Angry Birds: O Filme (The Angry Birds Movie, EUA, 2016)
Direção: Clay Kaytis, Fergal Reilly,
Roteiro: Jon Vitti
Elenco com as vozes no original: Peter Dinklage, Jason Sudeikis, Kate McKinnon, Sean Penn, Bill Hader, Maya Rudolph, Danny McBride, Josh Gad, Tony Hale
Duração: 97 minutos.
Classificação:
Direção: Clay Kaytis, Fergal Reilly,
Roteiro: Jon Vitti
Elenco com as vozes no original: Peter Dinklage, Jason Sudeikis, Kate McKinnon, Sean Penn, Bill Hader, Maya Rudolph, Danny McBride, Josh Gad, Tony Hale
Duração: 97 minutos.
Classificação:

Sinopse: A história acompanha Red que
por problemas de raiva é enviado para um clube a fim de aprender a controlar
seus nervos. Lá, conhece Bomba, Terêncio e Chuck, outros pássaros “problemáticos”.
As sessões terapêuticas são administradas por Matilda. Quando os roteiristas
percebem que já não há mais o que explorar nesse núcleo, os antagonistas chegam
em cena. Então, sem mais nem menos, os porquinhos verdes surgem na ilha isolada
e feliz dos pássaros. Porém, as verdadeiras intenções dos porcos logo surgem
quando eles roubam todos os ovos da ilha e fogem para seu próprio reino. Então,
os pássaros liderados por Red clamam vingança e decidem resgatar os ovos...
Resenha (contém spoilers)
Não tenho absolutamente nada
contra filmes propaganda. Já tivemos um desses que foi exemplar. Uma Aventura Lego pegava elementos de
diversos filmes e moldava tudo a favor de sua história. De longe, foi um dos
melhores filmes de 2014. Ainda nesse nicho outras obras razoáveis conseguiram
justificar sua existência conseguindo contar alguma história como no caso do primeiro
Transformers e G.I. Joe. Porém, também havia aqueles que não conseguiam fazer o
mínimo sendo considerados verdadeiros lixos cinematográficos: Battleship e Ouija. A adaptação do celebre jogo da Rovio pode ser classificada
nessa pior avaliação. O filme é torpe.
Já chegando com muito atraso para
provar sua relevância – há tempos que a “sensação” Angry Birds acabou, o filme
resulta em um bolo de jogadas pouco inteligentes, humor grotesco, personagens
pífios, história raquítica, porém exibindo uma belíssima técnica de animação
tridimensional, além do bom uso do efeito estereoscópico.
Angry Birds é um daqueles filmes tão pobres narrativamente que a
própria sinopse se torna um resumo do filme inteiro. Sim, é exatamente isso o
que acontece no longa, pois não há nada a mais para contar nesse universo por
falta de competência e imaginação do roteirista Jon Vitti. Pela sinopse/resumo,
pode não ser possível perceber que se trata mais uma vez do “arroz com feijão”
de sempre: a já consagrada Jornada do Herói de Joseph Campbell, ainda que haja
certa variação da receita propriamente dita. O mais engraçado disso tudo é o
fato de Vitti nem ao menos conseguir entregar o padrão. Pode parecer
impossível, mas esse filme falha até mesmo em algo tão manjado como o monomito.
Por meio de flashbacks muitíssimo grosseiros ao longo da narrativa, descobrimos
que o nada afável Red se trata de um órfão – Luke Skywalker, Bruce Wayne,
Naruto, Goku, Harry Potter, Peter Parker, que é tratado como um pária em sua
sociedade por ser diferente – seja por ser órfão, “sobrancelhudo” ou pelos seus
“problemas” de raiva que na verdade são de apatia e niilismo. Porém, seja lá
por qual razão, quando Red é confrontado pela chegada dos porcos amistosos em
primeiro momento, ele luta com todas as suas forças para salvar a mesmíssima
sociedade que o deixava recluso, que o caçoava. Não há a menor motivação para Red
salvar seus conterrâneos que não nutrem a menor simpatia por ele. É
simplesmente estúpido até mesmo para crianças que ainda estão nas fraldas.
