
Em meio às produções de tamanho relevo na temática racial que surgiram nos últimos anos (Eu não sou o seu Negro, Cara gente branca, o oscarizado Monnlight e a amada série do povo brasileiro, Todo Mundo Odeia o Chris), Corra! vem abordar a questão do preconceito e conflito racial, questão tão latente nos Estados Unidos nessa última década, por meio de um conto de terror muito bem orquestrado por um comediante(!), isso mesmo, Jordan Peele, roteirista e diretor do filme é um comediante, mas esse artista tão habituado a causar risos em suas plateias agora nos presenteia com uma obra terrificante, que nos causa não apenas medo, mas indignação.
A aguda percepção de Peele mescla com inteligência a metáfora, a simbologia das ações e um humor próprio para garantir ritmo à narrativa. A cereja do bolo sem dúvidas é o surpreendente humor, equilibrando a dose de suspense e tensão sem quebrar o clima do filme. Um aviso aos navegantes: mesmo aqueles que não estejam familiarizados com a língua inglesa, é recomendável assistir em sua língua original, pois ao longo do filme é perceptível o uso do chamado 'black english', uma forma peculiar de uso da língua que é própria de comunidades afro-americanas nos EUA, e isso torna a experiência mais completa.
O time de atores cumpre bem o seu papel, havendo atuações propositadamente teatrais (exageradas para o cinema) que são feitas com primor. Destaco a atuação de Lil Rel Howery, que rouba a cena com seu humor sagaz, o aflito Daniel, com suas expressões carregadas de uma espécie de melancolia e auto controle e a estreante Allison Willians, que prova que também pode brilhar nas telonas.
A crítica que marca o filme chega ao seu ponto maior no clímax do filme e a sua conclusão não fica solta nem aberta no final. O que fica no espectador é uma sensação de sufoco durante todo o filme, com uma catarse que pode vir ou não, mas que se revela na reflexão, que é proposta ao espectador e não dada de bandeja. Não falar nada objetivamente e dizer tudo claramente é a maior mágica de Corra!.
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