Gênero:
Drama, Suspense
Diretor: John Madden
Roteiro: Jonathan Perera
Elenco: Jessica Chastain, Mark Strong, John Lithgow, Gugu Mbatha-Raw
Distribuidora: Paris Filmes
Data de Lançamento: 02 de fevereiro de 2017Duração: 2h 09min.
Classificação:
Sinopse: A história de Elizabeth Sloane (Jessica Chastain), poderosa estrategista política que arrisca sua carreira a fim de passar com sucesso uma emenda com leis de controle de armas mais rígidas.
Crítica
A função
de lobista comparada a de um agente secreto.
Jonathan Perera constrói muito
bem seu roteiro que promove a ideia de um jogo vicioso em Washington D.C.: para
vencer, a personagem principal deve estar sempre um passo à frente. Dirigido
por John Madden - cuja obra mais famosa Shakespeare Apaixonado, 1998, concorreu
a treze categorias e foi vencedor de sete Oscars -, nos leva ao jogo político
americano já conhecido como o da série House of Cards, só que através de uma
função muito pouco explorada, o lobby.
A trama apresenta Elizabeth
Sloane (Jessica Chastain) como uma das lobistas mais renomadas dos Estados
Unidos. Sloane é um dia abordada para apoiar a bancada mais poderosa do
congresso americano, a bancada a favor da liberação de armas, para a aprovação
de uma lei mais branda em relação à compra de armas. Rodolfo Schmidt (Mark
Strong), chefe de uma outra agência de lobby, ao perceber que ela é contrária a
essa lei, faz um convite para que ela vá trabalhar para o lado oposto. Ao
entrar no “jogo”, buscando suas ambições pessoais e profissionais, Sloane começa
a sofrer uma série de ameaças.
O filme em si é surreal;
inteligente, mas surreal. Todo o conjunto da obra, desde o movimento de câmeras
a enquadramentos, desde figurinos às atuações, nos remete aos filmes de agente
secreto, como 007, Missão-Impossível e muito mais. A personagem principal
então, nem se fala. Ela é a verdadeira fusão de personagens conhecidos, desde
James Bond a Hitman, com uma pitada de humanóide, como em O Exterminador do
Futuro. Ela não tem o que todo agente secreto precisa não ter: não tem família,
não tem amigos, não tem namorados, não tem uma vida além do trabalho. Elizabeth
Sloane é uma mulher (talvez até uma máquina com uma
superinteligência-artificial) manipuladora, estrategista, sem emoções, sem
sentimentos e cheia de truques.
As cores do filme são quase que
na totalidade escuras, com tons que vão do azul para o preto. As cenas também
se passam em sua maioria em ambientes internos, as atuações e os movimentos de
câmeras se completam onde muitas vezes as expressões faciais e olhares nos
despertam a intenção e o sentimento dos personagens.
Toda a construção narrativa
explora com inteligência as regras do suspense e do drama. No início as
explicações políticas são bastante apressadas e podem deixar o espectador
confuso, porém a montagem é tão bem orquestrada que ao decorrer da trama tudo é
digerido, deixando até o mais leigo a par de toda situação.
A obra nos mostra o lado obscuro
da política norte-americana de forma ficcional um pouco forçada, porém
aceitável, que vai desde o conflito de interesses aos escândalos de corrupção,
entre outros crimes. Curiosamente nos faz refletir sobre a ética e a moral, nos
forçando a torcer por um personagem que usa métodos questionáveis para atingir
seus objetivos.
“ Os fins justificam os meios?” - Maquiável, adaptado.
Ademais, Armas na Mesa é um filme
de cunho iminentemente político que é ousado o suficiente para tocar em uma das
questões mais delicadas nos EUA com maestria, o livre comércio de armas. O
argumento do filme gira em torno da interpretação da segunda emenda da
Constituição americana, que assegura o direito de cada cidadão possuir e portar
armas por entender ser necessário à segurança de um Estado livre.
“Leis são como salsichas. É
melhor não ver como elas são feitas" - Otto Von Bismark.
Aqui podemos ver como o poder
decisório, mesmo em um estado democrático, se encontra descentralizado e pode
ser manipulável por grupos de interesse; aspectos da política que ficam
escancarados podendo até mesmo chocar os mais ingênuos. A mídia, a publicidade,
o poder político, a força econômica das grandes corporações e a opinião pública
são cartas sem valor definido no jogo do poder, a cada rodada um pode se
valorizar, cair de valor ou induzir o jogador que superestima ou subestima
qualquer uma delas a uma derrota.
A história pessoal de Elizabeth
Sloane, personagem de nome homônimo ao filme não por acaso, é inspiradora ao
apresentar uma personagem que sobretudo é forte. A atuação nervosa de Jessica
Chastain retrata de forma visceral uma mulher que ascendeu sua influência em um
campo dominado por homens (a política) e que por seus interesses é capaz de
enfrentar adversários poderosos sem receios. Ela atua como uma força da
natureza, nos presenteando com todas as nuances de uma personagem complexa. O ponto
de vista feminino está presente como pano de fundo, concentrando em uma segunda
camada significados mais amplos e novos questionamentos.
O filme possui seus méritos no
âmbito da lógica cinematográfica, é uma peça rara que deve ser visto e não esquecido
dentro de uma tendência por filmes de heróis ou pela próxima sequência de
Star-Wars.
Por: Matheus Santana & Lucas Nascimento dos Santos
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