Claro que tudo pode piorar. Com Angry Birds, de fato, piora. Por mais
fraco que seja seu protagonista, admito que dá para aguentar o filme por conta
dele, porém os coadjuvantes são os verdadeiros responsáveis em lhe deixar tão
irado quanto o pássaro vermelho. Vitti trabalha com estereótipos já clichês em
demasia, porém fazendo o favor em aumentar o nível de canastrice. Chuck, o
pássaro amarelo dublado por Fábio Porchat que chama atenção para si com a voz
irritante, é o pior personagem desse rol monótono. Assim como Red, ele não está
na sessão terapêutica por problemas relacionados à raiva. Na verdade, nenhum
dos pássaros estão lá por este motivo apresentado pelo filme – o que torna o
argumento ainda mais frágil.
O problema de Chuck se dá
justamente no teor do humor do filme, mas que é enfatizado no personagem por
ele ser o alívio cômico. Sendo uma espécie de “ligeirinho” graças à mecânica do
jogo, o personagem é hiperativo e verborrágico soltando diversas frases de
efeito remetendo à memes ou outro
humor estúpido demais para crianças acima de sete anos e, em boa parte,
incompreensível para os menores. Outras vezes há até mesmo piadas gráficas que
exclamam conotações sexuais que alguns pais podem julgar inapropriadas.
No campo de personagem, Chuck nem
serve para ser um coadjuvante competente – isso também inclui Bomba, Terêncio e
Matilda, todos personagens de uma nota só mesmo que sejam mais fáceis de
suportar. Nunca vemos o alvorecer de uma amizade verdadeiramente digna entre
Red e ele – por favor, não se esqueçam de animações fabulosas que trabalham tão
bem a amizade entre personagens como Toy
Story ou Monstros S.A. Os
coadjuvantes não auxiliam em nada na jornada, nem mesmo sabem a razão de
seguirem Red em sua mini odisseia, já que não há a menor motivação visto que a
maioria dos pássaros colegas do protagonista não sofrem do mesmo preconceito
que ele sofre.
Vitti e os diretores Clay Kaitis
e Fergal Reilly apostam na comédia esdrúxula e burra. O teor do filme é mesmo a
tosquice então não se assuste quando ver a cena mais desprezível que tive o
desgosto de conferir neste ano. Já pelas tantas no meu sofrimento em assistir à
tamanha besteira, Red, Chuck e Bomba partem em busca da figura messiânica do
Mega Águia – uma ave idolatrada por todos que creem em sua imortalidade e
eterna vigilância para os protegerem de todo o mal. Obviamente, um paralelo à
Jesus Cristo. Quando o trio enfim chega no cume mais alto da montanha mais
alta, lugar onde o personagem messiânico reside, se deparam com um lago
paradisíaco onde nadam e bebem sua água. Então, para apresentar o tal Mega
Águia, os diretores o colocam saindo de uma caverna localizada acima do lago. Segue
um enquadramento por trás das pernas do personagem que exibe ele urinando no
lago da sabedoria onde há pouco Chuck e Bomba faziam palhaçadas.
Seria algo somente besta se fosse
ligeiro, mas a dupla de cineastas não opta por cortar a ação em poucos
segundos. Acompanhamos o Mega Águia urinar por quase um minuto de projeção,
intercalando com os reaction shots caricatos
e irritantes de Bomba e Chuck. O humor não é restrito apenas à escatologia –
essa não é a única cena dessa vertente de humor. Muita coisa vem do slapstick comedy, além de muitas gírias como “só que não” aplicadas pela
dublagem que pelo jeito consegue deixar o humor desse filme ainda menos
engraçado. Pouquíssimas piadas conseguem fugir disso e trabalhar com comédia
mais refinada – umas dessas, ainda que clichê, é exibida durante um time lapse.
A semelhança desse arco de busca
à uma figura fracassada e acreditava por todos como salvador do universo já foi
melhor trabalhada em Megamente.
Aliás, há tantas coisas que Vitti copia que seria desperdício de tempo listar
tudo. Entretanto, o pior não reside com os pássaros, mas sim com os porcos.
Passa-se a apostar mais no humor de paródia aliado ao slapstick repleto de piadas envolvendo muitas dancinhas e nádegas –
são minions de pior qualidade.
