história iniciada em 2013 pelo diretor, produtor e roteirista James Wan. A estreia de A Freira vem provar para o público que a série de filmes Invocação do Mal ainda tem muito a oferecer. Com o roteirista Gary Dauberman – cujo escreveu para os longas It - A Coisa (capítulos I e II) e os três filmes da Annabelle – a frente desse projeto, o resultado foi muito bom. O mix de tensão, medo e respirações profundas está presente durante toda a sessão.
 
O fato mais importante antes de assistir a história de origem do demônio Valak é ter em mente que a construção dessa obra é feita de uma forma bem diferente das demais. Os filmes da Annabelle, por exemplo, seguem a linha do "jump scare”, sem perder a qualidade da narrativa ou se tornar um mar de clichês – mesmo que o primeiro filme da boneca não tenha sido tão bom. Já as narrativas acerca dos casos dos Warren mesclam momentos de “jump scare” com uma construção narrativa, visual e sonora de medo, fazendo com que os Invocação do Mal sejam disparadamente os melhores e mais bem trabalhados longas da franquia.

A questão sobre A Freira está justamente na maneira como a produção escolheu promover o terror. Há, ao decorrer da película, a criação de uma atmosfera de medo que é implementada nas salas de exibição. Através de elementos técnico-narrativos muito bem construídos, o longa do diretor Corin Hardy (A maldição da floresta, de 2016) é muito feliz em sua abordagem como uma história de horror. Por mais que a escolha tenha sido mais a partir de sensações direcionadas e sutis do que premissas “jump scare, o resultado ainda provoca aquele desespero no público.

O trabalho técnico da película foi brilhante. Hardy dirige o trabalho de uma maneira generosa e coesa, interligando extraordinariamente os trabalhos do elenco e dos diretores de trilha sonora e fotografia, respectivamente, Abel Korzeniowski e Maxime Alexandre. Esses dois últimos são grandes responsáveis por criar uma verdadeira atmosfera amedrontadora. É importante ressaltar, também, o roteiro o qual foi bem elaborado por Dauberman. E essa sintonia, criatividade e respeito pelo gênero fizeram de A Freira um produto que não deixa nada a desejar.

Apreensão, suspiros, ansiedade. Essas serão as principais sensações que tomam conta de cada um dos espectadores durante os 96 minutos da sessão. É importante lembrar da cena logo antes dos créditos finais que existe para conectar o longa aos seus antecessores – coisa que é feita com maestria. A obra merece ser apreciada e entendida sob a sua concepção diferenciada quando comparada aos outros produtos do universo. Leve seu crucifixo e prepare-se para rezar como nunca antes afinal, a Valak está de volta para aterrorizar a sua vida mais uma vez.

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