De começo, ao menos, o plano dos
porcos é interessante em se passarem como lobos em pele de ovelhas. Em poucos
minutos isso cansa graças a superficialidade dos bichos que também não tem
motivação, já que eles descobrem o que é um ovo durante a visita na ilha dos
pássaros – algo que até mesmo se torna grosseiro quando eles retornam para seu
reino onde o rei comunica à população que seu plano original de sequestrar ovos
para comê-los foi bem-sucedido.
Muito do plano do porco rei é rasteiro
constituindo no escambo e em shows temáticos ou baladas para distrair os
pássaros. Os diretores e o roteirista, pegando esse conceito de ilhas,
monarquias e navegações querem forçar um paralelo com os períodos da descoberta
do Novo Mundo – conceitualmente interessante, na prática se trata de uma visão
torpe.
Quando o filme caminha para seu
terceiro ato, o roteiro melhora assim como a direção cinematográfica se torna
mais inventiva e interessante. Com os pássaros partindo para a ilha dos porcos,
vemos a mecânica do jogo fazer parte efetivamente da narrativa. É algo
surpreendentemente divertido e bem pensado, mas graças à repetitividade se
torna exaustiva. Interpolando nessa sequência destinada à homenagem ao
aplicativo, volta o humor caricato típico diminuindo a qualidade novamente.
Muitas referências gratuitas que não funcionam em praticamente nada. Há até
mesmo (mais uma) piada clichê envolvendo O
Iluminado.
Aliás é impressionante como esse
filme é tão ordinário nisso. Suas piadas são clichês, suas reviravoltas são
clichês, seus personagens são clichês. Tudo previsível a qualquer um que tenha
o mínimo de uma boa variedade de filmes na memória. A mensagem do fim do filme
também não poderia ser pior, pois transmite algo que pode ser interpretado como
genocídio de inocentes – ainda que seja no sentido figurado e amenizado pela
atmosfera sempre distraída e “cômica” dos porquinhos. Com esse clímax
narrativamente deturpado, Red nunca sofre sua transformação na jornada. O
espectador apenas ganha uma boa cena de ação.
Além do humor, os diretores
conseguem errar na quantidade abusiva de canções que invadem e somem das cenas
sem a menor sutileza. São tantas que tornam algumas sequências em verdadeiros
videoclipes. Por mais que as músicas sejam boas, se trata de mais um recurso
rasteiro para preencher tempo nos espaços que claramente são deficitários em
história. Também há o uso caricato da sonoplastia que podem tirar sua atenção
do filme.
Justiça seja feita, por pior que
seja o conteúdo de Angry Birds, em
termos plásticos ele é um sucesso. É uma das mais belíssimas animações feitas
em computação gráfica até agora. Os enquadramentos evocam bastante do cenário
paradisíaco da ilha, além de sempre enfatizarem bem a muito utilizada linguagem
corporal dos personagens. Já os pássaros são riquíssimos em detalhes, expressam
vida com a diversidade de reações faciais, pelo brilho dos enormes olhos, além
do cuidado com a penugem de cada um que reagem apropriadamente à física e
efeitos de colisão. O design de cada um também é bem adaptado, permanecendo a
forma oblonga tão característica dos bichinhos que eram tão mais carismáticos
quando calados.
Angry Birds: O Filme é um infortúnio cinematográfico. Com tantas
animações infantis extraordinárias que constituem um repertório exemplar para
novas gerações de crianças é praticamente impossível recomendar essa obra. Nada
em sua concepção consegue ser minimante original, tirando o clímax que traz o
único bom momento da projeção. Seu humor é grosseiro demais e não sabe qual
faixa etária que atingir por conta dessa esquizofrenia entre tantas referências
pop que novatos não vão captar e com as piadas tão fracas e clichês que
provavelmente não farão nenhuma criancinha rir. Nem mesmo há uma bela história
para sustentar sua existência. A mensagem não edifica, os personagens não
cativam por serem histéricos demais e tomarem decisões por vezes injustificadas
ou irracionais. Há somente o universo muito colorido, vibrante repleto de
belíssimas imagens e a técnica impecável dos animadores em trazerem os
passarinhos à vida nos cinemas pela primeira vez nos cinemas.
É de se lamentar por terem feito
tamanha besteira com personagens que poderiam originar verdadeiras fontes de
trabalho criativo. Infelizmente, a franquia Transformers
está aí para provar que filmes não vivem somente do visual apurado, mas sim
de substância.
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